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terça-feira, 1 de janeiro de 2019

ENTREVISTA;LABAREDA A ESTÁCIO DE LIMA

Por Alfredo Bonessi

"Depois da passagem por Curaçá, Lampião diterminô qui Luiz Pêdo, eu, Anjo Roque, i mais outro cabra, nóis deixasse a Incruzêra, pra si encontra nus Trêis Riacho. Ele siguiu prua istrada i nóis pru outra. Nóis siguimo pula istrada qui ia toca in casa di Benevide Preto, portigido di Lampião. 


Quano cheguemo na casa du Benevide Preto, êle preguntô:

- Quem são voceis ? São força ou são cangacêro ?

Cumpade Luiz Pêdo arrespondeu a êle:

- Nun lhe interessa, u qui interessa é você bota cumida pra gente cumê.

Êle disse:

-Nun dô cumida, nem a cangacêro, nem a macaco !

Déiz anu preso ! Eu, Anjo Roque da Costa, entrei na casa dele, i incontrei um home preso. Benevide tinha prindido u home, fazia uns 10 ano, pru causa da fia di um vaquêro, u rapáiz buliu cum ela. O rapáiz disse:

- To preso aqui, fáis 10 ano ! 

Tava dum lado da parede i a corrente, cum qui êle tava amarrado, furava a parede, indo prega num cepo du outro lado.
Cagava, mijava, drumia e cumia, amarrado. Era um fedo horrive. Mosca zunindo. I o home si acabano...
Eu disse:

-Levanta rapáiz !

Êle má si alevanto, torno a caí, apois tava cum as pernas sem pude mexe. Eu chamei Benevide Preto i disse:

- Você é marvado. Cumu é qui você prende um home, nua cundição dessa ? Lampião sabeno disso tu tava sangrado. Vamo, sorte u home...

Êle foi, distrancô u cadiado i sortô u home, a purso.
Um dus cabra qui tava mais eu, passo u cacete in Benevide Preto. Ele disse:

- Você nun pode dá in mim.

Quando percuremo Benevide na sala, êle já ia nu tabulêro, sem chapéu, correno, cumo um danado. Nóis aí, afroxemo as ispingarda in riba dele, atiremo nele, mas uns tiro nun pego pruque u peste tava sumido.Di noite, incontremo cumpade Lampião qui tinha sabido dus conticido. Pulo Benevide Preto. Recramô cum nóis:

- Pra qui vocêis buliro cum Benevide Preto ?

Cumpade Virgino disse:
-Pru quê êle miricia. Marvado ! Tinha prindido um home, déiz ano cunsicutivo, na casa dele. Foi perciso nóis dá nu home banho morno pra vê si sarvava u home. Mas u home nun vai guentá.

Siguimo, in siguida prô Rio Sá, mais um guia. Us “minino” mataro muita gente pulo caminho, di noite: morrero bem umas 10 pessôoa, sem percisão,pula fôrça da cachaça qui nois tava bebeno."

Depoimentos de Labareda a Estácio de Lima, em “ O mundo Estranho dos Cangaceiros” - pág 215-216-217 - Editora Itapoã Ltda – 1965

Alfredo Bonessi - Fortaleza
Sócio da SBEC

http://cariricangaco.blogspot.com/2009/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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