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domingo, 5 de novembro de 2017

EVOLUÇÃO POLÍTICO ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO SERIDÓ/RN

Por Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)
São Joseense e professora de Geografia na UERN   Crédito da imagem: Acervo pessoal da Profa. Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)

O SURGIMENTO DO POVOADO DE SÃO JOSÉ DA BONITA

O povoado de São José da Bonita, teve sua fundação oficializada em 04 de novembro de 1917, tendo como marco, a realização de uma feira livre numa latada coberta com palhas, feita no entorno de um grande tamarindeiro. Nesta feira, destacavam-se os gêneros alimentícios e as “fazendas” (tecidos). Atualmente, no local da 1ª feira, está o Mercado Público, que fica no centro comercial da cidade.

O povoamento foi-se dando de forma proposital, ao mesmo tempo, obedecendo ao pensamento comum dos fazendeiros. O substrato da economia local era a pecuária e a cotonicultura.

No mesmo ano, por ocasião da noite de Natal, ao lado da latada da feira, o Pe. Antônio Vicente da Costa celebrava a 1ª missa, numa barraca ornamentada por dona Berila Medeiros, de acordo com informações colhidas durante as entrevistas. Essa latada, também foi palco de uma violenta briga, que teve como resultado a morte do 1º delegado do povoado, Sr. Manoel Theodoro, em 01/04/1918.

Rua da Prefeitura, Câmara de Vereadores, antiga Maternidade e Sindicato dos Trabalhadores Rurais -  Crédito da imagem: Acervo pessoal da Profa. Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)

O Mercado Público de São José foi inaugurado em 1920, sendo considerado uma das construções mais importantes para o núcleo urbano do Povoado, possuindo significativo valor histórico e cultural para o município até os dias atuais. Registra-se que a Feira Livre da cidade se concentra no entorno do Mercado Público aos domingos, resiste ao tempo, mesmo com grandes supermercados na cidade.
            
Podemos dizer que a povoação foi muito promissora, principalmente no tocante à questão comercial, que era simultaneamente varejista a atacadista. Geralmente o dono da mercearia era quem comprava o algodão. Então havia aquela “arrumação” ou “acordo” no início do ano entre comerciantes e fazendeiros, para que estes comprassem “em grosso” e pagassem com a colheita do algodão.
            
Além das casas, posterior a fundação do povoado, teve início a construção da Capela de São José, com recursos da comunidade. Em 1917, foi fincada a pedra fundamental para sua construção, mas o seu início, de fato, foi em janeiro de 1918 e a conclusão em 1920.“Seus altares foram construídos em 1922” (MEDEIROS, 1998).
            
A primeira Festa do Padroeiro São José aconteceu em 19 de março de 1918. Porém em 1921, isso mudou, devido às chuvas e a época da colheita do algodão, que geralmente ocorria de setembro a outubro. Justifica-se a mudança por que no mês de março, quando é comemorado o dia de São José, não havia colheita do algodão e as pessoas não tinham dinheiro para arrematar as “prendas” do leilão. Com isso, a Capela arrecadava pouco dinheiro.

De acordo com relatos, o Sr. Justino Pereira Dantas foi um dos principais articuladores dessa mudança do período da festa do padroeiro, ou seja, de março para setembro, já que ele era tio de Monsenhor Walfredo Gurgel, que tinha influência considerável junto ao bispado caicoense da época.

O Cemitério Público também foi uma das primeiras construções do povoado. Em 1918 foi sepultado no mesmo um morador do povoado, o senhor José Mindé Pereira.

Na década de 1920, com o surgimento de Cruzeta, houve um declínio no crescimento do povoado local, visto que essa, passou a “atrair” pessoas do povoado local para lá.

Pode-se dizer que além da necessidade comercial, outro fator que influenciou na consolidação do povoado, foi a religiosidade dos moradores, já que na época das festas religiosas e das missas (que eram raras), os fazendeiros e moradores vinham com suas famílias para a sede do povoado.

A paisagem urbana chama atenção pelas casas geminadas. De acordo com entrevistados “Inclusive, tinha agropecuaristas que permitiam que seu amigo fazendeiro construísse sua casa parede meia com a dele, já economizando uma parte”. Ainda hoje é possível observar nas casas mais antigas, principalmente na Rua Manoel Theodoro e Avenida Justino 

Dantas, algumas residências que ainda apresentam essa característica arquitetônica de casas geminadas.

As casas geminadas são cada vez mais raras no Seridó Potiguar, portanto é importante que haja preservação desse importante patrimônio arquitetônico histórico valioso, presente no nosso município.

A religiosidade dos pioneiros do povoamento bonitense pode ser considerada como um elemento importante da formação territorial do município, e está presente na cultura popular até os dias atuais.

