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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Lampião e outras histórias - Os coronéis do sertão


Por Doizinho Quental


Os coronéis do sertão foram figuras lendárias de título adquiridos através do peso do ouro. Homens rudes, de pouquíssimas instruções, contudo, tinham força política e administravam os seus bens  com austeridade.
             
Viviam em casas de fazenda rodeados de “cabras,” que lhe garantiam o poderio, ministrados com autoridade e arrogância. Estes homens, a quem ele garantia a vida de qualquer forma, eram considerados fiéis a toda prova, mostrando, em determinadas ocasiões, que dariam a vida para salvar o coronel. Por esta e outras razões, estes “cabras” não demoravam nas cadeias, sendo libertos imediatamente por ordem expressa do todo poderoso. E tinha mais, nenhum delegado ou juiz era nomeado sem a sua permissão.
            
Foram grandes latifundiários, proprietários de muitas terras devolutas, onde nada se realizava sem o seu consentimento. Ricos, a eles pertenciam as melhores fazendas. Comerciavam de diversas e múltiplas formas. Possuíam engenhos de rapadura, pequenas indústrias de beneficiar algodão e casas comerciais.

O rico senhor, geralmente descendente de Português, foi respeitado por todos. Para qualquer festa de batizado ou de casamento que acontecesse, ele tinha de ser o primeiro convidado de honra. Se isto não acontecesse, os organizadores das festas ficavam sob sua mira, uma vez que ele considerava desfeita. Esta força social e econômica constituía herança do tempo do Brasil colonial.
 
As questões eram solucionadas  simplesmente através do bacamarte ou do rifle “cruzeta”, como escreveu Antônio Bezerra: “ Os homens mais influentes pela posição e pelo dinheiro percorriam, com bandos armados, da serra ao vale e do vale à serra, decidindo de tudo e sobre tudo a lógica do bacamarte.”

Afoitos e mandões, não respeitavam nem delegado nem juiz. Naquele tempo valia mais o direito da força do que a força do direito.

Nenhum empregado seu se dava o luxo de esquentar o banco dos réus. A sentença vinha da sua própria boca: “cabra meu num esquenta cadeia!”

A prepotência era uma marca registrada dos coronéis do sertão.

Conta-nos Aglae Lima de Oliveira em seu livro “Lampião, cangaço e Nordeste”, edição de 1970, o seguinte fato, para demonstrar o poderio  deles.

As empregadas tremiam de medo ao abordar as senhoras dos coronéis.

Certa feita, uma senhora de engenho empregou uma mocinha para os serviços caseiros. A sua primeira recomendação foi a seguinte: 

- A partir de agora tudo que você for  chamar aqui nesta casa tem o nome de senhora ou dama, ouviu?

- Inhora sim!
             
No outro dia o gato da casa defecou na sala de visitas. A garotinha procurou a vassoura por todos os lugares, andando de um lado para outro fazendo barulho, sem, contudo encontrá-la. A dona da casa incomodada com tanto barulho pergunta:

- Ama? 

- Inhora.

- Que procuras tanto, andando de lá para cá?

- Inhora, eu procuro a dona vassoura, pra mode varrer a dona merda, qui a dona gata, cagou na dona casa!


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Um comentário:

  1. Anônimo19:06:00

    Este é um CONTO bem divertido da produção do historiador Quental, meu caro Mendes.
    Antonio Oliveira - Serrinha

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