Por João Mello
José Sampaio
de Macedo Major Brigadeiro do Ar, barrou o projeto Mucuripe
Field em Fortaleza.
Brigadeiro
Macedo: – ‘Estou defendendo o crescimento da mais linda Capital do Nordeste.’
Comandante
Americano: – ‘Você está me impedindo de construir um dos mais importantes
aeroportos da América Latina.’
“O Padre Cícero ‘uma pessoa não muito boa do juízo’ – escrevia cartas para Adolfo Hitler
com uma familiaridade impressionante, naturalmente não obtendo resposta” –
Macedo.
‘Zé do Crato’ brigadeiro, caçador de Lampião, assessor hollywoodiano bissexto, pioneiro do
mítico Correio Aéreo Brasileiro e cachaceiro dos bons, barrou o projeto
americano Mucuripe Field em Fortaleza.
A figura do
Major Brigadeiro do Ar José Sampaio de Macedo é um capítulo à parte na história
da aviação do Ceará. Fundador e primeiro comandante da Base Aérea de Fortaleza,
o brigadeiro Macedo foi o principal opositor ao projeto norte-americano
Mucuripe Field, que previa a construção de um aeroporto no coração da Aldeota,
bairro mais nobre da cidade de Fortaleza.
A iniciativa
norte-americana de construir a maior base aérea do Nordeste começou a ser
executada durante a Segunda Guerra Mundial. Pelo projeto Mucuripe Field, a
pista de pouso e decolagem de aeronaves militares seria construída onde se
localiza hoje a Avenida Dom Luís, com instalações físicas a partir do clube
Círculo Militar de Fortaleza. A interferência de José Sampaio de Macedo impediu
que o projeto estadunidense fosse implantado no Ceará.
DESTEMIDO E DE
MUITAS FAÇANHAS
Conhecido por
seus biógrafos como um homem destemido, que evocava audácia e muita coragem,
Macedo foi personagem de muitas façanhas. Dentre elas figura a estranha
passagem do brigadeiro como chefe de uma volante que tinha como objetivo a
captura de Lampião e seu bando que, na época, causava terror em alguns
municípios do interior baiano. A presença do militar cearense nessa perseguição
ao “capitão” Virgulino Ferreira deveu-se a uma solicitação do interventor do
Estado da Bahia, também cearense, Juracy Magalhães, que conseguiu sua
disposição para tal fim. Outra aventura muito comentada nos meios aeronáuticos foi
a passagem de Macedo por Los Angeles, na Califórnia, que tinha como missão
trazer para o Brasil, via Chile, um grupo de seis aviões B-17.
A rota usada
para importar os aviões B-17 dos EUA
Enquanto a
compra dos aviões não se efetivava, Macedo passou vários dias frequentando os
estúdios cinematográficos onde assessorou diretores de cinema que filmavam
cenas de batalhas aéreas, a exemplo da película “Patrulha de Bataan”, de Tay
Garnett, com Robert Taylor e George Murphy, em 1943.
PRECURSOR DO
CAN
Natural da
cidade do Crato, onde nasceu no dia 17 de outubro de 1907, José Sampaio de
Macedo foi também responsável por várias implantações de campos de pouso no
Nordeste brasileiro, que posteriormente passaram a ser utilizados pelo Correio
Aéreo. Militar.
Dentre os
muitos voos que participou, um deles é reconhecido por seus biógrafos como um
dos mais importantes da história do Correio Aéreo Militar (CAM) e,
posteriormente, transformado em Correio Aéreo Nacional (CAN).
Cartaz de
propaganda do Correio Aéreo Militar em 1933.
Na companhia
do também piloto Nelson Freire Lavanère-Wanderley, José Sampaio de Macedo
inaugurou no dia 15 de fevereiro de 1933 a linha Rio de Janeiro – Fortaleza, escalando
em Belo Horizonte, Pirapora, Januária, Bom Jesus da Lapa, Barra, Xique-Xique,
Remanso, Juazeiro da Bahia, Petrolina, Juazeiro do Norte, Iguatu e Quixadá. A
aeronave utilizada neste voo foi um avião Waco, modelo CSO C-21.
O avião Waco
CSO, na inauguração da linha Urugauiana a Porto Alegre, em 23 de junho de 1934,
na foto com o Ten Av Rosemiro Leal de Menezes Filho e o Ten Av Levi de
Castro Abreu.
Antes de
chegar à capital cearense, Macedo e seu companheiro de voo Lavanère-Wanderley
realizaram um pouso na cidade de Juazeiro do Norte. Neste local, ocorreu um
encontro histórico dos dois pilotos com o padre Cícero Romão Batista, onde foi
mostrado ao lendário sacerdote a importância do voo do CAM para a região do
Cariri. Esse encontro despertou grande interesse do brigadeiro Macedo pela
figura carismática do Padre.
