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quarta-feira, 3 de março de 2021

TIO DE LAMPIÃO FEZ SEU “PÉ DE MEIA” E DEPOIS DEIXOU O CANGAÇO

Por João Costa

Natural de São Serafim, hoje Calumbi(PE), Antônio Mathildes, embora parente de cangaceiros, mantinha-se nas cercanias do Riacho São Domingos, próximo a Nazaré-PE, como homem trabalhador, chegou ser inspetor de quarteirão no Poço do Negro e considerado pelos irmãos Ferreira como contraparente, algo como “tio postiço” - afinidade muito comum no Sertão.

Mathildes ficou famoso como inspetor, tendo suas proezas como inspetor cantada em versos por violeiros do Pajeú e também era conhecido pela alcunha de “Bigode de Arame”. Embora assinasse como Antônio José Ferreira, ficou conhecido como Antônio Mathildes e que, apesar do sobrenome Ferreira, nada tinha de parentesco com os irmãos Ferreira. Trabalhador e homem das armas ao mesmo tempo.

Mathildes, enquanto inspetor de quarteirão, contrariou interesses de coiteiros, e de gente poderosa da região, como os Nogueira e Zé Saturnino. É atribuída a Saturnino, “falsa” denúncia de que dava cobertura a cangaceiros seus parentes.

O resultado é que a polícia, tendo à frente o cabo de Polícia conhecido como Antônio Maquinista, foi até sua casa e o espancou na frente da esposa e filhos. Acabou preso e, logo depois, posto em liberdade.

Muitos sertanejos envolvidos com o crime mantinham atividades paralelas: cuidavam da lavoura e, circunstancialmente, se tornavam “cangaceiros provisórios”, outros entravam para os bandos de forma definitiva; esse “tio postiço” dos irmãos Ferreira era desse tipo, que mesclava suas atividades e chegou a um ponto que começou a enfrentar problemas na região do Pajeú e não dava mais para esconder.

O que fez em seguida Mathildes? Muda-se para Alagoas, e se submete à proteção do coronel Ulysses Luna, o mesmo que já abrigara a família Ferreira também fugitiva do Pajeú.

Foi morar próximo aos Ferreira, no pouso do Olho d’Água de Fora, onde troca “afinidades e ideias” com seus contraparentes Antônio, Livino e Virgulino, visando retaliação aos seus desafetos no Pajeú: os Nogueira e Zé Saturnino.

Em agosto de 1920, formou-se um grupo de 19 cangaceiros, à frente os irmãos Ferreira, integrado por Baliza e Gato, todos do bando de Sinhô Pereira; Pirulito, Caneta e Carrossel e Higino, parente de Mathildes, com este à frente.

A meta: atingir o bolso do inimigo, matando gado e incendiando fazendas de Venâncio Nogueira e Zé Saturnino. Dito e feito.

Os Nogueira reagem e contratam serviços do famoso chefe de bandoleiros Cassimiro Honório que forma um bando.

É quando ocorre o tiroteio na Lagoa da Laje entre o bando de Cassimiro e três pelotões de cangaceiros sob o comando de Mathildes, mas tendo à frente dos combates, Virgulino, Baliza e Gato (não se trata do cangaceiro Gato, índio Pancararé, do Raso da Catarina). Neste combate tem Virgulino com 22 anos, já na condição de comando de pequeno grupo e também usando o apelido de Lampião.

Pouco depois, uma carta procedente do Pajeú, de Zé Saturnino (sempre ele) para o coronel Ulisses revela que, além do trabalho de almocreve, os irmãos Ferreira e Antônio Mathildes, atuavam como cangaceiros provisórios.

Tidos em Alagoas, apenas como agricultores e almocreves, Mathildes e os irmãos Ferreira perderam o apoio e a cobertura de Ulisses.

Dois anos depois, em 1922, a polícia alagoana, sob o comando do tenente José Lucena (o mesmo que matou José Ferreira, pai de Lampião), aumenta a pressão ao banditismo rural.

A situação é de acocho, ninguém mais era "cangaceiro provisório", agora o trunfo é paus e quem não aguentar que corra, dizia Virgulino.

Após muitos assaltos e saques, incluindo o rentável assalto à baronesa de Água Branca, Mathildes convoca uma reunião do bando na região do Moxotó pernambucano e comunica aos sobrinhos por afinidade (Antônio, Virgulino e Livino) sua decisão de abandonar o cangaço.

E ainda faz uma recomendação: que os irmãos Ferreira fizessem o mesmo.

- “Se espalhem e finjam de mortos até a poeira baixar, ou arribem, como eu vou fazer”, disse Mathildes a Lampião.

- Meu tio, o plano está bom para o senhor e os outros. Eu, que já estou vivendo debaixo do chapéu, não quero conselho nem dou. Este rifle, só deixo se eu morrer. E o estado de Alagoas, a Deus querer, eu queimo!”, teria respondido Lampião, segundo relato do cangaceiro Medalha, ao escritor Frederico Pernambucano de Mello.

Terminada a tal reunião, Antônio Mathildes reuniu a mulher e os meninos, botou tudo que tinha em lombos de burros; pegou de volta muito dinheiro que estava emprestado nas mãos de fazendeiros e comerciantes, mudou de nome e se escafedeu.

Reza a lenda que cruzou o Pajeú e a divisa de Pernambuco, ingressou com a família na região de Monteiro e terminou sua jornada em Catolé do Rocha, Paraíba, em redutos dos Rosado Maia, mergulhado no anonimato, onde viveu incógnito, até morrer.

Acesse: www.blogdojoaocosta.com.br

Fonte: “Apagando Lampião”, de Frederico Pernambucano de Melo

“Lampião e o estado maior do cangaço”, de Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena.

Fotos. Bando de Virgulino nos anos 1920. Foto2. Cangaceiro Baliza.

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