São Joseense e
professora de Geografia na UERN Crédito da imagem: Acervo pessoal da Profa. Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)
O SURGIMENTO
DO POVOADO DE SÃO JOSÉ DA BONITA
O povoado de São José da Bonita, teve sua fundação oficializada em 04 de
novembro de 1917, tendo como marco, a realização de uma feira livre numa latada
coberta com palhas, feita no entorno de um grande tamarindeiro. Nesta feira,
destacavam-se os gêneros alimentícios e as “fazendas” (tecidos). Atualmente, no
local da 1ª feira, está o Mercado Público, que fica no centro comercial da
cidade.
O povoamento
foi-se dando de forma proposital, ao mesmo tempo, obedecendo ao pensamento
comum dos fazendeiros. O substrato da economia local era a pecuária e a
cotonicultura.
No mesmo ano,
por ocasião da noite de Natal, ao lado da latada da feira, o Pe. Antônio
Vicente da Costa celebrava a 1ª missa, numa barraca ornamentada por dona Berila
Medeiros, de acordo com informações colhidas durante as entrevistas. Essa
latada, também foi palco de uma violenta briga, que teve como resultado a morte
do 1º delegado do povoado, Sr. Manoel Theodoro, em 01/04/1918.
Rua
da Prefeitura, Câmara de Vereadores, antiga Maternidade e Sindicato dos
Trabalhadores Rurais - Crédito da imagem: Acervo pessoal da Profa. Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)
O Mercado
Público de São José foi inaugurado em 1920, sendo considerado uma das
construções mais importantes para o núcleo urbano do Povoado, possuindo
significativo valor histórico e cultural para o município até os dias atuais.
Registra-se que a Feira Livre da cidade se concentra no entorno do Mercado
Público aos domingos, resiste ao tempo, mesmo com grandes supermercados na cidade.
Podemos dizer que a povoação foi muito promissora, principalmente no tocante à
questão comercial, que era simultaneamente varejista a atacadista. Geralmente o
dono da mercearia era quem comprava o algodão. Então havia aquela “arrumação”
ou “acordo” no início do ano entre comerciantes e fazendeiros, para que estes
comprassem “em grosso” e pagassem com a colheita do algodão.
Além das casas, posterior a fundação do povoado, teve início a construção da
Capela de São José, com recursos da comunidade. Em 1917, foi fincada a pedra
fundamental para sua construção, mas o seu início, de fato, foi em janeiro de
1918 e a conclusão em 1920.“Seus altares foram construídos em 1922” (MEDEIROS,
1998).
A primeira Festa do Padroeiro São José aconteceu em 19 de março de
1918. Porém em 1921, isso mudou, devido às chuvas e a época da colheita do
algodão, que geralmente ocorria de setembro a outubro. Justifica-se a mudança
por que no mês de março, quando é comemorado o dia de São José, não havia
colheita do algodão e as pessoas não tinham dinheiro para arrematar as
“prendas” do leilão. Com isso, a Capela arrecadava pouco dinheiro.
De acordo com
relatos, o Sr. Justino Pereira Dantas foi um dos principais articuladores dessa
mudança do período da festa do padroeiro, ou seja, de março para setembro, já
que ele era tio de Monsenhor Walfredo Gurgel, que tinha influência considerável
junto ao bispado caicoense da época.
O Cemitério
Público também foi uma das primeiras construções do povoado. Em 1918 foi
sepultado no mesmo um morador do povoado, o senhor José Mindé Pereira.
Na década de
1920, com o surgimento de Cruzeta, houve um declínio no crescimento do povoado
local, visto que essa, passou a “atrair” pessoas do povoado local para lá.
Pode-se dizer que
além da necessidade comercial, outro fator que influenciou na consolidação do
povoado, foi a religiosidade dos moradores, já que na época das festas
religiosas e das missas (que eram raras), os fazendeiros e moradores vinham com
suas famílias para a sede do povoado.
A paisagem
urbana chama atenção pelas casas geminadas. De acordo com entrevistados “Inclusive,
tinha agropecuaristas que permitiam que seu amigo fazendeiro construísse sua
casa parede meia com a dele, já economizando uma parte”. Ainda hoje é
possível observar nas casas mais antigas, principalmente na Rua Manoel Theodoro
e Avenida Justino
Dantas, algumas residências que ainda apresentam essa
característica arquitetônica de casas geminadas.
As casas
geminadas são cada vez mais raras no Seridó Potiguar, portanto é importante que
haja preservação desse importante patrimônio arquitetônico histórico valioso,
presente no nosso município.
A
religiosidade dos pioneiros do povoamento bonitense pode ser considerada como
um elemento importante da formação territorial do município, e está presente na
cultura popular até os dias atuais.
