Publicado em 08/05/2014 por Rostand Medeiros
Quando eu
tinha uns dez anos, em uma ocasião que participava de uma excursão escolar a
Recife e Olinda, na ocasião que o nosso ônibus estava seguindo por uma estrada
perto do mar, tive a surpresa (na verdade um susto) de ver um grande avião
bimotor no pátio externo de uma casa. Fiquei realmente impressionado com aquilo
e um dos professores explicou que ali era um bar e tinha como atração aquele
antigo avião. Mas o Mestre não sabia de que tipo era.
O DC-3 pintado pelo artista plástico Romero Brito, no pátio da AESO, em Olinda, Pernambuco.
Apesar da
pouca idade eu já sabia que ali estava um DC-3. Este era o clássico avião de
transporte fabricado pela empresa norte-americana Douglas Aircraft, que
praticamente revolucionou em todo o planeta o transporte aéreo comercial nas
décadas de 1930 e muitos anos após. A versão militar deste clássico dos céus
era o C-47, verdadeiro burro de carga das tropas Aliadas em toda a Segunda
Guerra Mundial e do qual a FAB utilizou as dezenas.
Bem, o tempo
passou e depois eu soube que o bar fechou. Já sobre o dito avião, eu acreditava
que o mesmo havia sido desmantelado em algum ferro velho.
Apesar da
pouca idade eu já sabia que ali estava um DC-3. Este era o clássico avião de
transporte fabricado pela empresa norte-americana Douglas Aircraft, que
praticamente revolucionou em todo o planeta o transporte aéreo comercial nas
décadas de 1930 e muitos anos após. A versão militar deste clássico dos céus
era o C-47, verdadeiro burro de carga das tropas Aliadas em toda a Segunda
Guerra Mundial e do qual a FAB utilizou as dezenas.
Bem, o tempo
passou e depois eu soube que o bar fechou. Já sobre o dito avião, eu acreditava
que o mesmo havia sido desmantelado em algum ferro velho.
Assinatura de
Romero Britto na deriva do DC-3.
Recentemente
soube que o destino da aeronave foi bem mais nobre!
A história
deste DC-3 é típica das aeronaves que realizavam voos comerciais no seu tempo.
Seus primeiros voos foram nos céus dos Estados Unidos, onde teve como primeiro
operador a empresa American Airlines e a matrícula NC15592. Uma
interessante característica desta aeronave é que ela foi concebida como um DC-3
DST (Douglas Sleeper Transport) tendo a porta de acesso principal disposta no
lado direito. Como foi também utilizado para transporte executivo, possuía
outras modificações: as carenagens do trem de pouso e o nariz alongado
para alojar um radar.
Consta que em
1954 este avião veio para o Brasil e foi utilizado pela extinta VASP até
1959. Depois, até 1961, ostentou as cores da também extinta empresa Real Linhas
Aérea. Na sequência serviu de avião executivo para a diretoria da montadora
Willys Overland e depois para a subsidiária da Ford no Brasil, com a
matrícula PT-BFU. Existem informações, não comprovadas, que esta majestosa
aeronave pertenceu a Coca-Cola de Fortaleza, no Ceará.
Depois o DC-3
foi para o município de Paulista, Pernambuco, mais precisamente na área da
praia de Maria Farinha, para uma função onde não necessitaria mais voar, a não
ser na imaginação das pessoas. O velho avião passou a ser parte principal da
decoração de um bar e restaurante.
Praia de Maria
Farinha PE – Cervejaria Campo de Pouso 1995 – Foto aérea de João Tercio Solano
Lopes.
A aeronave
ficou por vários anos na parte frontal na Cervejaria Campo de Pouso, que marcou
época na região. Dizem que além do DC-3 o bar chamava atenção por um
maravilhoso petisco conhecido como “Tubalhau”.
A ideia de
utilizar uma aeronave como tema para esta cervejaria era uma vontade antiga de
seu idealizador, Silvio Amorim, que também era piloto privado e entusiasta da
aviação. A casa refletia um clima de um aeroporto, ou de um “campo de pouso”,
mas sem a pista de pouso. Tinha biruta, sinalização, fonia de torre de controle
e as mesas ficavam embaixo das asas. Na parte construída da cervejaria havia
vários pôsteres de propagandas antigas das principais companhias aéreas do
mundo e uma seleção de fotos do clássico DC-3.
Um dia o bar
fechou e o destino do avião foi bem interessante e inusitado.
O bimotor
deixou a área da antiga Cervejaria Campo de Pouso em 2001, tendo sido doado por
Sílvio Amorim para as Faculdades Integradas Barro Melo – AESO, no bairro de Peixinhos,
em Olinda, onde foi transformado em uma obra de arte através das mãos do
pernambucano Romero de Britto (http://www.britto.com/).
Para alguns o
fato de Romero ter utilizado este avião como uma tela, na verdade sua maior
obra de arte, foi um erro. Muitos têm a ideia que este avião “merecia ser
respeitado na sua originalidade”. Discursões a parte é inegável que Britto,
artista plástico internacionalmente conhecido, realizou um belo trabalho
artístico para eternizar o DC-3 e ele hoje é o símbolo da instituição de ensino
que o preserva.
Existe um
interessante documentário chamado “AESO DC-3: A história de um avião”, cuja
direção é de João Barbalho e a obra foi realizada pelos alunos do curso de
Radio, Tv e Internet da AESO. O mais interessante neste doc é ver como a
mudança deste avião, desde o bar para esta universidade, mexeu com tanta gente
e criou tantas histórias e estórias. (Ver –http://kidswithgun.wordpress.com/2012/06/06/aeso-dc3-a-historia-de-um-aviao/ )
Silvio
Amorim é advogado, foi vereador do Recife, secretário de Educação, delegado do
MEC em Pernambuco e diretor da Rede Federal de Educação e Tecnologia do Ministério
da Educação. Hoje é membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de
Pernambuco (IAHGP). Possui livros publicados, como “Deixe-me dizer…”, que reúne
uma coletânea de artigos, crônicas e outras obras, tendo sido lançado em 2007.
P.S. – Pode
parecer pretensão da minha parte comentar que, mesmo sendo ainda uma criança,
já sabia que aquela aeronave era um DC-3. Mas não é mentira. Eu realmente
sabia! Pois desde que me entendo de gente nunca deixei de olhar para uma
aeronave que passa nos céus, de querer saber de que tipo era e buscar mais
informações sobre a máquina alada. Neste aspecto agradeço muito aos meus pais,
Calabar e Creusa, que nunca me deixaram ficar sem a possibilidade de aprender
cada vez mais sobre o mundo e a vida.
Rostand Medeiros é escritor, historiógrafo e pesquisador do cangaço
http://tokdehistoria.com.br/author/tokdehistoria/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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Nordeste do Brasil AESO
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