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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

CRIMES DE LAMPIÃO - PARTE III

Por Ranunfo Prata

Aproxima-se a caterva de Capim Grosso. Os espiões informam, porém, que a vila se acha guarnecida. Lampião torce caminho, receoso e cheio de cautelas. Ladeia a população e toca para adiante na sua caminhada perene.

Mas tem "boa" estrela, o acaso entrega-lhe nas mãos uma presa valiosa.

Aprisiona nas vizinhanças da vila o seu escrivão, parente do coronel João Borges, de Uauá. Como usa também dos processos civilizados de americanos, exige cinco contos da família da vítima em troca de sua liberdade. Vai o emissário à povoação e estipula o negócio.

A mulher não possui tão grande quantia. O seu marido é um simples escrivão de roça, mal ganha para passar com a família numerosa.

Entra em desespero. Quer salvar a vida do esposo seja a que preço for. Corre, numa aflição de meter dó, à casa dos parentes, dos conhecidos, de toda a gente que possa socorrer com uma esmola. Pede pelo amor de Deus que lhe deem que lhe emprestem qualquer coisa. É uma vida a ser   poupada com ele, a vida preciosa de seu marido.

Diante daquela angústia imensa, toda a vila se comove e faz-se uma coleta. Povoação paupérrima, para somar cinco contos foi preciso que quase todos concorressem com um auxílio. E a quantia, afinal, após penoso angariar, se completa. A mulher pega do volume de cédulas aperta-o entre os dedos trêmulos, e com o coração repousado numa grande alegria, entrega ao emissário.

- Pelo amor de N. Senhora, diga ao capitão que o solte logo, implora, numa ânsia, desejosa de libertar-se sem demora daquele pesadelo.

O povoado fica à espera do refém.

Lampião recebe o dinheiro, conta-o lentamente, molhando os dedos na língua, desaperta da cintura "o papo de ema" que está túmido de notas graúdas, desdobra-o e acondiciona, meticulosamente, mais aquele pacote.

Depois, lerdo, caminha para a vítima e lhe diz:

- Pro mim você tá livre, mas os meus meninos precisa ajustá conta com você.

Era a quebra infame da palavra que garantira a vida do prisioneiro.

Da sua palavra, cujo cumprimento ele alardeava nos sertões, dizendo, arrogante, como num juramento:

Palavra de bandido!

E afasta-se, indiferente.


Corisco apossa-se do preso, apunhala-o e mutila o cadáver, abrindo-o em bandas, como aos bodes nas feiras sertanejas.

http://www.luizalberto.com.br/l03.html

Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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