Por Onaldo
Queiroga
Essa saudade sem fim, esse Sertão sem Luiz. O filho de Januário há vinte e cinco anos partiu. Só resta agora a sanfona, chapéu de couro e gibão.
Seu Januário e dona Santana pais de Luiz Gonzaga - www.forroemvinil.com
Zabumba toca tristonho e o triângulo responde sentido. Essa saudade tamanha. Fogueira queima em brasa sentida e balões vagueiam perdidos no ar. O rei menino há vinte e cinco anos se foi. Só resta agora a sanfona, chapéu de couro e gibão.
Em cada rosto
sofrido te vejo, ainda, todos os dias. Te vejo na face dos retirantes, na
caminhada em meio as juremas e marmeleiros ressequidos, na travessia do riacho
seco, na chuva que não vem, na asa
branca voando em busca d’água, na vaca magra
soluçando saudade, na triste partida de Patativa do Assaré.
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Te vejo no Cenário
da estiagem desoladora, no sol que castiga, no desaparecer das águas, no gemido
da terra, no gado morrendo de sede, no fogo que impera, no sertanejo que chora,
no céu aberto dos voos das Acauãs.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Acau%C3%A3
Mas também te vejo: no cheiro de chuva
embrenhado no mato, no inverno amanhecendo com a passarada, no mugido do gado
no curral, na água corrente enchendo os córregos, riachos, rios e açudes, na colheita do milho e do
algodão, no eco das cantorias, dos aboios e das novenas.
Te vejo: na romaria do
padre Cícero Romão Batista, na légua tirana e na Feira de Caruaru do Mestre
Vitalino.
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É Gonzaga, te escuto no chorar do Assum Preto, do carão, da acauã e da sabiá. Te ouço no soluçar do gado magro tangido pelo aboio triste do seu vaqueiro.
Te
sinto penetrar em minha alma em versos que afloram da peleja dos repentistas,
poetas que nos lamentos e nos gemidos de suas violas descrevem aquele que em
vida tão bem insculpiu musicalmente o Sertão e o Nordeste.
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Te ouço na voz de
João Cláudio Moreno o poeta de Piripiri/PI, que em voz te incorpora. Te vejo no
palco, num acústico show de Pinto do Acordeom. Te escuto nos sons das sanfonas
de Joquinha Gonzaga, de Waldonys, de Flávio José e no fole de Zé Calixto.
Partistes para a abóbada celeste no dia 02.08.1989.
Tua obra musical repousará
eternamente nos umbrais da cultura brasileira. Teus restos mortais repousam no
Parque Aza Branca, sob os espelhos das águas do Itamaragy e do bafejo noturno
do vento “Cantarino”.
Luiz, tu és
eterno. Tu sempre estarás no Nordeste, nas noites de São João, nos foguetes, na
sua animação, nas suas crenças, no fole gemendo, na fogueira, no balão
anunciando aos céus que é festa no Sertão,
no cangaço do Lampião, na chapada do
Araripe com sua floresta e seus encantos. Luiz sempre que existir Sertão, um pé
de bode, uma sala de chão batido, uma morena faceira para arrastar as
alpargatas num samba que se renova, jamais tu serás esquecido. Viva Luiz.
Enviado pelo poeta, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueana Kydelmir Dantas
Postado e
ilustrado por Adryanna Karlla Paiva Pereira Freitas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Neste domingo (03/08) fizemos uma participação especial no programa DIFUSORA NO CAMPO, do radialista Everton Leite, com o apoio do sonoplasta Eijane Oliveira, e as músicas foram apresentadas de acordo com este texto do Dr. Onaldo Queiroga.
ResponderExcluirAlém da citação dos autores/compositores potiguares que foram gravados por LUIZ GONZAGA, como Chico Elion (Ranchinho de Paia), Severino Ramos (Ovo de Codorna), Celso da Silveira (Renascença) e Frei Marcelino (Meu Padrim).
Ainda teve as participações dos poetas Luiz Benício e Neto Rapadura.
Foi uma belezura!
Kydelmir Dantas
Mossoró - RN