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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

ANÉSIA CAUAÇU “NÃO ERA CANGACEIRA E SIM UMA FAZENDEIRA DESTEMIDA”, DIZ ESCRITOR WILSON MIDLEJ

Escritor Wilson Midlej autografa seu novo livro no dia do lançamento. Foto: Arquivo do autor

Alma inquieta de jornalista e escritor, WILSON MIDLEJ brindou o público da cidade de Jequié com o lançamento do livro “Anésia Cauaçu – Lenda e História no Sertão de Jequié”,  no último dia 28 de outubro, no Centro de Cultura, às 19h, com a presença de integrantes da Academia de Letras e pessoas de diversos segmentos sociais.

Soteropolitano de nascimento e jequieense de coração, Wilson – que milita no jornalismo desde o ano de 1969 -, já publicou outros livros de sua autoria, um deles, o “Crônicas da Bahia sob o Olhar de Jequié”, demonstra claramente, numa prosa poética, sua identidade com o município. Desta vez, com “Anésia Cauaçu”, ele envereda pela história de uma mulher da época Cangaço que aos poucos se transforma em uma lenda do município.

Para se conhecer aspectos desta nova obra e um pouco mais sobre a história da personagem, o blog GICULT entrevistou o escritor WILSON MIDLEJ.

GICULT: Professores e pesquisadores de Jequié e outras regiões publicaram livros e trabalhos acadêmicos sobre Anésia Cauaçu. O que seu livro também ressalta?

WILSON MIDLEJ: Vamos por partes: o professor Emerson Pinto, publicou um livro, que depois foi revisto, ampliado e reeditado sobre o tema. Ele foi uma das fontes da dissertação de mestrado da professora Márcia Auad e do roteiro de cinema de Lula Martins, este último contando com a minha ajuda. Este roteiro está registrado e seus direitos autorais estão devidamente assegurados. Depois, o Domingos Ailton abordou também o assunto em livro. A minha iniciativa de transformar em livro, o roteiro do filme que não aconteceu, atendeu à sugestão de Lula Martins, no sentido de ampliar as pesquisas e transformá-lo num texto literário. Debrucei-me nesta tarefa, ampliando as pesquisas bibliográficas nas citadas obras e outras, adotando maior rigor histórico e acadêmico. Este livro, recém-lançado, reúne elementos ficcionais e recortes históricos com base em pesquisas feitas por mim e o referido cineasta nas obras citadas e ressalta justamente os conflitos entre antigos coronéis da região.

GICULT: A luta da mulher por emancipação e por respeito na sociedade é constante. Em que o conhecimento da história de Anésia contribui para a conquista da igualdade de gênero?

WILSON MIDLEJ: Em minha visão, apesar do empoderamento feminino ocorrido pelas ações de Anésia, é preciso salientar que ao despontar como líder, Anésia Cauaçu não tinha como foco a sua posição diante do grupo. Ademais, ela não era cangaceira e sim uma fazendeira destemida que atirava bem e que incorporou-se na ânsia de vingança da sua família, diante do frio assassinato de Augusto Cauaçu, seu sobrinho. A condição de  mulher, mãe, guerreira, estimulou o nascimento de uma fêmea feroz, um ser humano forte e valente sem, no entanto, abdicar da doçura e feminilidade que a condição de mulher traduz. Na verdade, Anésia Cauaçu não tinha a percepção de que por ser mulher naquele fim de século XIX ela não tinha que ser submissa ou passiva. Tanto que a pesquisadora Marcia Auad, como eu e Lula, não conseguimos nos jornais da época nenhuma foto sequer com Anésia vestida de vaqueiro ou jagunço. Os jornais apresentam ela sempre com vestidos longos, chale nos ombros, revelando o gênero feminino tal como era culturalmente os costumes da época.  Portanto, a história de Anésia Cauaçu em nada contribui para as questões que só vieram a ser levantadas a partir dos anos sessenta com movimentos como Woodstock. Nada impede, entretanto, que venhamos a supor que uma Anésia contemporânea estaria lutando pelos direitos das mulheres, tais como direito à sua autonomia, à integridade de seu corpo, direitos reprodutivos, direito a amar a quem o seu coração palpita... etc.

GICULT: Apesar dos estudos e livros publicados, a vida de Anésia não se popularizou no município e também ainda não foi tratada com relevância pelos poderes institucionais da cidade, como Câmara de Vereadores e Prefeitura, e até nas escolas. Qual sua opinião a esse respeito? O que poderia ser feito?

WILSON MIDLEJ: Olha, meu prezado editor de Gicult, Anésia não se popularizou no município assim como Lindolfo Rocha, Nestor Ribeiro, Alves Pereira, Urbano Gondim, também pouco representam para a população de Jequié que não tem memória pela transição da sua comunidade. Além dos italianos, os ribeiro, os silva, os gondim, etc. Resta muito pouco dos pioneiros por aqui. A maioria dos habitantes de Jequié é oriunda dos anos 40, 50 e 60. Portanto, sem contato com a história do município agora contada através de Anésia Cauaçu. Que venham outros livros, outros autores, quem sabe mais talentosos para fazer vibrar uma história tão vibrante quanto a do sertão de Jequié.


Muitas pessoas prestigiaram o lançamento do livro de W. Midlej sobre Anésia Cauaçu. Foto: Arquivo do autor.


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