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sábado, 7 de setembro de 2019

A HISTÓRIA DE JOSÉ SAMPAIO DE MACEDO MAJOR BRIGADEIRO DO AR



José Sampaio de Macedo Major Brigadeiro do Ar, barrou o projeto Mucuripe Field em Fortaleza.

Brigadeiro Macedo: – ‘Estou defendendo o crescimento da mais linda Capital do Nordeste.’

Comandante Americano: – ‘Você está me impedindo de construir um dos mais importantes aeroportos da América Latina.’

“O Padre Cícero ‘uma pessoa não muito boa do juízo’ – escrevia cartas para Adolfo Hitler com uma familiaridade impressionante, naturalmente não obtendo resposta” – Macedo.

‘Zé do Crato’ brigadeiro, caçador de Lampião, assessor hollywoodiano bissexto, pioneiro do mítico Correio Aéreo Brasileiro e cachaceiro dos bons, barrou o projeto americano Mucuripe Field em Fortaleza.

A figura do Major Brigadeiro do Ar José Sampaio de Macedo é um capítulo à parte na história da aviação do Ceará. Fundador e primeiro comandante da Base Aérea de Fortaleza, o brigadeiro Macedo foi o principal opositor ao projeto norte-americano Mucuripe Field, que previa a construção de um aeroporto no coração da Aldeota, bairro mais nobre da cidade de Fortaleza.

A iniciativa norte-americana de construir a maior base aérea do Nordeste começou a ser executada durante a Segunda Guerra Mundial. Pelo projeto Mucuripe Field, a pista de pouso e decolagem de aeronaves militares seria construída onde se localiza hoje a Avenida Dom Luís, com instalações físicas a partir do clube Círculo Militar de Fortaleza. A interferência de José Sampaio de Macedo impediu que o projeto estadunidense fosse implantado no Ceará.

DESTEMIDO E DE MUITAS FAÇANHAS

Conhecido por seus biógrafos como um homem destemido, que evocava audácia e muita coragem, Macedo foi personagem de muitas façanhas. Dentre elas figura a estranha passagem do brigadeiro como chefe de uma volante que tinha como objetivo a captura de Lampião e seu bando que, na época, causava terror em alguns municípios do interior baiano. A presença do militar cearense nessa perseguição ao “capitão” Virgulino Ferreira deveu-se a uma solicitação do interventor do Estado da Bahia, também cearense, Juracy Magalhães, que conseguiu sua disposição para tal fim. Outra aventura muito comentada nos meios aeronáuticos foi a passagem de Macedo por Los Angeles, na Califórnia, que tinha como missão trazer para o Brasil, via Chile, um grupo de seis aviões B-17.
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A rota usada para importar os aviões B-17 dos EUA

Enquanto a compra dos aviões não se efetivava, Macedo passou vários dias frequentando os estúdios cinematográficos onde assessorou diretores de cinema que filmavam cenas de batalhas aéreas, a exemplo da película “Patrulha de Bataan”, de Tay Garnett, com Robert Taylor e George Murphy, em 1943.

PRECURSOR DO CAN

Natural da cidade do Crato, onde nasceu no dia 17 de outubro de 1907, José Sampaio de Macedo foi também responsável por várias implantações de campos de pouso no Nordeste brasileiro, que posteriormente passaram a ser utilizados pelo Correio Aéreo. Militar. 
Dentre os muitos voos que participou, um deles é reconhecido por seus biógrafos como um dos mais importantes da história do Correio Aéreo Militar (CAM) e, posteriormente, transformado em Correio Aéreo Nacional (CAN).

Cartaz de propaganda do Correio Aéreo Militar em 1933.

Na companhia do também piloto Nelson Freire Lavanère-Wanderley, José Sampaio de Macedo inaugurou no dia 15 de fevereiro de 1933 a linha Rio de Janeiro – Fortaleza, escalando em Belo Horizonte, Pirapora, Januária, Bom Jesus da Lapa, Barra, Xique-Xique, Remanso, Juazeiro da Bahia, Petrolina, Juazeiro do Norte, Iguatu e Quixadá. A aeronave utilizada neste voo foi um avião Waco, modelo CSO C-21. 

O avião Waco CSO, na inauguração da linha Urugauiana a Porto Alegre, em 23 de junho de 1934, na foto com o Ten Av Rosemiro Leal de Menezes Filho e o Ten Av Levi de Castro  Abreu.

Antes de chegar à capital cearense, Macedo e seu companheiro de voo Lavanère-Wanderley realizaram um pouso na cidade de Juazeiro do Norte. Neste local, ocorreu um encontro histórico dos dois pilotos com o padre Cícero Romão Batista, onde foi mostrado ao lendário sacerdote a importância do voo do CAM para a região do Cariri. Esse encontro despertou grande interesse do brigadeiro Macedo pela figura carismática do Padre. 

