Por Clerisvaldo B.
Chagas, 24 de janeiro de 2017 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.624
Pensando bem,
se Lulu Félix ─ o maior mentiroso de Santana do Ipanema em todos os
tempos ─ ainda fosse vivo, na certa falaria agora sobre sua
propriedade rural. Homem de bem, baixinho e elegante, mentia pela arte de
mentir, sempre mantendo a serenidade de quem tem crédito na praça. Nessa
malvada seca que destempera quase todo o estado, Lulu estaria vendendo em casa
ovos cozidos e galeto assado pelo Sol.
E foi em seca
semelhante que um sujeito vindo dos campos do Riacho Grande, entrou na loja de
tecidos de meu pai. Fez algumas compras, mas depois cismou em escolher um pano
verde para fazer uma camisa. Nenhuma peça agradou ao paciente e irritante
freguês. Estando pertinho, vi meu pai usar de todos os argumentos para desviar
a ideia fixa do homem pela cor da bandeira nacional. Não houve jeito. Só o
verde interessava. Derrotado pela férrea vontade do matuto, o dono da loja
apelou para a última cartada: “Olhe que o tempo é de seca total. Verde no campo
tem somente juazeiro e papagaio. O senhor corre um grande risco, pois se um
jumento o avistar de camisa verde vai pensar que é pasto e o estrago estar feito”.
E o cabra, com
a mesma mansidão na fala desde o início, afirmou arrastando a língua: “Mas eu
só quero verde, Seu Manezinho, vou correr o risco”.
E diante do
espelho vou trazendo para hoje a presença de Lulu Félix, de Manoel Celestino
das Chagas, para enquadrá-los nessa estiagem cujas turinas de Batalha estão
dando leite em pó.
Mas, qual é a
camisa do momento? Vou sair com a preta, a branca, a vermelha ou a verde?
Verde! Verde no Sertão só juazeiro, papagaio e eu... Zapt! Jogo a camisa longe
e dessa vez vingo meu pai perante o roceiro: Correr perigo diante de jegue pai
de lote! Estou fora, Jerusa!
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