Do acervo do José João Sousa
Trecho da
Monografia, o Cangaco no Brssil, sobre a reportagem publicada na Revista “O
Cruzeiro” de 3 de outubro de 1953. Onde a entrevista concedida por João
Ferreira (irmão de Lampião) foi a fonte principal do repórter Luciano Carneiro.
Após deixar o
estado de Pernambuco, a nova sede da família Ferreira foi uma fazenda alugada
em Água Branca, em Alagoas. Esta mudança foi feita provavelmente em 1920 e os
Ferreira já não estavam bem de vida como antes, pois as mudanças tinham abalado
as finanças da família. Infelizmente, a paz que José Ferreira procurava para
sua família, também não seria encontrada em Alagoas. Segundo João Ferreira,
seus irmãos já estavam exaltados e não queriam desistir de se vingarem de
Saturnino. Além disso, os três irmãos Ferreira mais velhos estavam ligados a
Antônio Matilde, que também fora obrigado a se afastar por causa de Saturnino e
dos Nogueira.
De qualquer
modo, parece que nem Matilde nem os Ferreira queriam esquecer e em uma ocasião
voltaram a Pernambuco para atacar as fazendas de Saturnino, matando o gado,
tocando fogo nas casas e causando terror entre os moradores de Saturnino. Algum
tempo depois, o mesmo grupo atacou as fazendas dos Nogueira, em Pernambuco. Em
vista destes acontecimentos, a polícia de Água Branca começou a suspeitar de
Matilde e dos Ferreira. Segundo João Ferreira, o comissário civil da vila de
Pariconhas foi à fazenda onde os Ferreira haviam se estabelecido e revirou
tudo, com a alegação de procurar armas e objetos furtados. Geralmente a polícia
sertaneja era brutal e buscas como estas citadas por João Ferreira significavam
a destruição quase total do conteúdo das casas, além de maus tratos e
espancamentos aos moradores.
Por sorte, a
família Ferreira não se encontrava em casa na hora da batida policial. Mas as
represálias policiais não pararam por aí. Quando o próprio João teve que ir a
Água Branca comprar remédios, a polícia o prendeu, um claro ardil para
intimidar os Ferreira. Virgulino, Antônio e Livino partem à procura do irmão e
são emboscados pelo delegado de Água Branca. Reagem e conseguindo escapar,
enviam um aviso ao delegado que se João não fosse solto, eles tocariam fogo na
cidade. Pode-se perceber que ousadia não faltava ao futuro Lampião e a seus
irmãos, pois mesmo em inferioridade numérica, pareciam dispostos a enfrentar
toda a polícia de Água Branca. Isto não ocorreu e João foi solto. Como não
podiam mais ficar em Água Branca, José Ferreira mais uma vez foi obrigado a se
mudar, “fugir”, segundo João. Entretanto, para José, o problema de seus três
filhos mais velhos era o mais premente no momento e assim decidiu que os três
deixariam Alagoas e que procurassem a família mais tarde.
Durante a
viagem de José Ferreira e os filhos restantes para Mata Grande, falece Maria,
esposa de José. Triste e desanimado, José aceitou a hospitalidade de um amigo
da família, Fragoso, e ficaram na casa deste último, num lugar chamado Engenho.
Eis que antes de partirem e para se vingar, os três irmãos Ferreira, juntamente
com Antônio Matilde, surram o comissário de Pariconhas e arrebentam a mercearia
deste. Também humilharam o delegado, amarrando-o em um poste. Assim,
conseguiram armar uma grande encrenca com a polícia alagoana. É interessante
notar que algumas das testemunhas nesta época já se referiam a Virgulino como
Lampião, de acordo com João Fereira.
O ataque à
cidade de Pariconhas ocorreu no dia 9 de maio de 1921. Nove dias depois, José
Ferreira morreria pelas mãos de uma volante policial chefiada pelo sargento
José Lucena, que buscava prender os irmãos Ferreira. Esta força policial cercou
a casa de Fragoso e assassinou José Ferreira e o proprietário Fragoso.
Por sorte,
João contou que ele e os irmãos menores estavam no campo e sobreviveram. Para
se justificar, a polícia declarou que tinha encontrado na casa objetos roubados
em Pariconhas. Se tiver sido verdade essa versão policial, os rapazes devem ter
visitado o pai depois do ataque a Pariconhas. Este é um ponto crítico na
discussão, pois o ataque à casa de Fragoso não foi justificado por nenhum
acontecimento anterior e, consequentemente, a entrada definitiva de Lampião
para o cangaço foi devido ao assassinato de seu pai pela polícia. Naturalmente,
João Ferreira seguiu aquele ponto de vista. Entretanto, João não se lembrou se
foi em 1920 ou 1921, nem também a sequência exata dos acontecimentos.
A morte de
José Ferreira foi uma das maiores tragédias na vida de Lampião. Na ocasião da
morte de José, seus filhos mais velhos estavam voltando para Mata Grande para
encontrarem o pai e os demais irmãos. Com a notícia da morte do pai, os rapazes
acorreram à propriedade de Fragoso para traçar os novos rumos da família.
Segundo conta João, já a essa altura Virgulino tinha ascendência sobre os
irmãos mais velhos e foi Virgulino quem incumbiu João de levar para Pernambuco
e cuidar dos outros quatro irmãos menores.
Assim, João
partiu e nunca acompanhou seus irmãos no cangaço. Virgulino declarou a Antônio
e Livino que tinham perdido propriedades e criações com as mudanças forçadas,
que a mãe morrera de tanto sofrer e o pai fora assassinado pelos próprios
homens que tinham a obrigação de protegê-lo.
Para
Virgulino, Antônio e Livino a sorte estava lançada: já que haviam perdido tudo,
iriam lutar e matar até morrer. Nesse ponto, encerra-se a entrevista de João
Ferreira cedida ao “O Cruzeiro” sobre a entrada de Virgulino no cangaço.
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