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domingo, 2 de junho de 2013

Lembranças do Passado - 03 de Junho de 2013

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Quem vê hoje Mossoró agitada e violenta, não imagina como ela era no passado. Uma calma, bucólica e tranquila cidade onde o povo conversava nas calçadas, em rodas de amigos, vez por outra degustando um quente e saboroso cafezinho servido pelos anfitriões. Como registrou Raul Fernandes, “tesouravam a vida alheia, engrossavam mexericos, alardeavam boatos e criticavam políticos, horas a fio”. Vamos fazer uma viagem ao passado, vamos rever Mossoró nos primeiros anos do século XX, através das reminiscências de dois grandes da cultura local que foram os escritores Raul Fernandes e José Octávio. Vamos lembrar a Mossoró que eles conheceram.


Naquela época, o comércio já era movimentado, mas as mercadorias eram transportadas em carro de boi ou em lombos de muares, levando tudo o que o sertão comprava em mercadorias mais variadas e trazendo algodão, as peles e demais produtos regionais dos sertões cearenses e paraibanos.
               
Existiam grandes lojas comerciais, como: Casa Mota, Cavalcante Irmãos, Delfino Freire, Francisco Marcelino, a casa bancária S. Gurgel, Monte Primo, Camilo Figueiredo, a grande firma exportadora M. F. do Monte, além de dezenas de outros comerciantes que enchiam as então ruas do Comércio, Praça 6 de Janeiro, rua Gurgel e suas transversais.
               
Possuía o maior parque salineiro do País. Três firmas descaroçavam e prensavam algodão. Era centro comprador de peles, algodão e cera-de-carnaúba. Exportava pelo Porto de Areia Branca.
               
Circulavam jornais como “O Comércio de Mossoró”, onde o Cel. Bento Praxedes, Dr. Felipe Guerra e outros vultos proeminentes da terra publicavam as suas matérias. O jornal “O Mossoroense” já se destacava nas suas lutas políticas e se constituía numa verdadeira escola de jornalismo. Em suas páginas, os grandes da terra deixaram seus escritos. No campo artístico, existiam duas bandas de música que animavam os principais eventos da cidade, o Club Dramático, o Instituto 2 de julho (Clube Literário), o Democrático Club, escolas de piano, violino e música de banda. O folclore mantinha presente fatos distanciados que impressionavam a região. A canção Corujinha evocava o lendário e romântico cangaceiro Jesuíno Brilhante, dos idos de 1876. A música mais conhecida era a melodia Vassourinha, com letra adaptada à campanha política contra a oligarquia dos Maranhão. Havia poetas e literatos como Antônio Gomes, Vasconcelos, Tércio Rosado, maestros como Alpiniano e Canuto. Na arquitetura existia o grande artista do estuque, do cinzel e da pintura, o famoso Francisco Paulino, cujas obras de arquitetura desafiam os tempos como a Estátua da Liberdade de Mossoró, o Monumento da Independência, e os frontispícios de algumas igrejas e prédios.
               
O casario apresentava delicioso tom de colonial, nas palavras de Raul Fernandes. Haviam bicas imitando bocas de onça e jacaré que pendiam das cornijas. Jorravam águas pluviais nas calçadas, onde a meninada se banhava em larga recreação, gazeando aulas. Aos primeiros sinais de inverno, a população regozijava-se. Com certeza, haveria fartura próxima. Em compensação durante os longos períodos de seca, a cidade enchia-se de flagelados.
               
A energia elétrica alimentava várias indústrias nascentes. Em 1926 já havia uma agência do Banco do Brasil, que era o único estabelecimento de crédito da região.
               
Já no início dos anos 20, a cidade era ligada ao litoral por estrada de ferro que se estendia ao povoado de São Sebastião, atual município de Governador Dix-sept Rosado, na direção Oeste, percorrendo quarenta e dois quilômetros. Estradas e rodagens convergiam de vários recantos, sulcadas por caminhões que, aos poucos, substituíam as bestas de carga. Uma delas internava-se, cortando essa faixa, até os confins do Sertão da Paraíba.
               
Outros tempos aqueles. Mossoró é uma das cidades que mais cresce no Brasil. O sal, o petróleo e a fruticultura irrigada são os sustentáculos de sua economia. Segundo pesquisas da Fundação Getúlio Vargas e revista “Você S/A”, Mossoró está entre as 100 melhores cidades para trabalhar. Em 2004, por exemplo, a cidade saltou da 80ª colocação para a 20ª, superando Natal e Fortaleza. Mas é uma cidade que cultua sua história através de seus museus e dos grandes espetáculos encenados anualmente. E assim, passado e presente convivem em harmonia nessa cidade protegida por Santa Luzia, a Virgem da Eterna Claridade Visual.

Geraldo Maia do Nascimento

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Fonte:

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