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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

CEL. MANOEL NETO E, A CHACINA DA FAZENDA. TAPERA ( FAMÍLIA GILO)

Por Leonardo Gominho... (pesquisador/escritor)
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Horácio Cavalcanti de Albuquerque, filho de Manoel Cavalcanti de Albuquerque (Dé - AFN, Ttn 84), nasceu em 23.08.1891. Foi, na vila de Floresta, aluno do velho professor Trindade, em 1901. Fortunato de Sá Gominho (Siato), seu colega de escola, recordou: “tivemos a oportunidade de nos submeter por mais de uma vez às boas sabatinas, com perguntas e respostas recíprocas e com palmatórias em nossas mãos, nos dias de sexta-feira. Enquanto eu, felizmente, sempre consegui sair das mesmas vitorioso, plenamente livre da palmatória indesejável, Horácio tinha grandes e boas mãos que bem suportavam a ação da festejada palmatória”.

Membro de uma das mais tradicionais, ilustres e honradas famílias de Floresta, Horácio foi, entretanto, uma ovelha desgarrada. Denunciado como implicado em furtos de animais, foi, segundo Billy Jaynes Chandler (Lampião, o rei dos cangaceiros, p. 92), “condenado ‘in absentia’, no meado de 1925”. Passou a integrar o grupo de Lampião. Diz Chandler: “Este acontecimento iria trazer terríveis conseqüências para a família Gilo, de Floresta, pois um de seus membros, Manoel, estava entre os que tinham acusado Horácio de roubo de cavalos.

Pouco antes do seu julgamento, Horácio e dois cangaceiros apareceram uma madrugada na fazenda Tapera, em Floresta, onde moravam os Gilo, e, depois de acordar todos que lá estavam, procuraram por Manoel por toda a casa, dizendo que iam matá-lo. Não o encontrando, ameaçaram matar seu pai, Donato, mas foram embora sem o fazer.”

Horácio tramou então uma das mais sangrentas chacinas verificadas naqueles tempos. É ainda Billy Chandler quem diz que chegou às mãos de Lampião uma carta, feita “como se fosse pelos Gilo, mas escrita pela mulher de Horácio”. Não só insultava como punha em dúvida a coragem do bandido. Aquilo era demais para Virgulino.

Sentindo-se ameaçado, Manoel de Gilo, temeroso, levou sua inquietação ao conhecimento do capitão Muniz de Farias, comandante de uma grande força volante estacionada em Floresta. Esclarece João Gomes de Lira (obra citada, p. 317) que o capitão aconselhou a Manoel de Gilo, “junto a toda a família, armarem-se na fazenda Tapera e aguardarem a vinda dos bandidos.” Assim, no momento de um ataque, “podia ficar Manoel de Gilo despreocupado, pois a Força daria retaguarda.” E Manoel voltou tranqüilo a sua fazenda.

Na madrugada de um sábado, dia 28 de agosto de 1926 (alguns autores, erradamente, indicam esse dia como sendo 26 de agosto), ainda turva a noite, “a barra ainda longe”, Lampião iniciou a execução do seu plano para massacrar os moradores da Tapera. Ao seu lado, Horácio Cavalcanti de Albuquerque. Batem à porta dos vizinhos de Gilo, prendendo todos. Amarradas as mãos atrás das costas, foram conduzidos a uma quixabeira que ficava perto da casa, sendo ali vigiados severamente.

Conta Malta Neto (Memórias de um cobrador de impostos, p. 93) que então “Lampião cercou a casa cuidadosamente, tomando os pontos aconselhados pela prudência e disparou alguns tiros para o ar, para despertar seus inimigos, pois sabia todos presos numa armadilha mortal, inteiramente a sua mercê”.

A resposta dos Gilo não se fez esperar. O tempo se fechou. Cerca de 40 cangaceiros disparavam sobre a casa de taipa; os demais tomavam a estrada que levava a Floresta, aprisionando os feirantes que para ali se dirigiam, ou se posicionavam à espera da força que esperavam vir da cidade em socorro aos atacados. Não queriam surpresas.

