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domingo, 25 de maio de 2014

Café. O ouro negro em grãos

Por José Mendes Pereira

Nas décadas de 50 e 60, e estendendo-se até o início da década de 70, café era considerado o "ouro negro em grãos", devido o seu alto custo, talvez pela redução da colheita. Como o preço era altíssimo, muitos proprietários de caminhões enganavam o governo trazendo o produto para o Nordeste sem o pagamento dos impostos, a chamada venda contrabanda. 

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Na década de 60, mais ou menos no início desta, o meu pai ainda morava em terras alheias, mas não era vaqueiro do fazendeiro, apenas plantava, criava seus animais sem nenhum compromisso com o proprietário. Naquela época transportar café sem o pagamento de impostos, para muitos era um bom negócio, e assim traziam café pelas rotas que não passavam pelas alfândegas.


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Um senhor que não tinha nenhum vínculo com a propriedade, mesmo assim ludibriou o fazendeiro para guardar feijão, milho, arroz, farinha... em um dos seus armazéns, lugar onde era batida as palhas das carnaubeiras para a extração do pó, e neste período, o armazém estava vazio, ainda não havia iniciado o corte de palhas das carnaubeiras.


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Ciente de que seria mesmo legumes o proprietário aceitou a solicitação, enviando ao meu pai a autorização da entrega da chave do armazém ao homem, para que ele armazenasse seus legumes. Mas o certo é que o homem não guardava legumes, e sim, trazia café contrabandeado e o guardava no armazém, que geralmente chegava altas horas da noite, com o seu caminhão carregado com o produto ilegal, acompanhado de alguns ajudantes para a descarga.

Assim que o meu pai descobriu que não se tratava de feijão, milho..., e sim de sacas e mais sacas de café, não gostando daquela arrumação  e não querendo contar ao proprietário o que o homem estava escondendo em seu armazém, e temendo ser preso por estar escondendo a mercadoria ilegal, apavorou-se, resolveu sair da propriedade. Alguns vizinhos até o alertaram que ele estava correndo o risco de ser chamado à justiça, para prestar depoimento de quem era aquele produto.

O meu pai estava preocupado, e de imediato conversou com minha mãe, sobre uma possível compra de uma propriedade, só assim se livraria daquilo que o  incomodava no momento, já que ele não era homem de se aproveitar do que não era dele. E de imediato, dirigiu-se a minha mãe dizendo-lhe:

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- Dona Antonia (como o meu a chamava), não podemos mais viver aqui. Descobri que o homem não está guardando no armazém cereais, e sim café. E eu não vou ficar escondendo roubos de ninguém. A solução será nós procurarmos outra propriedade para morarmos, ou desfazermos dos nossos animais para comprarmos nem que seja uma linguinha de terra.

Se o meu pai estava preocupado, igualmente minha mãe, que muito o incentivou a negociação da terra dizendo-lhe: 

- Pedro, nós precisamos sair daqui o quanto antes. Não é justo que você venha pagar um preço caro por ilegalidade dos outros.

O meu pai respondeu-lhe que concordava. E a partir daí,  ficou desesperado. Precisava sair o quanto antes dali. Nunca fora preso, nunca fora chamado em posta de delegacias, e agora estava sujeito a visitar um delegado, uma  casa que prende...

 Manoel Duarte - irmão de Lili Duarte

Mas para tudo há um jeito. Por sorte, Luiz Duarte, irmão de Manoel Duarte, o matador do cangaceiro Colchete, tinha duas propriedades. A primeira herdada quando a  sua mãe Inácia Vicência Duarte falecera.


 Inácia Vicência Duarte - primeira esposa do fazendeiro Chico Duarte

E a segunda recebera de herança do seu pai Francisco Duarte Ferreira, um dos maiores latifundiários de terras ao lado leste da cidade de Mossoró. E como o Lili Duarte não precisava de duas terras na mesma localidade (Barrinha), ele resolveu por uma delas à venda.


Francisco Duarte - o fazendeiro Chico Duarte

Assim que o meu pai tomou conhecimento da futura venda da propriedade, abalou-se até Mossoró para saber o preço, e posteriormente venderia os seus estimados e bem zelados animais para a compra. Negociado a terra, meu pai vendeu todo gado, e um monte de cabras e bodes, só no intuito de sair o mais rápido possível daquele armadilha. O certo é que ele conseguiu comprar 1 légua de terra na década de 60. 

