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terça-feira, 21 de março de 2017

O MENINO DO VALE VERDE

Por Medeiros Braga

De cavalo de pau feito, instigante,
Da palma da carnaúba, com mestria,
Na Fazenda Vale Verde fui um dia
Um destemido cavaleiro errante.

Muitas coisas das quais escrevemos representam um pouquinho da nossa vida, da nossa própria história. Augusto dos Anjos escreveu “A Árvore da Serra” e o que se conta é que se trata de um amor que teve com uma pobre moça e não foi aceito pela família. Aquele diálogo com o pai representou uma discussão ocorrida.

Eu também tenho alguns trabalhos inerentes a passagens de minha vida. Quando eu era garoto na fazenda Vale Verde do meu avô, pegava o talo da carnaubeira, dava dois cortes, dobrava, colocava umas rédeas e saía por aí como um verdadeiro cavaleiro andante. Descia aquelas ladeiras como se fosse voando em um cavalo alado. Dono da situação, um verdadeiro herói naquelas quebradas.

E outro dia, eu me lembrando disso, escreveria esse soneto:

O MENINO DO VALE VERDE

De cavalo de pau feito, instigante,
Da palma da carnaúba, com mestria,
Na Fazenda Vale Verde fui um dia
Um destemido cavaleiro errante.

Com suas rédeas feitas de barbante
Como se fosse um rei na cercania
Controlava todo ritmo galopante
Do meu corcel, alegre, em toda via.

Mas hoje o automóvel em tal jornada
Fez do meu caminho sua estrada
Para em instantes deixar só poeira.

Porém, eu digo que, sem um abalo,
Mesmo de pau sou mais o meu cavalo
Feito da palma da carnaubeira.

Medeiros Braga

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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