A notícia do ataque, entretanto, chegou a Floresta. Diz João Gomes de Lira que o capitão Muniz de Farias, “sem saber o que fazer, corria de um lado para o outro sem tomar nenhuma resolução”.

“As famílias da cidade de Floresta, penalizadas e compadecidas com a situação, dirigiam-se ao capitão pedindo que fosse socorrer aquela gente”. “O capitão mandava tocar reunir e logo mandava tocar debandar.”

O jovem anspeçada Manuel Neto fazia parte da força do capitão Muniz. Com o braço na tipóia, ainda sentindo o ferimento recebido na Caraíba, insistia com o superior, pedindo-lhe uma tropa para socorrer os Gilo. O capitão discordava. Alegava que não poderia deixar a cidade desguarnecida.

Manuel Neto insistia: se 10 homens o acompanhassem, iria por conta própria lutar com o grupo de cangaceiros, que sabia dispor de mais de cem bandidos. Passaram para o seu lado dez policiais.

Nesse momento ainda interferiu João Gominho Filho, amigo de Farias. Pediu-lhe que “o auxílio fosse melhorado suficientemente, de vez que tínhamos força bastante e não iria fazer falta à nossa cidade uma pequena tropa”, conta Siato (Memórias). Não foi atendido.

O anspeçada não mais esperou. Seguiu correndo, acompanhado dos companheiros, em direção à Tapera, distante cerca de duas léguas. Conta Malta Neto (obra citada) que Manuel Neto, a uns três quilômetros do campo da luta, “dispôs seus homens em três grupos, caminhando por dentro do mato, com cautela, para evitar as desagradáveis surpresas que Lampião sabia tão bem armar, e que ele, Manuel Neto, conhecia tão bem pelas longas batalhas que havia travado com o bandido.

Nem por isso deixou de ser surpreendido”. Foi atacado de repente, quando ainda não esperava. A luta que se seguiu foi furiosa e cruel. Os bandidos procuravam envolver a pequena força. Balas caíam “como pingos de chuva”, seguindo-se um combate de cerca de duas horas. João Ferreira de Paula, soldado, tombou varado por balas, quase aos pés de Manuel Neto.

Vendo a munição se acabar, o anspeçada, pesaroso e amargurado, teve de abandonar o infernal fogo. Devido aos movimentos bruscos, sangrava-lhe o ferimento do braço. Ficava, assim, toda a família Gilo à mercê de Horácio e de Lampião. Diz Malta Neto que a taipa da casa foi cedendo aos poucos, “ficando os varais nus, sem a proteção do barro, até o extremo de não restar mais nenhuma argamassa para proteger os lutadores presos na armadilha da morte.”

Billy Chandler (obra citada, p. 93) esclarece que, por volta das 10 horas (o fogo se iniciara às 4 horas), cessaram os tiros dentro da casa. O mais velho dos Gilo - o único homem ainda vivo, na casa - saiu ou foi arrastado. “Lampião puxou do bolso a carta que ele acreditava ser do homem à sua frente, e começou a lê-la.

Gilo protestou e negou a autoria, acrescentando que não sabia ler nem escrever. Lampião, conforme dizem, estava propenso a acreditar na sua inocência, quando Horácio, que estava perto, levantou a pistola, atirou e matou seu inimigo. Ao todo morreram 12 pessoas na fazenda Tapera naquele dia, e, conforme disseram as testemunhas, os corpos estavam espalhados por toda a casa. Das 12 pessoas presentes, só não morreu a mulher de Gilo”. Acrescenta também que morreu uma pessoa que tinha sido detida na estrada, além do soldado. Dos Gilo, morreram Manoel, dois de seus irmãos, seu pai e diversos outros parentes. A tragédia foi total.

Conta Siato que, depois de tudo consumado, “chegou ainda ali o capitão Muniz de Farias, com maior contingente de força, mas nada mais fez a não ser, após informado da situação, regressar para Floresta, deixando de seguir no encalço do grupo, como desejava e pedia o bravo e destemido anspeçada Manuel Neto.”
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Fotos: pescadas no Google para enriquecer a matéria, acima..
A foto de Horácio encontra-se no excelente livro "As cruzes do cangaço..." de Marcos e Cristiano...)

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