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terça-feira, 31 de outubro de 2017

O CACIQUE CATURITÉ EM GUERRA CONTRA TEODÓSIO - CORDEL BASEADO NA LENDA DA ÍNDIA POTIRA.

Por Medeiros Braga

“Teodósio de Oliveira
Ledo, foi um bandeirante
Arbitrário, desumano,
Presunçoso e arrogante.
E por onde ele passava
O ambiente encontrava
Sem resistir um instante.

Mas quando chegou no cume 
Da Serra da Borborema
Teve que pegar em arma,
Teve que mudar de lema,
Porque encontrou de pé
O índio Caturité
Com seus guerreiros da gema.”
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Cordel composto neste mês de Outubro
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A GUERRA DOS BODOPITÁS

Vou juntar cacos da história
Deixados por ancestrais
Que falam de um povo forte
Nos idos coloniais;
Que rompendo a paz na terra,
Pra não ceder, foi à guerra
Em condições desiguais.

Teve início esse cenário
Macabro, avassalador,
Quando os pés em terra firme
Pôs o cruel invasor;
Com desmedido egoísmo
Pôs os olhos, com cinismo
Sobre as coisas de valor.

Portando potentes armas,
Uma bíblia e um bastão
Pregaram logo uma missa,
Chamaram o índio de irmão
E com seu sermão preciso
Foi mostrado um paraíso,
A terra da promissão.

Após, para intimidar,
Esnobou-se um arsenal,
Foi disparada uma arma
Em tom sensacional,
Como o atirador previa
Uma ave ali caía 
Causando espanto geral.

Mas, nem bíblia e arcabuz 
Os seus índios convenceram,
Esses partiram pra luta
Desigual, mas não temeram.
Flecha contra arma de fogo
Defrontaram-se no jogo
Em que muitos pereceram.

Na verdade, o que queria
Aquele nefasto algoz
Eram as terras indígenas
E calar a sua voz...
Dominar aqueles bravos
Para fazê-los de escravos,
Lhes tornar a vida atroz.

Mas, o reino do além-mar
Viu certa dificuldade
E tratou de aliciar
Com total cumplicidade
Tabajaras e tupis
Para usar os seus fuzis
Em favor da majestade.

E assim sem tanta luta
Ampliou seu território, 
Eram muitas sesmarias
Já firmadas em cartório.
O bandeirante a rigor
Adentrava o interior
Ampliando o seu empório.

Teodósio,Francisco, Antonio
E Pascácio, o seu irmão,
Na Serra da Borborema,
Em passagem pra o sertão
Viram tanta terra boa
Com água aflorando à toa
Que montaram seu balcão.
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Teodósio de Oliveira
Ledo, foi um bandeirante
Arbitrário, desumano,
Presunçoso e arrogante.
E por onde ele passava
O ambiente encontrava
Sem resistir um instante.

Mas quando chegou no cume 
Da Serra da Borborema
Teve que pegar em arma,
Teve que mudar de lema,
Porque encontrou de pé
O índio Caturité
Com seus guerreiros da gema.

Teve que em Boqueirão,
Tirar um tempo e pensar,
Montar seu acampamento
Para os índios enfrentar.
Mesmo com forte arsenal
Muitas vezes se deu mal
Vindo mesmo a recuar. 
********************
Caturité, uma filha
Tinha chamada Potira,
Sendo viúvo ele a via
Como a mais bela safira,
Ela posta em seu altar
Era importante qual ar
Que todo dia respira.

Era de fato Potira
Muito bonita, amorosa,
Era seu nome de origem
Indígena, de flor, de rosa,
Sempre simpática, contente,
Tinha muito pretendente
Que lhe tirava uma prosa.

Eis que aos quatorze anos
Ela pôde um índio amar,
Um guerreiro destemido
Por nome de Itagibá,
Ele que mesmo em perigo
Peitava todo inimigo
Que aparecia por lá.

Ainda com pouca idade
Tiveram que se casar
Caturité não impôs
Condições para aceitar,
De ante-mão ele via
Que Itagibá saberia
Da sua filha cuidar.

Itagibá certo dia
Teve que sair pra guerra,
Mais uma vez invasores
Invadiam a sua terra,
Ele com seus companheiros
Foram aos despenhadeiros
Na parte alta da serra.

Potira ficou bem triste
Na separação saudosa,
Porém, na razão da causa
Restou também orgulhosa,
Estava sempre sonhando
Com Itagibá voltando
Da luta vitoriosa.

Durante o dia Potira
Não tirava da lembrança,
Toda noite adormecia
Com muita perseverança,
Logo nas manhãs, bem cedo,
Do alto de um lajedo
Aguardava com esperança.

Também, ao ocaso, as vezes, 
Ficava pela montanha 
Esperando que surgisse
O vulto que tanto sonha,
Porém, a noite chegava
E sozinha ela voltava
Para a aldeia tristonha.

Inconformada, na aldeia
Cuidava da plantação,
Colhia frutos silvestres
Tecia panos à mão,
Também já tirava o mel
Da jandaíra a granel
E do exu em porção.

Naqueles tempos ditosos,
De grande felicidade,
Todos ali se serviam
Conforme a necessidade,
Viviam todos em paz
Por não haver, tão voraz,
A tal da propriedade.

Potira continuava
Na espera do marido,
Sobretudo, na esperança
Do retorno garantido
Ver seu vulto além surgindo
E poder ela sorrindo
Ver o seu leito aquecido.
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CONCLUSÃO(Após muitas lutas, com o rapto de Potira e a sua libertação)

Na Serra Bodopitá
Exato ali se encontrava
Caturité com Potira
Que tão ferida, expirava,
Mesmo tendo decisão
Do que faria em razão,
Mesmo assim, imaginava.

Ciente dos desenganos
De jamais poder vencer
E que curvar-se ao algoz
Não podia acontecer...
Morta nos braços Potira
Do penhasco ele se atira
Para não ter que ceder.

Não era só vida ou morte
A ser posta em tabuleiro,
Era mais do que um jogo
De conscientes guerreiros.
Pra essa gente aguerrida
É melhor perder a vida
Que achá-la em cativeiro.

Os bodopitás guerreiros
Para honrar sua nação
Já não achando saída
Não viram outra opção:
Ou morrer por liberdade
Ou ter, sem dignidade,
Que viver na escravidão.

Deviam as nações seguir
Esse exemplo que descerra,
Como na luta fizeram
Os bodopitás na guerra;
Como fez Caturité
Que escolheu morrer até
Que ser cativo na terra.

Mas, enfim, essa vitória
Se deu do Mal sobre o Bem,
Uma bandeira manchada
Foi ao ar com seu desdém.
Com a guerra terminada
Foi a terra apropriada
Para riqueza de alguém.

Mas, os exemplo ficaram...
Não dos atos ilegais,
E sim, das nações indígenas
Que lutando pela paz
Com a sua rebeldia
Para o porvir deixaria
Os mais nobres ideais.

E eu fico imaginando
O que se daria após
Se não fossem as lições
Que deixaram para nós.
Eu concluo, certamente:
Cada um teria à mente
Os instintos do algoz.




Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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