Igreja Matriz de São José do Seridó - Crédito da imagem: Acervo pessoal da Profa. Maria José Costa Fernandes (Zezé Costa)

A maior devoção religiosa da população é ao glorioso São José, comemorado anualmente durante o mês de setembro nas festas do padroeiro. Nos dias atuais a população apresenta outras devoções religiosas significativas, como Nossa Senhora da Luz (padroeira do Bairro Nova Bonita), Santa Luzia (padroeira da comunidade rural Caatinga Grande), São Paulo (padroeiro da comunidade rural São Paulo) e Nossa Senhora Aparecida (localizado no Monte de dona Vitória).


A PASSAGEM DE DISTRITO MUNICIPAL PARA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

Com o Decreto nº 603 de 31 de outubro de 1938, São José da Bonita deixou de ser povoado e passou à categoria de Distrito Municipal de Jardim do Seridó, tendo como sede a Vila que a partir daí, teve sua denominação alterada, passando a ser chamado de São José do Seridó, por determinação do Poder Judiciário. Seridó designava a região sertaneja que o Distrito pertencia, nome que prevalece até os dias atuais.

Essa passagem de Povoado a Distrito foi importante para que houvesse a possibilidade de instalação de um Cartório no local, facilitando a vida dos moradores, já que tudo era centrado em Jardim do Seridó.

A instalação desse Cartório objetivava, principalmente, fazer os registros de nascimento, óbitos e as escrituras de imóveis das propriedades rurais e das residências da zona urbana.

Isso só se tornou possível, graças a articulação de alguns moradores do lugar, junto as lideranças jardinenses. São José, também tinha representantes na política jardinense. É o caso de Justino Pereira Dantas, que foi vereador por quatro vezes e prefeito interino por duas vezes.

Com o passar das décadas, os moradores do Distrito de São José estavam insatisfeitos com a administração municipal de Jardim do Seridó, pelo fato do mesmo não receber investimentos frequentemente e, por isso, buscaram sua soberania em relação ao município de Jardim do Seridó. Também contribuiu para impulsionar o processo de emancipação política, o desmembramento que estava ocorrendo em outros municípios no Rio Grande do Norte e na Região Seridó, como é o caso do município de Santana do Seridó (que obteve sua emancipação política em 10 de maio de 1962 com a Lei nº 2770).

De acordo com a Ata de Instalação do Município, São José do Seridó foi criado pela Lei nº 2793 de 11 de maio de 1962, elaborada pelo vereador Moisés Sátiro da Silva, ratificada pela Lei nº 2841 de 26 de março de 1963. O prefeito de Jardim do Seridó, em cuja gestão foi criado esse município, era Joaquim Alves da Silva.

Por Decreto de 03 de abril de 1963, publicado no Diário Oficial nº 305 de 04 de abril de 1963, o então governador Aluísio Alves nomeou João Raimundo Pereira (Cabloco João) como prefeito municipal. A sessão solene de instalação do município aconteceu no dia 07 de abril de 1963 e realizou-se no prédio do Grupo Escolar Jesuíno Azevedo, às 10:00 horas. O primeiro prefeito eleito foi José Cirilo Alves em 1964.

Relacionamos alguns nomes que estiveram empenhados no processo de emancipação do município como Miguel Cirilo, José do Carmo Dantas, João Nóbrega de Azevedo, Raul de Medeiros Dantas, juntamente com toda a comunidade.

O município de São José do Seridó – RN, está localizado na Microrregião do Seridó Oriental, que faz parte da Mesorregião Central Potiguar.

O município limita-se ao Norte com Cruzeta; ao Sul com Jardim do Seridó; ao Leste com Acari; ao Oeste com Caicó. A sua posição geográfica é determinada pelas coordenadas geográficas de 6º26’57” de latitude Sul e 36º52’40” de longitude Oeste. A distância rodoviária da cidade à Natal é de 240 Km e 192 Km em linha reta.

O mesmo está situado a 200m de altitude, numa área de 194,9 Km². De acordo com a contagem de população feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1996, o município apresentava um total de 3462 habitantes, sendo 2304 na zona urbana e 1158 na zona rural, apresentando uma densidade demográfica de 17,8 hab/Km².

A intensa urbanização é resultado da migração rural urbana, também chamada de êxodo rural, embora a zona urbana possua uma intensa relação com a zona rural, que por sua vez possui comunidades rurais bastante representativas como a Caatinga Grande, Sítio São Paulo e Barragem Passagem das Traíras.

REFERÊNCIAS

COSTA, Maria José (et al). Estudando alguns aspectos demográficos do município de São José do Seridó – RN. Caicó: [s.n.], 1999. (Mimeogr.)
______. A cidade de São José do Seridó em seu movimento histórico - espacial. Caicó: [s.n.], 2000. (Mimeogr.)
MEDEIROS, Edite. Resumo em geografia e história de São José do Seridó -RN. São José do Seridó: Editora do Autor, 1998.


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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