Por Chales Garrido
Prezados,
saudações.
É sempre uma
grande alegria poder reencontrá-los, reafirmando o carinho e respeito por todos
os leitores da página, sempre valorizando o trabalho dos pesquisadores que aqui
inserem seus respectivos trabalhos.
Soldado Antônio Jacó o Mané Veio
Hoje, trazemos
o relato do soldado Antônio Jacó, mais conhecido como "Mané Veio",
quando o mesmo participara do combate em que foram abatidos três cangaceiros.
Tive acesso a esse áudio, quando das inúmeras visitas que fiz ao pesquisador
Antônio Amaury, em sua residência, na cidade de São Paulo.
Eleonora vivia
com o cangaceiro Serra Branca, chefe de um subgrupo com aproximadamente cinco
cangaceiros, por sinal, pouco conhecido por viver sempre escondido em terras
alagoanas. Os componentes desse bando não ganharam destaque em combates, saques
ou crimes, fugindo da realidade do mundo que cercava os caminhos do banditismo,
vida cheia de entrechoques perigosos e violentos.
No dia vinte de fevereiro de mil novecentos e trinta e oito, com as rodagens cercadas por volantes, que davam segurança e proteção ao interventor Osmar Loureiro, de viagem pelo sertão alagoano. O tenente João Bezerra deixara sua volante nas proximidades do Inhapí, ao cômodo do soldado Juvêncio, totalizando nove homens na composição, arranchados perto de uma cacimba.
Todos estavam bem à vontade, desarreados dos "bornais ", chapéus e cartucheiras, estando alguns sem alpercatas.
Com o amanhecer, entre nove e dez horas, enquanto Antonio Jacó tirava água do riacho, observou um cachorro que se aproximou da cacimba e desconfiou que, pela ornamentada coleira que possuía, só podia ser de algum cangaceiro. Ele tinha razão, era o grupo de Serra Branca, que vinha se aproximando.
O chefe trazia nas costas uma banda de bode, sendo seguido pela mulher, Eleonora, e mais dois companheiros, entre eles o Ameaça. Antonio Jacó viu quando o soldado Cornélio levantou e empunhou o fuzil, se preparando para atirar, enquanto ele ajeitava na cintura, suas cartucheiras com vinte e cinco capsulas. O tiro zoou, partindo da arma de Cornélio. Jacó correu em perseguição aos cangaceiros, sendo acompanhado pelo soldado Zé Gomes. Na frente de Antonio Jacó, corria o cangaceiro Serra Branca, mais adiante, tentava fugir Eleonora . Jacó gritou:
- Se vira pra
brigar!
Eu atirando...
atirando e correndo. Aqui e acolá ele (o cangaceiro) se virava, dava um tiro e
corria. Até que se apadrinhou numa catingueira, mas ficou assim meio de fora,
aí tive a oportunidade de atirar nele. A bala pegou assim na altura da pá com
as costelas, e saiu do outro lado. Ele se torceu, jogou a banda de bode pra um
lado e correu. Ai eu vi que o ferimento era grave, pois estava sangrando muito.
Quando ele saiu correndo, eu sai na carreira atrás dele de novo. Adiante tinha
um riacho, ele pulou embaixo, já com pouca força.
O riacho tinha um metro e meio de fundura, mas estava seco. Na carreira que eu
ia, nem deu pra parar na ribanceira. Ele tava com o rifle armado e pronto para
atirar, aí eu pulei em cima dele. Ele assombrou-se com o que viu e correu.
Quando virou as costas, aproveitei e atirei. Ele caiu debruçado. Mas vi que não
tinha morrido. Quando caiu, a mulher (Eleonora) que ia à frente, viu que ele
não podia mais correr, virou-se e abriu os braços.
Não sei porque ela abriu os braços assim, porque foi tudo rápido, não deu para pensar em nada. Naquele instante, Zé Baixinho, vinha atrás de mim, sem eu saber, acompanhando aquela correria toda. Ele mirou o mosquetão e atirou na mulher de braços abertos e acertou bem no meio da testa . Foi um tiro só. Ela tombou no chão na mesma hora.
