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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

CANGAÇO E CANGACEIROS: HISTÓRIAS E IMAGENS FOTOGRÁFICAS DO TEMPO DE LAMPIÃO - Fotografia e História


Marcos Edílson de Araújo Clemente*
Universidade Federal do Tocantins – UFT
marceddilson@yahoo.com.br


Detalhemos a fotografia. Maria Bonita sentada, pernas cruzadas, cabelos cuidados, tom sereno, segurando dois cães em pose fidalga. O equipamento alemão – máquina Ica de última geração, da Karl Zeiss, 35 mm, contendo um maço de filmes  Gevart Belgium – focaliza Lampião que está ao lado dela, em pé, olhos fixos na câmera, tendo em mãos um exemplar de um jornal, provavelmente A Noite Ilustrada.

A imagem fotográfica sugere uma imagem de Lampião como leitor e mais especificamente leitor de Noite Ilustrada. Sugere ainda possíveis relações do fotógrafo Benjamin Abrahão com a imprensa do Rio de Janeiro, haja vista a existência de outras fotografias em que Lampião aparece segurando um exemplar de O Globo. Aliás, desde o século XIX havia se instalado entre os fotógrafos a prática de se fotografar pessoas que portavam às mãos algum objeto, inclusive livros. Percebe-se a encenação em ambiente natural, a pose seguida das representações para a posteridade, plena de sentido e recursos cenográficos. Esta foto fornece pistas da relação dos cangaceiros com o mundo dos negócios e da comunicação, indicando que o documento fotográfico esconde atrás de si uma história cuja intencionalidade deve ser esclarecida. 

Donde a necessidade de analisá-lo como monumento e como documento. Enquanto monumento, a fotografia é uma escolha das forças atuantes no real, uma herança do passado; enquanto documento, é uma escolha efetuada pelo historiador. 

Marc Ferro propõe partir das imagens, mas “[...] não procurar somente nelas exemplificação, confirmação ou desmentido de um outro saber, aquele da tradição escrita. Considerar as imagens tais como são, com a possibilidade de apelar para outros saberes para melhor compreendê-los”.32

A análise das imagens fotográficas requer a distinção entre os conceitos de iconografia e de iconologia. A análise iconográfica inventaria o conteúdo das imagens em seus elementos icônicos formativos. A análise iconológica, por sua vez, busca o significado intrínseco do documento fotográfico e refere-se à realidade interior, o significado intrínseco de uma imagem. Para ultrapassar o realismo fotográfico é necessário desenvolver as análises iconológicas, levando-se em conta as representações

32 FERRO, Marc. O filme: uma contra-análise da sociedade? In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. (Dir.). História: Novos Objetos. Tradução de Terezinha Marinho. Rio de Janeiro: Francisco Alves, p.
203. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais
Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2007 Vol. 4 Ano IV nº 4
ISSN: 1807-6971
Disponível em: www.revistafenix.pro.br
18 e as práticas culturais construídas em torno delas e por meio delas. Para o caso das imagens fotográficas do cangaço, vimos que diferentes sujeitos atuam com representações distintas nos processos de produção, reprodução e recepção das imagens. 

http://www.revistafenix.pro.br/PDF13/DOSSIE_%20ARTIGO_13-Marcos_Edilson_de_Araujo_Clemente.pdf
Revista de história Estudos culturais
 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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