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segunda-feira, 19 de março de 2018

LAMPIÃO ERA TEMIDO DENTRO DO ‘SEU MUNDO’



Entre os anos de 1919 a 1927, o banditismo rural tem sua maior extensão no sertão nordestino. Em sete dos noves Estados da Região Nordeste, essa ‘praga social’ se alastrou cobrindo enorme extensão territorial.

Antes dessa fase citada acima, também ocorreram atrocidades de bandoleiros na região. No entanto, esses bandos agiam no em dois ou três Estados cada um, no máximo quatro, limitando suas ações bem próximas as divisas interestaduais. Estudando esse campo de ação, percebemos que sua geografia era repleta de serras e mata bruta de difícil acesso. Daí notarmos o porquê da escolha desses lugares. Como os bandos eram compostos por poucos homens, entre seis a quinze cangaceiros, sua movimentação era rápida. Podiam fazer alguma ‘visita’ a algum povoado, vila ou pequena cidade mais afastada da linha limítrofe, porém, era rápido em suas ações: atacar, saquear e cair fora, numa rapidez que não permitia, por inúmeras vezes, as volantes os alcançarem. Manoel Batista de Morais, o chefe cangaceiro Antônio Silvino, chama-nos a atenção em sua historiografia sangrenta por ter agido em três Estados quase tão somente fora da microrregião sertaneja. Logicamente ele também agira no sertão.

O sertão do Pajeú das Flores, microrregião do interior pernambucano, fora o maior celeiro donde surgiram grandes celerados para comporem os bandos de cangaceiros. Além disso, torna-se também abrigo para aqueles que surgiam em outras microrregiões de outras Províncias e/ou Estados.

No ano de 1924, no sertão baiano, estava ocorrendo uma grande pendenga entre um ‘coronel’, dono de vasta extensão de terras, e um sobrinho por motivos variados, mas, e principalmente, pelo poder político e econômico. Trata-se do ‘coronel’ “João Félix” e de seu sobrinho “José Martina”. O ‘coronel’ era dono da fazenda Esfomeado, locada no município de Curaçá, BA.

Não conseguindo aniquilar o sobrinho e seus jagunços, o ‘coronel’ João Félix tem a ideia de mandar chamar o “Rei do Cangaço” para prestar-lhe esse ‘serviço’. Não tendo, ou sabendo, como entrar em contato direto com o famigerado chefe bandoleiro, comunica-se com antigos ‘amigos’ que perambulavam pelas terras do Pajeú das Flores, ‘os Pedro’.

“Os Pedro” era um bando de cangaceiros composto quase tão somente por familiares, tendo como chefe “Antônio Pedro, Francisco Pedro e Cornélio Pedro”, que, vez por outra prestavam seus serviços a ‘coronéis’ e mesmo ao chefe cangaceiro Lampião, Virgulino Ferreira, quando esse os chamava. O Sociólogo, pesquisador/historiador, Pernambucano de Mello, em seu “Guerreiros do Sol – Violência e banditismo no Nordeste do Brasil”, 5ª edição, refere que “os Pedro”, eram “contraparentes de Lampião”. Talvez essa aproximação consanguíneo tenha levado o coronel baiano a tentar usar os Pedro como via de contato com o “Rei Vesgo”, que na época era o chefe cangaceiro mais destacado e respeitado entre os próprios bandos de bandoleiros.

Uma das coisas que levou Lampião a se destacar nas primeiras páginas dos periódicos foi os seus modos operantes contra a Força Pública. Já referente aos bandoleiros, essa ‘fama’ destaca-se por sua maneira cruel, sangrenta e desumana de agir tanto contra inimigos como contra seus aliados. Sabedores desse detalhe, ou mesmo por razões econômicas, ‘os Pedro’ desaconselham o latifundiário baiano a se aliar a Lampião. Lendo a literatura cangaceira, notamos certa ‘preocupação’ do bando “d’os Pedro” em expandir o conhecimento territorial de Virgulino. Não sabiam estes, que o terceiro filho de José Ferreira já havia dado algumas voltas conhecendo o território baiano e sergipano para que, se num futuro próximo houvesse a necessidade, transpor as águas do “Velho Chico” para território ‘desconhecido’ como realmente ocorreu quatro anos depois. Aí, nessa maneira de agir, é que Lampião levou seu reinado sangrento a permanecer ativo por quase duas décadas: pensar, analisar, calcular tempo de ação em ataque e fuga rápida entre outras. “A coisa não foi adiante porque os Pedro desaconselharam o aliciamento de aliado tão perigoso, lembrando que se Lampião viesse a conhecer as caatingas chãs do noroeste baiano, ficaria andando sempre por lá, e isso “valia por atrair um satanás para o terreiro”.” (MELLO, pg. 269, 2011)

Bem, como na ocasião o sertão nordestino estava infestado por mais de quarenta bandos de cangaceiros aterrorizando os sertanejos, “os Pedro” procuram deixar o contratante sossegado, garantindo que enviariam um bando comandado por um ‘cabra’ que não ficava muito atrás em suas ações de batalhas. O município de Vila Bela, hoje Serra Talhada, PE, contava com inúmeros bandos de meliantes prontos para agirem. Além dos que ali brotaram, havia aqueles bandoleiros que, sabedores de que podiam usar aquelas paragens como coitos, migram para lá. Dentre esses estava o bando comandado pelo cangaceiro natural do município da cidade alagoana da Pedra, hoje Delmiro Gouveia, AL, Dativo Correia Cavalcanti.

Dativo Cavalcanti tinha seu nome de guerra conhecido por “Seu Dô” ou ainda como “Seu Dô da Lagoa do Mato”. “Seu Dô”, que na ocasião vivia próximo a Vila Bela, é comunicado pelo bando dos Pedro das intenções do coronel baiano João Félix em usar os serviços da sua espingarda. Recado recebido, acordo aceito.

O pequeno, mais ‘eficiente’ bando do cangaceiro alagoano “Seu Dô”, era composto pelos seguintes ‘cabras’: “José Necão – cangaceiro “Café Chique”; Benedito Valério – cangaceiro “Mel-com-Terra”; Antônio Valério – cangaceiro “Antônio Batatinha”; Aristides Romão – o cangaceiro “Cravo Roxo”. Essa pequena horda de bandoleiros entra em território baiano e fazem o escarcéu. Suas ações são tão eficientes e sangrentas que o coronel contratante fica em dúvida de não tratar-se do bando do próprio Virgulino.

“(...)valente até a temeridade, Seu Dô extasiara o fazendeiro com a frieza irônica que sabia manter nos momentos mais difíceis, a ponto de, numa dada ocasião, em meio a pesado tiroteio na própria fazenda Esfomeado, estando dentro da casa com os seus homens debaixo de cerco e a ver as portas, janelas e tijolos pipocando na bala, levanta-se e, convocando a cozinheira que se escondia apavorada por trás do fogão... Manda passar café para todos!(...).” (Ob. Ct.)

Sendo bastante “frio”, coisa que se faz necessário em todo e qualquer combatente, “Seu Dô”, sempre chamava atenção de seu contratante por nas horas mais arrochadas, nos vários combates que foram travados contra os seu inimigos, jagunços e cangaceiros pagos por seu sobrinho, sempre manter a calma e pensar em uma saída sem demonstrar medo, receio ou desespero... Nas quebradas do sertão baiano.

Foto ‘A Noite’
Tokdehistória.com
PS// IMAGENS E CARICATURAS MERAMENTE ILUSTRATIVAS

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