Por Doizinho Quental
Os
coronéis do sertão foram figuras lendárias de título adquiridos através do peso
do ouro. Homens rudes, de pouquíssimas instruções, contudo, tinham força
política e administravam os seus bens
com austeridade.
Viviam
em casas de fazenda rodeados de “cabras,” que lhe garantiam o poderio,
ministrados com autoridade e arrogância. Estes homens, a quem ele garantia a
vida de qualquer forma, eram considerados fiéis a toda prova, mostrando, em
determinadas ocasiões, que dariam a vida para salvar o coronel. Por esta e
outras razões, estes “cabras” não demoravam nas cadeias, sendo libertos
imediatamente por ordem expressa do todo poderoso. E tinha mais, nenhum
delegado ou juiz era nomeado sem a sua permissão.
Foram
grandes latifundiários, proprietários de muitas terras devolutas, onde nada se
realizava sem o seu consentimento. Ricos, a eles pertenciam as melhores
fazendas. Comerciavam de diversas e múltiplas formas. Possuíam engenhos de
rapadura, pequenas indústrias de beneficiar algodão e casas comerciais.
O
rico senhor, geralmente descendente de Português, foi respeitado por todos.
Para qualquer festa de batizado ou de casamento que acontecesse, ele tinha de
ser o primeiro convidado de honra. Se isto não acontecesse, os organizadores
das festas ficavam sob sua mira, uma vez que ele considerava desfeita. Esta
força social e econômica constituía herança do tempo do Brasil colonial.
As
questões eram solucionadas simplesmente
através do bacamarte ou do rifle “cruzeta”, como escreveu Antônio Bezerra: “ Os
homens mais influentes pela posição e pelo dinheiro percorriam, com bandos
armados, da serra ao vale e do vale à serra, decidindo de tudo e sobre tudo a
lógica do bacamarte.”
Afoitos e mandões, não respeitavam nem
delegado nem juiz. Naquele tempo valia mais o direito da força do que a força
do direito.
Nenhum empregado seu se dava o
luxo de esquentar o banco dos réus. A sentença vinha da sua própria boca:
“cabra meu num esquenta cadeia!”
A
prepotência era uma marca registrada dos coronéis do sertão.
Conta-nos
Aglae Lima de Oliveira em seu livro “Lampião, cangaço e Nordeste”, edição de
1970, o seguinte fato, para demonstrar o poderio deles.
As
empregadas tremiam de medo ao abordar as senhoras dos coronéis.
Certa
feita, uma senhora de engenho empregou uma mocinha para os serviços caseiros. A
sua primeira recomendação foi a seguinte:
- A partir de agora tudo que você
for chamar aqui nesta casa tem o nome de
senhora ou dama, ouviu?
- Inhora sim!
No
outro dia o gato da casa defecou na sala de visitas. A garotinha procurou a
vassoura por todos os lugares, andando de um lado para outro fazendo barulho,
sem, contudo encontrá-la. A dona da casa incomodada com tanto barulho pergunta:
- Ama?
- Inhora.
- Que procuras tanto, andando de
lá para cá?
- Inhora, eu procuro a dona
vassoura, pra mode varrer a dona merda, qui a dona gata, cagou na dona casa!
www.kantabrasil.com.br/Lampiao.../Lampião%20e%20outras%20Históri...
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Este é um CONTO bem divertido da produção do historiador Quental, meu caro Mendes.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha