Por Sálvio
Siqueira
Entre os anos
de 1919 a 1927, o banditismo rural tem sua maior extensão no sertão nordestino.
Em sete dos noves Estados da Região Nordeste, essa ‘praga social’ se alastrou
cobrindo enorme extensão territorial.
Antes dessa
fase citada acima, também ocorreram atrocidades de bandoleiros na região. No
entanto, esses bandos agiam no em dois ou três Estados cada um, no máximo
quatro, limitando suas ações bem próximas as divisas interestaduais. Estudando
esse campo de ação, percebemos que sua geografia era repleta de serras e mata
bruta de difícil acesso. Daí notarmos o porquê da escolha desses lugares. Como
os bandos eram compostos por poucos homens, entre seis a quinze cangaceiros,
sua movimentação era rápida. Podiam fazer alguma ‘visita’ a algum povoado, vila
ou pequena cidade mais afastada da linha limítrofe, porém, era rápido em suas
ações: atacar, saquear e cair fora, numa rapidez que não permitia, por inúmeras
vezes, as volantes os alcançarem. Manoel Batista de Morais, o chefe cangaceiro
Antônio Silvino, chama-nos a atenção em sua historiografia sangrenta por ter
agido em três Estados quase tão somente fora da microrregião sertaneja.
Logicamente ele também agira no sertão.
O sertão do
Pajeú das Flores, microrregião do interior pernambucano, fora o maior celeiro
donde surgiram grandes celerados para comporem os bandos de cangaceiros. Além
disso, torna-se também abrigo para aqueles que surgiam em outras microrregiões
de outras Províncias e/ou Estados.
No ano de 1924, no sertão baiano, estava ocorrendo uma grande pendenga entre um ‘coronel’, dono de vasta extensão de terras, e um sobrinho por motivos variados, mas, e principalmente, pelo poder político e econômico. Trata-se do ‘coronel’ “João Félix” e de seu sobrinho “José Martina”. O ‘coronel’ era dono da fazenda Esfomeado, locada no município de Curaçá, BA.
Não
conseguindo aniquilar o sobrinho e seus jagunços, o ‘coronel’ João Félix tem a
ideia de mandar chamar o “Rei do Cangaço” para prestar-lhe esse ‘serviço’. Não
tendo, ou sabendo, como entrar em contato direto com o famigerado chefe
bandoleiro, comunica-se com antigos ‘amigos’ que perambulavam pelas terras do
Pajeú das Flores, ‘os Pedro’.
“Os Pedro” era um bando de cangaceiros composto quase tão somente por familiares, tendo como chefe “Antônio Pedro, Francisco Pedro e Cornélio Pedro”, que, vez por outra prestavam seus serviços a ‘coronéis’ e mesmo ao chefe cangaceiro Lampião, Virgulino Ferreira, quando esse os chamava. O Sociólogo, pesquisador/historiador, Pernambucano de Mello, em seu “Guerreiros do Sol – Violência e banditismo no Nordeste do Brasil”, 5ª edição, refere que “os Pedro”, eram “contraparentes de Lampião”. Talvez essa aproximação consanguíneo tenha levado o coronel baiano a tentar usar os Pedro como via de contato com o “Rei Vesgo”, que na época era o chefe cangaceiro mais destacado e respeitado entre os próprios bandos de bandoleiros.
Uma das coisas
que levou Lampião a se destacar nas primeiras páginas dos periódicos foi os
seus modos operantes contra a Força Pública. Já referente aos bandoleiros, essa
‘fama’ destaca-se por sua maneira cruel, sangrenta e desumana de agir tanto
contra inimigos como contra seus aliados. Sabedores desse detalhe, ou mesmo por
razões econômicas, ‘os Pedro’ desaconselham o latifundiário baiano a se aliar a
Lampião. Lendo a literatura cangaceira, notamos certa ‘preocupação’ do bando
“d’os Pedro” em expandir o conhecimento territorial de Virgulino. Não sabiam
estes, que o terceiro filho de José Ferreira já havia dado algumas voltas
conhecendo o território baiano e sergipano para que, se num futuro próximo
houvesse a necessidade, transpor as águas do “Velho Chico” para território
‘desconhecido’ como realmente ocorreu quatro anos depois. Aí, nessa maneira de
agir, é que Lampião levou seu reinado sangrento a permanecer ativo por quase
duas décadas: pensar, analisar, calcular tempo de ação em ataque e fuga rápida
entre outras. “A coisa não foi adiante porque os Pedro desaconselharam o
aliciamento de aliado tão perigoso, lembrando que se Lampião viesse a conhecer
as caatingas chãs do noroeste baiano, ficaria andando sempre por lá, e isso
“valia por atrair um satanás para o terreiro”.” (MELLO, pg. 269, 2011)
Bem, como na
ocasião o sertão nordestino estava infestado por mais de quarenta bandos de
cangaceiros aterrorizando os sertanejos, “os Pedro” procuram deixar o
contratante sossegado, garantindo que enviariam um bando comandado por um
‘cabra’ que não ficava muito atrás em suas ações de batalhas. O município de
Vila Bela, hoje Serra Talhada, PE, contava com inúmeros bandos de meliantes
prontos para agirem. Além dos que ali brotaram, havia aqueles bandoleiros que,
sabedores de que podiam usar aquelas paragens como coitos, migram para lá.
Dentre esses estava o bando comandado pelo cangaceiro natural do município da
cidade alagoana da Pedra, hoje Delmiro Gouveia, AL, Dativo Correia Cavalcanti.
Dativo
Cavalcanti tinha seu nome de guerra conhecido por “Seu Dô” ou ainda como “Seu
Dô da Lagoa do Mato”. “Seu Dô”, que na ocasião vivia próximo a Vila Bela, é
comunicado pelo bando dos Pedro das intenções do coronel baiano João Félix em
usar os serviços da sua espingarda. Recado recebido, acordo aceito.
O pequeno,
mais ‘eficiente’ bando do cangaceiro alagoano “Seu Dô”, era composto pelos
seguintes ‘cabras’: “José Necão – cangaceiro “Café Chique”; Benedito Valério –
cangaceiro “Mel-com-Terra”; Antônio Valério – cangaceiro “Antônio Batatinha”;
Aristides Romão – o cangaceiro “Cravo Roxo”. Essa pequena horda de bandoleiros
entra em território baiano e fazem o escarcéu. Suas ações são tão eficientes e
sangrentas que o coronel contratante fica em dúvida de não tratar-se do bando
do próprio Virgulino.
“(...)valente
até a temeridade, Seu Dô extasiara o fazendeiro com a frieza irônica que sabia
manter nos momentos mais difíceis, a ponto de, numa dada ocasião, em meio a
pesado tiroteio na própria fazenda Esfomeado, estando dentro da casa com os
seus homens debaixo de cerco e a ver as portas, janelas e tijolos pipocando na
bala, levanta-se e, convocando a cozinheira que se escondia apavorada por trás
do fogão... Manda passar café para todos!(...).” (Ob. Ct.)
Sendo bastante
“frio”, coisa que se faz necessário em todo e qualquer combatente, “Seu Dô”,
sempre chamava atenção de seu contratante por nas horas mais arrochadas, nos
vários combates que foram travados contra os seu inimigos, jagunços e
cangaceiros pagos por seu sobrinho, sempre manter a calma e pensar em uma saída
sem demonstrar medo, receio ou desespero... Nas quebradas do sertão baiano.
Foto ‘A Noite’
Tokdehistória.com
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PS// IMAGENS E
CARICATURAS MERAMENTE ILUSTRATIVAS
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