Por Clerisvaldo B.
Chagas, 30 de dezembro de 2013 - Crônica Nº
1114 (Inédito)
O assassino,
bandido, gênio militar, Lampião, gostava de cortar caminho por Alagoas. O costume
era entrar pela região serrana do estado ─ Mata Grande e Água Branca ─ e depois
seguir por um dos dois roteiros: descia em direção ao rio São Francisco e dali
subia para Pernambuco, entre Cacimbinhas e Palmeira dos Índios ou descia dos
dois municípios primeiros e tirava direto. Quer dizer, marchava pelo raso de
caatinga que correspondia a Inhapi, Carié, Olho d’Água do Chicão (atual Ouro
Branco), até Águas Belas e região do Pau Ferro (hoje Itaíba). Naqueles lugares
tinha protetores de peso como os coronéis Audálio e Gerson Maranhão.
A três léguas
do Pau Ferro, no sítio Saco, morava o senhor João Leite de Carvalho e sua
esposa Maria Leite de Carvalho. Quando precisava, o senhor João ajudava no
trabalho da fazenda Angico Torto, de Gerson Maranhão.
Quando
Virgolino se separava da companheira, Maria Bonita acoitava-se na casa do
senhor João Leite, onde nunca lhe faltou nada. Mas Lampião não conhecia João
Leite que por ser gago e tato, também era conhecido como João Gago.
Certa feita
João foi ao mato extrair varas para fazer uma casinha de taipa. Durante o seu
trabalho foi cercado por um grupo de Virgolino Ferreira, comandado por ele
mesmo. O chefe prendeu imediatamente o agricultor e começou a interrogá-lo.
Gago e tato e ainda mais, nervoso, o senhor João com sua fala emperrada,
distorcida e incompreensível, irritava Lampião que pensava que o homem estava
espionando a área para levar informações às volantes. Então, o bandoleiro
começou a bater no agricultor, aplicando-lhe tremenda surra com a folha do punhal.
O gago durante o aperreio gritava que “parasse com aquilo, Lapial!”. Quanto
mais implorava, mas Lampião batia.
Maria Bonita
que estava na casa do agricultor, ouviu os gritos, justamente com as outras
pessoas, quando dona Maria Leite disse correndo em direção à mata: “Aquilo é
João e eu vou lá”. Quando Maria Bonita riscou em cima da bagaceira, berrou para
o amante que não batesse no homem que a vítima era o dono da casa onde ela
costumava se hospedar. Lampião ficou atônito, guardou o punhal e ele mesmo disse:
“Pois ele escapou por um triz, já ia sangrá-lo”.
João Gago
viveu muito tempo ainda e, dentro do seu conformismo, continuou agora servindo
aos dois, Maria Bonita e Lampião.
O neto do
senhor João Leite, Lourival Carvalho, contou o episódio, mas não soube dizer se
depois das lapadas de punhal o gago conseguiu o milagre de ficar bom da
língua.
* IMPRESSÃO EM LIVRO SÓ COM AUTORIZAÇÃO DO AUTOR. DIREITOS AUTORAIS.
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Como sempre caro Mendes, todas matérias sobre o cangaço são importantes para quem está escrevendo sobre tal tema. Contudo, note uma coisa: o autor deste texto proibe fazer uso do mesmo sem sua autorização. Dou-lhe razão - não resta dúvida -, mas os textos que escrevo dou plena liberdade para os leitores fazerem uso dos mesmos, apenas informando a origem.
ResponderExcluirAbraços,
Antonio Oliveira - E-mail: antonioj.oliveira@yahoo.com.br