Por Carlos Alberto Nascimento de Andrade
Neste 8 de outubro de 2017, o mundo lembra e celebra com admiração o 50º
aniversário da morte de Ernesto Guevara Lynch de La Serna, o Che Guevara,
ocorrida em 8 de outubro de 1967 na localidade de La Higuera, Bolívia. A
despeito de toda parafernália consumista, onde a imagem de Che é vendida como
marca de tênis, camisetas, biquínis, decalques, botons, cerveja e até de
algumas biografias e matérias jornalísticas oportunistas, que têm como objetivo
reduzir sua militância política a uma dimensão mercantilista, pretendemos
lançar luzes que possam ajudar no entendimento de sua opção pelo
internacionalismo proletário.
De origem pequeno-burguesa, nascido em 14 de junho de 1928, em Rosário,
Argentina, Che Guevara não pode ser visto apenas como mais um idealista que fez
de seu corpo trincheira de luta em defesa do socialismo, e que tombou com
bravura e heroísmo nas selvas bolivianas. Ao lado do revolucionário Che, se faz
mister analisar o legado que deixou para a humanidade.
Após a
revolução cubana, Che, que havia contribuído decisivamente com outros
companheiros para a derrocada de Fulgêncio Batista, poderia ter se acomodado
com as tarefas naturais do poder revolucionário, pois havia sido designado
Presidente do Banco Nacional de Cuba, e posteriormente Ministro da Indústria.
No entanto, impulsionado pelos ideais revolucionários, por seu temperamento
rebelde e altruísta, abdicou dos prazeres da burocracia do Estado e continuou
sua luta em prol do internacionalismo proletário.
É verdadeiro afirmar que sua “derrota” só foi possível em decorrência da
equivocada tática política que norteou suas ações guerrilheiras nas selvas
bolivianas. Ao contrário de Cuba, onde havia forte movimento Nacional-Popular e
Democrático de apoio aos revolucionários da Sierra Maestra contra a ditadura
retrógrada de Fulgêncio Batista, na Bolívia, Che imaginava que a simples
organização de um foco guerrilheiro fosse crescendo como uma bola de neve, até
atingir as massas urbanas e rurais. Tal perspectiva não se efetivou, primeiro
porque não havia grandes concentrações de camponeses em conflito com
latifundiários (se é que havia latifundiários na região), bem como n&
atilde;o haviam empresas agropecuárias, caracterizadas pela presença do
capital, pela produção mecanizada voltada para o mercado e pelas consequentes
relações de produção tendentes para o salariado puro que possibilitassem
concentrar grandes massas de trabalhadores na zona rural daquele país. Segundo,
talvez por motivo de segurança, uma vez que Che estava sendo perseguido, não
houve interação política entre a guerrilha e o resquício de campesinato
existente naquela localidade. Desta forma, por não entender os motivos da
presença dos “barbudos” naquela região, os próprios camponeses cuidaram de
delatar os guerrilheiros às forças armadas bolivianas. Por último, faltou uma
direção política partidária, uma vez que a ação política guerrilheira ficou
limitada a um prati cismo guiado apenas pelo voluntarismo pessoal de Che e seus
companheiros, faltando, portanto uma análise partidária da conjuntura
econômica, política e social boliviana, condição indispensável para se definir
a tática mais apropriada para aquele momento. Não encontrando respaldo da
população, especialmente dos camponeses da região, Che ficou isolado e encurralado
no gueto foquista que valentemente organizou. Nestas condições, juntamente com
seus companheiros, foi alvo fácil para os chamados “Boinas Verdes” da CIA,
lacaios da política imperialista dos EUA.
Se por um lado não podemos entender a luta guerrilheira de Che como modelo
universal, pois as especificidades das conjunturas políticas e de estruturas
econômicas de cada país determinam a forma de luta que deve ser desenvolvida,
por outro resgatamos sua postura crítica e incorruptível, além de sua
capacidade de renúncia pessoal em favor dos interesses coletivos. De acordo com
sua origem de classe, Che poderia ter enveredado por caminhos do
colaboracionismo com as classes dominantes retrógradas, colocando toda sua
experiência e competência política a serviço dos “donos do poder” público de
plantão; aliás, fato muito corriqueiro hoje em dia, onde o oportunismo
fisiologista é o elemento norteador da vida de milhares de car reiristas –
entre estes alguns arrivistas e ex-militantes esquerdistas – que foram
cooptados e atualmente prestam serviço – técnico e político – aos
diversos grupos de fascistas e reacionários que se apoderaram das instituições
públicas brasileiras, e administram tais instituições como se fossem suas
próprias casas.
Ícone da juventude revolucionária e um dos grandes paradigmas do socialismo,
Guevara nos deixa um legado de coerência, ética, desprendimento pessoal e acima
de tudo de solidariedade internacionalista. De sua obstinada luta pelo
socialismo, a lição que fica é que não basta o sentimento de rebeldia, nem o
desejo individual de mudança, se faz necessário administrar coletivamente essa
rebeldia. Sob a direção de uma organização partidária, precisa-se analisar a
realidade concreta, detectando as contradições estruturais e conjunturais, e
sintonizando-as com o sentimento de mudança das “classes subalternas”.
Num extrato genial, pinçado de sua obra O Socialismo e o Homem Novo, Che,
referindo-se à opção política que havia feito desde a juventude, sintetiza com
maestria: “Todos e cada um de nós paga pontualmente sua cota de sacrifício,
conscientes de receber o prêmio na satisfação do dever cumprido, conscientes de
avançar com todos para o homem novo que se vislumbra no horizonte”.
Carlos Alberto
Nascimento de Andrade
Prof.
do Departamento de Educação
Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
Campus Central
de Mossoró - RN
Leitor de:
José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Luiz da Câmara Cascudo, Karl Marx,
Vladimir Ilych Ulyanov.
Enviado pelo autor Carlos Alberto Nascimento de Andrade
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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