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domingo, 4 de maio de 2014

Enquanto não vem cangaço - FAMILIARES DESISTEM DE ESPERAR POR APOIO PARA REFORMAR A CASA DO POETA ELIZEU VENTANIA

Por Claudio Palheta Jr.

A morte do poeta e cantador popular Elizeu Ventania, em 19 de outubro de  1998, certamente deixou uma lacuna singular na produção cultural de Mossoró. Dono de uma criatividade fenomenal, Elizeu morreu sem ter o reconhecimento e respaldo dignos de um artista de sua grandeza.


Homenageado, Elizeu passou a dar nome ao maior espaço cultural a céu aberto de Mossoró, a Estação das Artes Elizeu Ventania, antiga Estação Ferroviária de Mossoró, mas seu legado continua em destaque nos grandes eventos da cidade, o que promove um controverso efeito, já que a Estação cede espaço para grandes shows e eventos de Mossoró, mas raramente reverencia a memória de seu patrono.


A casa em que Elizeu Ventania viveu por toda a sua vida, e que por muitas vezes recebeu a promessa de ser totalmente reformada pela Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) permaneceu por vários anos praticamente abandonada, exposta à ação do tempo e das condições climáticas, que a deterioraram. 


Diante deste quadro, a família de Elizeu Ventania desistiu de esperar por apoio público para revitalizar a casa do cantador, e transformar a residência em um espaço cultural voltado para a obra do poeta. A partir da renda adquirida da venda dos CDs com as canções de Elizeu, a família já deu início às obras de restauração da casa. 


"Estamos reformando a casa de forma parcial, até por que só temos R$ 5 mil dos R$ 12 mil necessários para restauramos totalmente a casa. Arrecadamos o dinheiro através da venda dos CDs com canções de meu pai", explica o filho de Elizeu, Genilson Rodrigues da Silva. 


Genilson diz que os principais problemas que a casa apresenta são no telhado e no reboco da sala, onde será focada a reforma. Outros cômodos da casa, como a cozinha e o banheiro, além dos muros, permanecerão sem restauração, porque não há recursos.


Segundo o filho de Elizeu Ventania, sua ideia é realizar uma homenagem ao pai em outubro, quando se completará 16 anos do seu falecimento. "Estaremos organizando uma 'cantoria de pé de parede', com apresentações de Moacir Laurentino e Sebastião das Silva, em homenagem à obra de Elizeu Ventania. Minha missão é manter vivo o nome e a obra de meu pai", destaca Genilson. 


A reportagem do O Mossoroense procurou a assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) para saber se haveria possibilidade do poder público participar da realização das obras na casa em que viveu o poeta. Segundo a secretária de Comunicação, Mirela Ciarlini, a situação da residência é complicada, pois por ser um imóvel particular não pode receber apoio do poder público sem acompanhamento jurídico. Ela também explicou que de fato já havia uma indicação da Câmara Municipal para que a casa fosse tombada e se tornasse patrimônio público, mas oficialmente nada foi feito desde então para resolver a situação da residência. 

Em 2013, Genilson já havia feito uma pintura em forma de protesto contra o descaso do poder público, com a residência de seu pai. A frase: "A ex-Prefeita de Mossoró Fafá Rosado prometeu reformar a casa do saudoso poeta Eliseu Ventania, e não cumpriu", estampa até hoje a fachada da residência.

Elizeu Ventania: vida e obra de pura poesia

Elizeu Ventania, diferentemente do que alguns pensam, não era natural de Mossoró. O cantor nasceu em 20 de julho de 1924, no sítio Jacu, município de Martins, e desde muito novo apresentou afeição por música e poesia. Em 1942 iniciou a carreira como cantor, chegando a se apresentar em rádios e emissoras de televisão da época. 

De acordo com alguns pesquisadores, Elizeu pensou inicialmente em adotar o nome artístico de Elizeu Serrania, em homenagem às famosas serras de sua terra natal, Martins. Gravou em sua carreira três LPs, "Canções de Amor", em 1971; "O Nascimento de Jesus", 1972; e "Chorando ao Pé da Cruz", em 1979; este último pela gravadora Continental, vendendo 40 mil cópias.

Apesar de analfabeto, Elizeu nunca deixou de criar e declamar seus poemas, os quais em geral ele decorava. Ao lado de João Liberalino, formou uma das principais duplas de violeiros da região, influenciando diversos outros violeiros e repentistas que viriam posteriormente ao Rio Grande do Norte.

Era uma figura conhecida no centro da cidade, principalmente por sua banca de vendas no Mercado Central, onde comercializava fitas cassetes com gravações de suas canções. Elizeu contabilizava ter vendido cerca de 100 mil fitas, além dos inúmeros amigos, fãs e conhecidos. 

Ao fim de sua vida, vitimado pela catarata e sem condições de pagar um tratamento, perdeu totalmente a visão. Faleceu após uma parada cardiovascular no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), oriundo de um enfisema pulmonar, após dias de internação na UTI.

Cláudio Palheta Jr.
Editor do Universo
Fonte: O Mossoroense

Postado por Dr. Lima - Um Potyguar em Terras Alencarinas
http://blogdodrlima.blogspot.com.br/2014/05/familiares-desistem-de-esperar-por.html

Ilustrado por José Mendes Pereira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo18:17:00

    Pois é caro pesquisador Mendes, ouvi as canções na voz do seu quase conterrâneo Elizeu Ventania, é pude entender sê-lo um daqueles grandes poetas produzidos pelo nosso Nordeste. O que muito me surpreendeu, é que o mesmo (conforme o texto), era analfabeto. Entretanto, deixou um excelente legado para a cultura nordestina e, quiçá, brasileira. Acredito que as autoridades Mossoroenses farão o tombamento da sua antiga morada quando viveu nas Terras de Mossoró. COM A PALAVRA, A CÂMARA DE VEREADORES E A PREFEITURA DA GRANDE CIDADE DE DECIDIDOS HOMENS E MULHERES DESSA RIO GRANDE DO NORTE.
    Abraços,
    Antonio José de Oliveira - Serrinha - Bahia

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