Igreja
Matriz de São José do Seridó - Crédito
da imagem: Acervo pessoal da Profa. Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)
A maior
devoção religiosa da população é ao glorioso São José, comemorado anualmente
durante o mês de setembro nas festas do padroeiro. Nos dias atuais a população
apresenta outras devoções religiosas significativas, como Nossa Senhora da Luz
(padroeira do Bairro Nova Bonita), Santa Luzia (padroeira da comunidade rural
Caatinga Grande), São Paulo (padroeiro da comunidade rural São Paulo) e Nossa
Senhora Aparecida (localizado no Monte de dona Vitória).
A PASSAGEM DE
DISTRITO MUNICIPAL PARA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
Com o Decreto
nº 603 de 31 de outubro de 1938, São José da Bonita deixou de ser povoado e
passou à categoria de Distrito Municipal de Jardim do Seridó, tendo como sede a
Vila que a partir daí, teve sua denominação alterada, passando a ser chamado de
São José do Seridó, por determinação do Poder Judiciário. Seridó designava a
região sertaneja que o Distrito pertencia, nome que prevalece até os dias
atuais.
Essa passagem
de Povoado a Distrito foi importante para que houvesse a possibilidade de
instalação de um Cartório no local, facilitando a vida dos moradores, já que
tudo era centrado em Jardim do Seridó.
A instalação
desse Cartório objetivava, principalmente, fazer os registros de nascimento,
óbitos e as escrituras de imóveis das propriedades rurais e das residências da
zona urbana.
Isso só se
tornou possível, graças a articulação de alguns moradores do lugar, junto as
lideranças jardinenses. São José, também tinha representantes na política
jardinense. É o caso de Justino Pereira Dantas, que foi vereador por quatro
vezes e prefeito interino por duas vezes.
Com o passar
das décadas, os moradores do Distrito de São José estavam insatisfeitos com a
administração municipal de Jardim do Seridó, pelo fato do mesmo não receber
investimentos frequentemente e, por isso, buscaram sua soberania em relação ao
município de Jardim do Seridó. Também contribuiu para impulsionar o processo de
emancipação política, o desmembramento que estava ocorrendo em outros
municípios no Rio Grande do Norte e na Região Seridó, como é o caso do
município de Santana do Seridó (que obteve sua emancipação política em 10 de
maio de 1962 com a Lei nº 2770).
De acordo com
a Ata de Instalação do Município, São José do Seridó foi criado pela Lei nº
2793 de 11 de maio de 1962, elaborada pelo vereador Moisés Sátiro da Silva,
ratificada pela Lei nº 2841 de 26 de março de 1963. O prefeito de Jardim do
Seridó, em cuja gestão foi criado esse município, era Joaquim Alves da Silva.
Por Decreto de
03 de abril de 1963, publicado no Diário Oficial nº 305 de 04 de abril de 1963,
o então governador Aluísio Alves nomeou João Raimundo Pereira (Cabloco João)
como prefeito municipal. A sessão solene de instalação do município aconteceu
no dia 07 de abril de 1963 e realizou-se no prédio do Grupo Escolar Jesuíno
Azevedo, às 10:00 horas. O primeiro prefeito eleito foi José Cirilo Alves em
1964.
Relacionamos
alguns nomes que estiveram empenhados no processo de emancipação do município
como Miguel Cirilo, José do Carmo Dantas, João Nóbrega de Azevedo, Raul de
Medeiros Dantas, juntamente com toda a comunidade.
O município de
São José do Seridó – RN, está localizado na Microrregião do Seridó Oriental,
que faz parte da Mesorregião Central Potiguar.
O município
limita-se ao Norte com Cruzeta; ao Sul com Jardim do Seridó; ao Leste com
Acari; ao Oeste com Caicó. A sua posição geográfica é determinada pelas
coordenadas geográficas de 6º26’57” de latitude Sul e 36º52’40” de longitude
Oeste. A distância rodoviária da cidade à Natal é de 240 Km e 192 Km em linha
reta.
O mesmo está
situado a 200m de altitude, numa área de 194,9 Km². De acordo com a contagem de
população feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
1996, o município apresentava um total de 3462 habitantes, sendo 2304 na zona
urbana e 1158 na zona rural, apresentando uma densidade demográfica de 17,8
hab/Km².
A intensa
urbanização é resultado da migração rural urbana, também chamada de êxodo
rural, embora a zona urbana possua uma intensa relação com a zona rural, que
por sua vez possui comunidades rurais bastante representativas como a Caatinga
Grande, Sítio São Paulo e Barragem Passagem das Traíras.
REFERÊNCIAS
COSTA, Maria
José (et al). Estudando alguns aspectos demográficos do município de São
José do Seridó – RN. Caicó: [s.n.], 1999. (Mimeogr.)
______. A
cidade de São José do Seridó em seu movimento histórico - espacial. Caicó:
[s.n.], 2000. (Mimeogr.)
MEDEIROS,
Edite. Resumo em geografia e história de São José do Seridó -RN. São
José do Seridó: Editora do Autor, 1998.
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