Por José Romero
Araújo Cardoso
Delmiro Gouveia não teve tempo para implantar diversos projetos ousados, pois
empreendedor nato, com certeza teria beneficiado o Nordeste, sobretudo em sua
porção semiárida, com a ampliação de sua experiência de industrialização
pioneira observada em meados da década de dez do século XX, na então Vila da
Pedra (Hoje Município de Delmiro Gouveia, sertão alagoano).
Empresário de visão larga, certamente, sob sua regência, teriam surgidos pólos
de crescimento pelo Nordeste inteiro, os quais levando alento às
populações flageladas pela seca e pelo descaso dos poderes públicos e privados
que não enxergavam o potencial da região.
Recursos valiosos disponíveis no Nordeste teriam sido aproveitados de forma
coerente e racional, pois a qualidade das linhas de coser e de malhas
produzidas na fábrica Estrela, propriedade do audacioso cearense, ganharam fama
e mercados nacional e internacional.
Talvez o Nordeste não tivesse sido tão penalizado pelas imposições conjunturais
de eras conturbadas pelo cangaço e exclusão no processo de divisão interna do
trabalho se Delmiro tivesse ido poupado da ação perniciosa de mãos assassinas
que lhe tiraram a vida em dez de outubro de 1917.
Ocupações diversas teriam garantido sustento a famílias inteiras, com mesas
fartas e bonança para felicidade da sofrida gente nordestina, carente de
melhores dias que felicitem a existência.
Mas a ganância falou mais alta, mataram o evangelizador do Nordeste a fim de
destruir sua experiência pioneira de industrialização, para que o Nordeste
continuasse no marasmo do mais abominável subdesenvolvimento, dependente da boa
vontade de quem ainda lhe vira as costas.
Delmiro Gouveia, exemplo de altivez, fortaleza de virtudes, vítima da
intolerância das estruturas de poder ligadas indissociavelmente à
intransigência do imperialismo voraz que tinha no ramo têxtil principal
carro-chefe de seu processo de industrialização.
Aliado com interesses internos que queriam se livrar de
Delmiro Gouveia, esse imperialismo desumano não pensou na pobre gente que
dependia da fábrica para sobreviver, que sonhava em padrões de vida mais compatíveis
com a dignidade humana.
Há cem anos matavam um homem brilhante que amou o Nordeste e fez de tudo para
que a situação deplorável que a região se encontrava, e ainda se encontra,
fosse superada com a industrialização do algodão.
Delmiro Gouveia, homem que intercalava o arcaico e o moderno, a tradição e a
modernidade, fez-se evangelizador em toda uma região, onde sua presença
marcante verificou-se em diversos quadrantes, atestando sua notável influência
empreendedora, precisa ter sua memória reverenciada no Nordeste Brasileiro
enquanto sinônimo de grandes realizações em prol da necessitada região
brasileira no centenário do seu injustificado martírio.
José
Romero Araújo Cardoso - Geógrafo (UFPB). Escritor. Professor-adjunto do
Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e
Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (UERN). Membro do Instituto Cultural do Oeste
Potiguar (ICOP), da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e da
Associação dos Escritores Mossoroenses (ASCRIM)
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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