No dia 10 de Maio de 2011 o meu pai despediu-se do nosso planeta, e a pequena propriedade que deixou, ainda continua em nosso poder, sem que nenhum de nós tenha pensado vendê-la.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

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6 comentários:

  1. Anônimo18:59:00

    Mendes amigo, assim como as coisas dos homens aqui na Terra são traçadas por Deus, Deus traçou muito bem aquela saída do Senhor Nél da Fazenda da família Duarte para sua própria fazenda. Os planos de Deus não são os nossos planos. Contudo, eu só desejo saber se era mesmo (ou é) UMA LÉGUA de terra para você cuidar dela? Se for mesmo, sei que você tem muito o que fazer em SEIS quilômetros de terra.
    Antonio Oliveira

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  2. Grande Antonio de Oliveira:

    São mesmo 6 quilômetros de extensão. O rio Upanema passa dentro de todas as propriedades. É meia légua do rio para o nascente e meia légua do rio para o poente, sendo que a propriedade do meu pai é estreita, com apenas 80 braças de larguras. Era herança do Lili Duarte. Papai gostava de dizer: "-Se um jumento se deitar na minha terrinha no sentido do Norte ao Sul as orelhas e a calda ficarão nas terras alheias. Mas é nossa, meus filhos! Ninguém nos mandará ir embora daqui. Só Deus e mais ninguém".
    Felicidade e paz.

    José Mendes Pereira
    Mossoró, terra de Santa Luzia
    Rio Grande do Norte..

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  3. Anônimo10:10:00

    Pelo que observei Mendes, o Rio Upanema corta a fazenda de vocês mais ou menos, MEIO-A-MEIO, deixando três quilômetros para um lado e três quilômetros para o outro lado, com suas oitenta braças de extensão dentro da propriedade. Tenho certeza que ele estando cheio - de margem a margem, você não consegue atravessar à nado em direção à nascente. Só se você for supernadador.
    Grato,
    Antonio Oliveira - Serrinha

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  4. Grande pesquisador Antonio de Oliveira:

    Parece que você já esteve aqui na região, o que você está dizendo é assim mesmo, Se o rio encher, não há como passar, só através de cavaletes, acredito que você sabe o que é cavalete para atravessar rio. Quando eu ainda era pequeno, mesmo aos 12, 13 anos, eu nadava e passava este rio todo, e ainda tirava caprinos e ouvindo das croas, isto nadando com ela ou ele segurando-pelo o chifre. Parece mentira, mas quem nasce em beiço de rio aprende a nadar muito criança. O rio Upanema, que ele só passa nos sítios próximo a Mossoró (da cidade é o rio Mossoró, que nasce na chapada do Apodi, por alí, não tenho bem certeza, porque eu pouco conheço esta região), quando ele enche mesmo cobre toda a várzea, e se manda até por dentro da mata. Não posso calcular de mata a mata, mas a extensão que ele banha é enorme. Tem o rio, mais outros que nascem aqui, acolá, os chamados córregos, mas depois emendam-se novamente. Sei que você é sertanejo e sabe muito bem com são os rios.

    Felicidade e paz
    José Mendes Pereira
    Mossoró, terra de Santa Luzia
    Rio Grande do Norte.

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  5. Anônimo15:07:00

    Na realidade companheiro Mendes, praticamente minha terra não tem rios. Apenas nos conformamos com os pequenos riachos que só enchem com pesadas trovoadas. Assim que a tempestade passa, o riacho deixa somente pequenos poços e o resto fica seco. A nossa distância para um rio perene (Rio Jacuípe) é imensa. Tanto é que as águas dele nunca visitei. Mas, possuir uma propriedade cortada por um rio, certamente é uma grande riqueza para os animais e para seu proprietário. E mesmo, a beleza em ver as águas rolando e os sapos coaxando. Tanto é que quando o nosso riacho encheu, peguei a filmadora e, juntamente com meu filho Filipe de 11 anos fomos debaixo de chuva e fizemos a filmagem. O sertão - como você sabe -, é diferente da sua terra - litoral -, chove pouco, e essa quase novidade de uma chuvarada, movimenta toda gente.
    Abraços e vá percorrer os seis quilômetros de cerca para ver se as estacas não estão de pés quebrados.
    Antonio Oliveira - Serrinha - Bahia

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  6. Anônimo15:33:00

    Ainda sobre Rio vou lhe contar uma historinha. Meus pais não tinham terras; apenas um humilde sítio de 25 tarefas. Acontece que minha prima Maria Stela de Oliveira, que nunca quis saber de casamento, possuía a pequena Fazenda Tabua. Ela mesma amansava os animais que lá nasciam, seja o gado bovino, como os cavalos. Era na realidade uma exímia amestradora de animais. Dos seus dois cavalos de estima, um se chamava NAVIO. E para fazer jus ao nome recebido, nadava mais que peixe e que o próprio navio que singra os grandes oceanos. A sua fazenda (há quase uma légua da nossa casa), é cortada pelo rio que recebe o nome da Tribo dos Tocós (Rio Tocó). Quando esse rio recebe as águas de uma forte trovoada, "nem avião consegue trafegar" nas suas imediações. Porém, o cavalo NAVIO atravessava num abrir e fechar de olhos. O problema é que era nele que teríamos que retornar no final da tarde. "Inteligente" como era, quando o sol ia se aproximando do Horizonte, ele atravessava para o outro lado e, Stela me repreendia asperamente porque deixei o NAVIO mergulhar as águas do TOCÓ. Conclusão: Teríamos que nos valer do JUMENTO PERIQUITO para o retorno, logo que jegue tem medo de água. PODE ACREDITAR.
    Abraços,
    Antonio Oliveira - Serrinha

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