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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

AS LAMPARINAS E O REAL LAMPIÃO

Por Fernanda Cecília

Há, pelo menos, dois Lampiões. Um que teve existência real e o outro que foi sendo criado a cada uma das suas façanhas efetivas ou inventadas que vai cada vez mais sobrepujando o primeiro, muitas vezes pela própria imprensa da época. De acordo com Wanessa Campos - jornalista do Jornal do Comércio de Recife:


"As informações eram passadas, geralmente por pessoas ligadas ao governo, e, consequentemente, opositores de Virgolino. Torcer os fatos era fácil. Até uma "obrigação", pois o objetivo era apontar Lampião como um homem "perverso" ou "o próprio cão em figura de gente". Outra explicação reporta-se à época. Nos anos 20 e 30 quando o cangaço estava no auge, a imprensa brasileira ainda engatinhava, e não tinha a preocupação de ouvir o que nós chamamos hoje de "a fonte" se Isso fosse possível, fazer-se a investigação que os jornais contemporâneos adotam, a história seria certamente outra. Assim Lampião era mostrado como estuprador, sanguinário que devorava criancinhas, arrancava unhas e olhos com punhal e ainda roubava quem encontrasse pela frente."

Além disso, tudo era muito frequente que outras pessoas tentassem passar por Lampião, como muito bem diz o Dr. Raul Fernandes, autor do livro "A marcha de Lampião - Assalto a Mossoró". O pai do Dr. Raul Fernandes chamava-se Rodolfo Fernandes e era, naquela época, prefeito de Mossoró, tendo comandado a resistência á invasão de Lampião. A esse respeito, Dr. Fernandes contou a seguinte história:

"Ao sair de São Sebastião, Lampião estava com sede, e parou na primeira casa que encontrou a beira do caminho, cujo proprietário era Francisco das Chagas. Pediu-lhe água, e enquanto Francisco providenciava observou que ele estava molhado. Perguntou o que havia acontecido e, surpreso ouviu a resposta:

- Foi um cangaceiro, que pegou uns três mil réis, bebeu uns goles d'água na cuia e jogou o resto na minha cara. Falou que era Lampião.

Este ouviu em silêncio, pensou um pouco e depois disse:

- Levante a lamparina e veja minha cara. Lampião sou eu. Isso não se faz, você é um pobre homem.

E retirou-se resmungando, insatisfeito pelo fato de que alguém se valesse de seu nome e de sua fama para aviltar um podre coitado"

De acordo com o pesquisador e escritor, Antônio Amaury: " Muitos comenteram deslizes e barbaridades escondendo-se atrás do nome de Lampião. E não foram só cangaceiros que agiram dizendo que eram Lampião. Também policiais fizeram isso, aproveitando-se da fama do cangaceiro e do terror que a simples menção do seu nome inspirava. Assim praticavam atos ilícitos como roubos, furtos e estupros. Existe farta documentação jurídica registrando inúmeros processos com esses episódios no de Lampião. Quem não se munir dos devidos cuidados na análise dos relatos, pode incorrer em erro, aumentando ainda mais o fardo de culpas de cada personagem da saga do cangaço"

Isso de fato já aconteceu, muitas vezes, por falta de cuidados de escritores muitos casos caíram no nome de Lampião e outros cangaceiros, sem ao menos estiverem presentes de fato. Não podemos ficar só apegando em uma versão de um livro, o cangaço é um estudo e merece ser estudado, com cuidado.

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