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segunda-feira, 19 de maio de 2014

BANDIDOS E CANGACEIROS CRIMINOSOS QUE INTRANQUILIZARAM SIMÃO DIAS LAMPIÃO EM SIMÃO DIAS


... A não ser estes fatos isolados, Simão Dias não conhecia façanhas de valentões e cangaceiros, senão pela leitura de livretos com historietas populares em versos, vendidos nas feiras, cujas ações e façanhas também tinham por cenário os longínquos sertões do Ceará, Paraíba e Pernambuco, onde se celebrizaram Antonio Silvino, Lampião e outros.

A cidade e seu município viviam na mais completa tranqüilidade, sem notícias de bandidos.

No ano de 1928, surgiu, no nordeste baiano, o famigerado bando de Lampião, assaltando fazendas e povoações, matando, roubando, violentando mulheres, e impedindo o desenvolvimento da produção em todos os setores.

Um sistema de espionagem, desconhecido, inteligente e impressionante, surgiu, de um momento para outro, em toda a região. Era o chamado “coiterismo”, enchendo de pavor as populações rurais. As fazendas, roças e sítios, foram abandonados pelos indefesos camponeses.


As correrias do temível bando iam, cada dia mais, se aproximando de Simão Dias.
A população da cidade, de índole pacífica, desconhecendo lutas dessa ordem, vivia sobressaltada, mas de algum modo confiada no destacamento policial, preventivamente reforçado.

O desassossego cresceu quando o destacamento foi recolhido, mobilizado em face da revolução desencadeada no país, na madrugada de 3 de outubro de 1930.

Desguarnecida, Simão Dias seria presa fácil para Lampião e seus sequazes. Na manhã do dia 17 de outubro de 1930, a cidade foi sacudida por um telegrama recebido pelo coronel Felisberto Prata, alto comerciante da praça, comunicando a tentativa de assalto à cidade de Capela, pelo bando, e a partida de mesmo em direção a este município.

Começou o êxodo, a princípio ordenado, apenas para os que dispunham de transportes motorizados; logo mais, com a chegada de notícias do assalto à vila do Pinhão, distante quatro léguas, estabelecendo-se verdadeiro pânico. As famílias, desordenadamente, partiam para os matos, com suas improvisadas trouxas.

Cerca das 15 horas, os bandidos se aproximavam da cidade, infundindo maior terror.

Às 16 horas, foi improvisada uma resistência. O Dr. Marcos Ferreira; o ex-aluno da Escola Militar, Antônio Carmelo, e o autor deste trabalho, chefiavam o movimento, constituindo o seu “Estado-Maior”.

A mobilização foi rápida e sem atropelos. Os mais diversos tipos de armas, obsoletas em sua grande maioria, apareceram num instante: revólveres de diversas marcas, pistolas, garruchas, espingardas de caça dos mais variados feitios e calibres, velhos trabucos, bacamartes de festejos juninos etc.

Uma notável disciplina, entre os voluntários, enchia de entusiasmo e confiança os três homens do Estado-Maior. Reunido este, concertando os planos para a defesa da cidade, eis que chega o primeiro ultimato de Lampião. Era portador da mal-escrita mensagem, o agricultor Fausto José da Conceição, conhecido por Fausto Dodô, homem morigerado, que trazia no semblante a aflição por ter deixado um seu filho menor, o jovem João Conceição Neto, prisioneiro, como refém dos bandidos. Simão Dias deveria cotizar-se e mandar o dinheiro exigido, sob pena de ser assaltada imediatamente.

A intimação, ao invés de desanimar os locais, encorajou-os para a luta, que seria desigual, dada a inexperiência dos defensores.

Uma segunda intimação vinha de mais de perto, da “Ladeira de Pedras”, onde o bando se encontrava, olhando para a cidade.

Esta nova intimação levou os defensores a ocupar os seus lugares. As platibandas das casas residenciais, ou comerciais, as esquinas, os becos, os montes de pedras ou de material de construção, tudo servia de trincheira aos da resistência. Em dado momento o silêncio foi quebrado. Ouviu-se um tiro, que pareceu ter sido disparado lá para os lados da “Ladeira de Pedras”, onde se encontravam os bandidos. Nisso o corajoso Manuel Oliveira, vulgarmente conhecido por Manuel dos Motores, que chefiava a um pequeno grupo, foi levado a uma temeridade providencial. À frente dos seus rapazes, tomou a ofensiva, marchando direto para o lugar onde os bandidos se achavam. Precipitadamente, o grupo fez fogo antes de atingir distância para o alcance de suas armas. Foi o estopim. De todos os pontos da cidade, dos telhados, das esquinas, de todos os lados, enfim, partiam tiros e tiros, num pipoquear formidável dos mais diversos tipos de armas, disparadas a esmo. Verdadeiro desperdício de munição. Mas esta imprudência levou o bando assaltante a acautelar-se. Lampião não contava com “coiteiros” que lhe expusessem a verdadeira situação da resistência, e não quis atrever-se a entranhar-se nas estreitas ruas, perigoso labirinto que desconhecia.

Houve a retirada para o interior, a tudo levando de roldão, num requinte de perversidade.

Ao passar pelo sítio Olhos d’Água, o bando infrene espantou famílias ali desconhecidas, que correram de volta.

À meia-noite em ponto, o lúgubre silêncio da cidade escura foi quebrado por um disparo partido de um mata-burro, na estrada de rodagem, que servia de linha-avançada dos defensores.

Atordoadas, as famílias fugitivas não compreenderam a senha que se pedia da trincheira, avançando precipitadamente de encontro à mesma. Uma infeliz senhora, em adiantado estado de gravidez, foi fulminada por uma bala que partira da resistência, num evidente erro de fato. Também o disparo casual de uma arma conduzida por um dos rapazes de Manuel dos motores fulminou outra mulher.

Com a retirada dos bandidos para o interior, mesmo assim a intranquilidade permaneceu, pois, conforme se sabia, a retaguarda do “capitão” era sempre coberta pelo seu lugar-tenente, o temível Corisco, à frente de bando menor, mas igualmente destro e perverso.

Corisco, porém, não viria, pois que fora também obrigado a acautelar-se, com a experiência de seu ataque ao sítio de Porfírio Chagas, na Caraíba. Porfírio, setuagenário valente, sozinho em sua residência, com um rifle “papo-amarelo”, recebeu o grupo de Corisco à bala, com bastante ânimo para resistir. Fugiram os assaltantes. Deixaram marca de sangue nas estradas.

Os bandoleiros, anos a fio, mantiveram a intranquilidade em todo o município, obstando o desenvolvimento da produção. O comércio de Simão Dias sofreu as desastrosas conseqüências do “ciclo lampiônico”.

Com a vitória da revolução de 1930, nomeado Interventor Federal em Sergipe o bravo militar revolucionário Augusto Maynard Gomes, todas as garantias foram dadas às populações, até o completo extermínio do cangaceirismo na região.


Texto extraído do livro “Simão Dias – Fragmentos de sua História”, de CARVALHO DÉDA, advogado, jornalista e político baiano (vide resumo biográfico do autor).

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho‎

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo14:08:00

    Caro Mendes, foram tantas suas postagens neste dia VINTE que, por está chegando de Feira de Santana não tive tempo para verificá-las. Como sempre passei para o HD para depois ler cuidadosamente.
    Abraços,
    Antonio Oliveira

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