Esse fato se tornou evidente na entrevista que concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada na edição do dia 16 de outubro de 1986. Macedo disse ao jornal paulista que o ‘Padre Cícero era um homem tolo, mas tinha mania de grandeza e parecia, em certos momentos, uma pessoa não muito boa do juízo’. 

Macedo fez ainda outra observação sobre o comportamento do velho sacerdote: ‘O Padre escrevia cartas para Adolfo Hitler com uma familiaridade impressionante, naturalmente não obtendo resposta’.

DE MILITAR A PRODUTOR DA CACHAÇA BRIGADEIRO

Em 19 de março de 1951, nessa ocasião ocupando o posto de coronel, Macedo recebeu a promoção de Brigadeiro do Ar e foi transferido para a reserva da Força Aérea Brasileira. Em ato referendado por outro decreto, igualmente datado de 19 de março de 1951, o militar cearense foi nomeado para o posto de major-brigadeiro.

Com o afastamento da vida militar, Macedo passou a residir no município de Quixeramobim, na Fazenda Parelha, de sua propriedade.

De acordo com informações obtidas junto aos familiares do militar cearense, em especial de Ricardo Biscuccia, um dos seus netos, a permanência do brigadeiro na Fazenda Parelha foi de apenas três anos. Levado pela saudade dos seus familiares, o militar retornou à cidade do Crato, na região do Cariri, berço do seu nascimento e local onde havia deixado inúmeros amigos e parentes.

Em nova residência, denominada de Sítio Fernando, o brigadeiro Macedo não deixou de realizar um antigo sonho: dedicar-se à agricultura. O bom desempenho da plantação de cana-de-açúcar em seu novo sítio deixou o militar motivado para a implantação de uma destilaria de álcool e de um engenho. Resultado dessa nova atividade foi a fabricação da cachaça ‘Brigadeiro’.

Mesmo afastado da vida militar, Macedo continuou sendo lembrado em várias oportunidades. Uma delas aconteceu durante as comemorações do 43º aniversário da criação do VI Regimento de Aviação, ocorrida no dia 15 de maio de 1976. Nessa ocasião, o brigadeiro Macedo, tratado carinhosamente por seus colegas de arma da aviação como “Zé do Crato”, ou “Sertanejo”, recebeu simbolicamente do Cel. Aviador José Ruy Álvares o comando da Base Aérea de Fortaleza. 

Nessa mesma oportunidade, o ilustre cearense foi agraciado com a Medalha da Abolição pelo Governo do Estado do Ceará, recebendo a comenda das mãos do então governador Adauto Bezerra. 

Outras honrarias foram também prestadas ao cearense do Crato durante a solenidade de aniversário do VI Regimento. Entre as entidades, que se associaram às homenagens, estavam a Assembleia Legislativa, Câmara Municipal de Fortaleza, Aero Clube do Ceará, Empresa Cearense de Turismo (Emcetur) e Associação dos ex-alunos do Colégio Militar de Fortaleza. 

Ao final das comemorações, a tropa de infantaria da Base Aérea de Fortaleza e os integrantes do esquadrão de ataque (pilotos do 1º do 4º) desfilaram em continência ao major-brigadeiro Macedo e a todos os ex-comandantes presentes. 

Foto: Correio Aéreo Militar chega em Assunção, em janeiro de 1936.

Oficial paraguaio, Maj. Pery Bevilacqua, Emb. Lafayette C. e Silva, Cap Hortêncio e Ten Nicoll.

Macedo faleceu no dia 14 de fevereiro de 1992, em Fortaleza, no Hospital Gastroclínica, de ‘complicações cardíacas e respiratórias’, conforme laudo médico. 

O corpo do brigadeiro Macedo foi trasladado para o Crato em avião da Força Aérea, pilotado pelo então comandante da Base Aérea de Fortaleza, Coronel Aviador Cláudio Queiroz.

Hoje, os restos mortais do Sertanejo da aviação brasileira estão sepultados no jazigo particular da família, no interior da capela no Sítio Fernando, na cidade do Crato.

Essa capela, objeto de desejo pessoal do Brigadeiro, foi construída pelo seu neto, Ricardo Bisccucio, de acordo com projeto do arquiteto húngaro Emílio Hinko, também responsável pelo planejamento arquitetônico da Base Aérea de Fortaleza.

Fonte: RESERVAER, IVONILDO LAVOR, MORAIS VINNA e LAMPIÃO ACESO

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ACORDA CORDEL

Por que não contaram, ainda, as aventuras do famoso Zé do Crato e a sua heróica ‘peitada’ no Mucuripe Field da gringolândia?

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Enviado por jns


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