Esse fato se
tornou evidente na entrevista que concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo,
publicada na edição do dia 16 de outubro de 1986. Macedo disse ao jornal
paulista que o ‘Padre Cícero era um homem tolo, mas tinha mania de grandeza e
parecia, em certos momentos, uma pessoa não muito boa do juízo’.
Macedo fez
ainda outra observação sobre o comportamento do velho sacerdote: ‘O Padre
escrevia cartas para Adolfo Hitler com uma familiaridade impressionante,
naturalmente não obtendo resposta’.
DE MILITAR A
PRODUTOR DA CACHAÇA BRIGADEIRO
Em 19 de março
de 1951, nessa ocasião ocupando o posto de coronel, Macedo recebeu a promoção
de Brigadeiro do Ar e foi transferido para a reserva da Força Aérea Brasileira.
Em ato referendado por outro decreto, igualmente datado de 19 de março de 1951,
o militar cearense foi nomeado para o posto de major-brigadeiro.
Com o
afastamento da vida militar, Macedo passou a residir no município de
Quixeramobim, na Fazenda Parelha, de sua propriedade.
De acordo com
informações obtidas junto aos familiares do militar cearense, em especial de
Ricardo Biscuccia, um dos seus netos, a permanência do brigadeiro na Fazenda
Parelha foi de apenas três anos. Levado pela saudade dos seus familiares, o
militar retornou à cidade do Crato, na região do Cariri, berço do seu
nascimento e local onde havia deixado inúmeros amigos e parentes.
Em nova
residência, denominada de Sítio Fernando, o brigadeiro Macedo não deixou de
realizar um antigo sonho: dedicar-se à agricultura. O bom desempenho da
plantação de cana-de-açúcar em seu novo sítio deixou o militar motivado para a
implantação de uma destilaria de álcool e de um engenho. Resultado dessa nova
atividade foi a fabricação da cachaça ‘Brigadeiro’.
Mesmo afastado
da vida militar, Macedo continuou sendo lembrado em várias oportunidades. Uma
delas aconteceu durante as comemorações do 43º aniversário da criação do VI
Regimento de Aviação, ocorrida no dia 15 de maio de 1976. Nessa ocasião, o
brigadeiro Macedo, tratado carinhosamente por seus colegas de arma da aviação
como “Zé do Crato”, ou “Sertanejo”, recebeu simbolicamente do Cel. Aviador José
Ruy Álvares o comando da Base Aérea de Fortaleza.
Nessa mesma
oportunidade, o ilustre cearense foi agraciado com a Medalha da Abolição pelo
Governo do Estado do Ceará, recebendo a comenda das mãos do então governador
Adauto Bezerra.
Outras
honrarias foram também prestadas ao cearense do Crato durante a solenidade de
aniversário do VI Regimento. Entre as entidades, que se associaram às
homenagens, estavam a Assembleia Legislativa, Câmara Municipal de Fortaleza,
Aero Clube do Ceará, Empresa Cearense de Turismo (Emcetur) e Associação dos
ex-alunos do Colégio Militar de Fortaleza.
Ao final das
comemorações, a tropa de infantaria da Base Aérea de Fortaleza e os integrantes
do esquadrão de ataque (pilotos do 1º do 4º) desfilaram em continência ao
major-brigadeiro Macedo e a todos os ex-comandantes presentes.
Foto: Correio
Aéreo Militar chega em Assunção, em janeiro de 1936.
Oficial
paraguaio, Maj. Pery Bevilacqua, Emb. Lafayette C. e Silva, Cap Hortêncio e Ten
Nicoll.
Macedo faleceu
no dia 14 de fevereiro de 1992, em Fortaleza, no Hospital Gastroclínica, de
‘complicações cardíacas e respiratórias’, conforme laudo médico.
O corpo do
brigadeiro Macedo foi trasladado para o Crato em avião da Força Aérea, pilotado
pelo então comandante da Base Aérea de Fortaleza, Coronel Aviador Cláudio
Queiroz.
Hoje, os
restos mortais do Sertanejo da aviação brasileira estão sepultados no jazigo
particular da família, no interior da capela no Sítio Fernando, na cidade do
Crato.
Essa capela,
objeto de desejo pessoal do Brigadeiro, foi construída pelo seu neto, Ricardo
Bisccucio, de acordo com projeto do arquiteto húngaro Emílio Hinko, também
responsável pelo planejamento arquitetônico da Base Aérea de Fortaleza.
Fonte:
RESERVAER, IVONILDO LAVOR, MORAIS VINNA e LAMPIÃO ACESO
***
ACORDA CORDEL
Por que não
contaram, ainda, as aventuras do famoso Zé do Crato e a sua heróica ‘peitada’
no Mucuripe Field da gringolândia?
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Enviado por jns
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