O soldado Zé Baixinho, aproximou-se de Serra Branca . O cangaceiro apesar dos tiros que havia tomado, levantou-se e atirou, Zé Baixinho caiu entre os matos.
Dei mais um tiro nele e acabei de matar. Zé Baixinho levantou-se apenas atordoado pelo susto, sem ser ferido.
Eu cortei a cabeça do casal, amarrei um crânio no outro pelos cabelos e retornamos à cacimba, onde estávamos arranchados .
Ao chegar lá, Cornélio estava com a cabeça do cangaceiro Ameaça, separada do corpo, cortada a golpe de facão".
Fim do
Depoimento.
Informações
complementares:
Os soldados
levantaram as cabeças cortadas mostrando-as aos outros. Depois de alguns
minutos de conversa, diante da observação do tenente João Bezerra, foi que eles
foram ver que Antonio Jacó, tinha perseguido os cangaceiros, estando descalço,
sem camisa e sem chapéu.
A volante retornou à Piranhas-Al, transportando as cabeças. De lá, foram para Pedra (atual Delmiro Gouveia ), seguindo rumo à Santana do Ipanema, onde entregaram os "troféus" aos coronéis Zé Lucena e Teodoreto de Camargo Nascimento. Antonio Jacó foi promovido a cabo, pelo ato de bravura. Porém, não quis aceitar e repassou à patente ao amigo Juvêncio.
Em Santana do Ipanema, os soldados Cornélio, Zé Baixinho, Elias, Otacílio, Zé Gomes e mais alguns companheiros, prestaram contas aos superiores hierárquicos, tendo por provas o espólio das vitimas abatidas em combate.
Entre as macambiras espinhentas da caatinga, três corpos alimentavam animais selvagens, enquanto na fazenda Lajedo do Boi, os pais de Eleonora sofriam a perda da filha querida .
O Padre Demuriês, pároco na região de Mata Grande, Canapi, Inhapi, criava em segredo o filho de Eleonora e Serra Branca, um menino chamado Francisco de Sá.
Assim que ficou sabendo da morte da amiga cangaceira, convocou alguns fiéis e foi em segredo, enterrar os corpos, chegando com facilidade ao lugar, sendo auxiliado por vaqueiros conhecedores da região. No local, o padre encomendou as pobres almas e as enterrou em covas rasas.
Vamos à
análise da "foto-montagem", por gentileza:
1 - As três
cabeças em cima de um caixote de madeira, tendo ao lado o espólio do bando. Pela
ordem, da esquerda para direita; Serra Branca, Eleonora, e Ameaça.
2 - A volante
posa ao lado dos "troféus". O tenente João Bezerra, que cinco meses
adiante seria o homem a comandar o combate do Angico, é indicado pela seta
verde. Antônio Jacó é marcado na imagem com uma seta vermelha. Zé baixinho, o
de seta preta.
3 - Outro
momento da volante, Antônio Jacó, é indicado pela seta vermelha.
4 - Amigos,
vejam como o nosso trabalho é sacrificante. Essa imagem que vocês podem
observar, é exatamente o momento em que, no ano de dois mil e doze, o
pesquisador Luiz Ruben e eu, procurávamos o exato local onde ocorreu esse
fatídico episódio. Na ocasião, andamos aproximadamente cinquenta quilômetros,
batendo de porta em porta, perguntando a um e a outro, destruindo o veículo em
estradas carroçáveis horrendas, e nada conseguimos encontrar. Ninguém
sabe...ninguém viu...tudo se perdeu. Porém, fiquem certos de uma coisa, foi
exatamente nessas imediações em que a foto foi batida, que aconteceu o combate.
5 - A última
foto de Antônio Jacó (falecido em 2002), cedida gentilmente pela minha querida
amiga, Maria Luíza Rodrigues, cunhada dele.
Amigos,
creiam, vocês são a razão maior do nosso trabalho.
Um grande abraço e até breve.
Um grande abraço e até breve.
Charles
Garrido
Pesquisador - Fortaleza-CE.
Pesquisador - Fortaleza-CE.
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