Por Ranunfo Prata
Aproxima-se a
caterva de Capim Grosso. Os espiões informam, porém, que a vila se acha
guarnecida. Lampião torce caminho, receoso e cheio de cautelas. Ladeia a
população e toca para adiante na sua caminhada perene.
Mas tem
"boa" estrela, o acaso entrega-lhe nas mãos uma presa valiosa.
Aprisiona nas
vizinhanças da vila o seu escrivão, parente do coronel João Borges, de Uauá.
Como usa também dos processos civilizados de americanos, exige cinco contos da
família da vítima em troca de sua liberdade. Vai o emissário à povoação e
estipula o negócio.
A mulher não
possui tão grande quantia. O seu marido é um simples escrivão de roça, mal
ganha para passar com a família numerosa.
Entra em
desespero. Quer salvar a vida do esposo seja a que preço for. Corre, numa
aflição de meter dó, à casa dos parentes, dos conhecidos, de toda a gente que
possa socorrer com uma esmola. Pede pelo amor de Deus que lhe deem que lhe
emprestem qualquer coisa. É uma vida a ser poupada com ele, a vida
preciosa de seu marido.
Diante daquela
angústia imensa, toda a vila se comove e faz-se uma coleta. Povoação
paupérrima, para somar cinco contos foi preciso que quase todos concorressem
com um auxílio. E a quantia, afinal, após penoso angariar, se completa. A
mulher pega do volume de cédulas aperta-o entre os dedos trêmulos, e com o
coração repousado numa grande alegria, entrega ao emissário.
- Pelo amor de
N. Senhora, diga ao capitão que o solte logo, implora, numa ânsia, desejosa de
libertar-se sem demora daquele pesadelo.
O povoado fica
à espera do refém.
Lampião recebe
o dinheiro, conta-o lentamente, molhando os dedos na língua, desaperta da
cintura "o papo de ema" que está túmido de notas graúdas, desdobra-o
e acondiciona, meticulosamente, mais aquele pacote.
Depois, lerdo,
caminha para a vítima e lhe diz:
- Pro mim você
tá livre, mas os meus meninos precisa ajustá conta com você.
Era a quebra
infame da palavra que garantira a vida do prisioneiro.
Da sua
palavra, cujo cumprimento ele alardeava nos sertões, dizendo, arrogante, como
num juramento:
Palavra de
bandido!
E afasta-se,
indiferente.
Corisco
apossa-se do preso, apunhala-o e mutila o cadáver, abrindo-o em bandas, como
aos bodes nas feiras sertanejas.
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Postado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
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