Por Beto Rueda
O ano de 1931
assinalou a mais espantosa e dramática aventura de Lampião: seu homízio no Raso
da Catarina, magnífico, de uma beleza trágica, nos sertões baianos.
Acossado por diversas
volantes policiais, soldados baianos, pernambucanos e alagoanos, a
adivinhar-lhe o rastro invisível, misterioso, desnorteante, fez desse pedaço de
mundo o seu refúgio.
Lampião estava agindo nas longas extensões que iam de Santo Antônio da Glória a Uauá e
de Curaça a Geremoabo, nessas terras de cactus e favelas.
Ninguém sabia
do seu paradeiro. E já a lenda começava outra vez a cercar-lhe o nome, a
audácia, a memória: morrera, desertara, fugira. As aves do céu testemunharam a
sua desdita, agonizando de sede e fome.
Tenente José Sampaio de Macedo
Um dia, o
tenente José Sampaio Macedo prendeu um sertanejo, matuto, pobre, mas forte e
inteligente. Não permitiu o oficial que o homem sofresse qualquer vexame por
parte da tropa. Deixou-o à vontade, no meio da volante. Três dias depois, por
livre e espontânea iniciativa, o caboclo disse:
- Seu tenente,
eu sei onde está Lampião.
A marcha no
rumo indicada pelo prisioneiro, foi penosa. Tenente e soldados, afundaram no
Raso a pé, tendo como guia rastejador Antônio Cassiano, um pernambucano, e um
sargento de larga experiência e coragem, de nome Luiz Mariano.
Sucedem-se os
dias, sem novidade. De repente, ecoam no deserto, partidos de sobre uma pedra,
sucessivos tiros de fuzil. Era uma sentinela avançada de Virgolino que,
avistando a volante, anunciava ao grupo a sua aproximação. Estabelecera em
torno do seu acampamento no Raso, um cinturão de segurança.
A volante
cerca o bando. O tenente Macedo foi atingido com um tiro no pé, o sargento
Mariano e o guia Cassiano também são feridos. O fogo fechou-se rápido e
nutrido.
Virgolino
recua, afundando, mais e mais, no Raso. Desaparece em poucos instantes, debaixo
de gritos e imprecações dos seus homens e dos soldados.
No chão, o
tenente Macedo contempla os despojos deixados pelo famoso cangaceiro: roupa,
chapéus de couro, vestidos, pentes, tesouras, chales, agulhas, linhas e...água!
Todos os
objetos foram queimados por ordem do tenente, que iniciou a sua longa jornada
de volta, carregado nos ombros do sertanejo que lhe revelara o paradeiro de
Lampião. Perdera o oficial a dinâmica do pé. Numa rede regressou o sargento
Mariano.
O Capitão já
ia longe, quando a volante retornou: dois bandos de avoantes ensanguentadas
sobre o deserto do Raso...
REFERÊNCIAS:
MACEDO, Nertan.
Lampião. 3. ed. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1970.
PRATA,
Ranulfo.
Lampião. 2. ed. São Paulo: Editora Piratininga, 2010. (Fac-símile de 1934).
Lampião. 2. ed. São Paulo: Editora Piratininga, 2010. (Fac-símile de 1934).
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário