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quinta-feira, 8 de julho de 2021

ZOZIMO LIMA E ERONIDES DE CARVALHO

 Por Antônio Corrêa Sobrinho

No trabalho que ora desenvolvo, objetivando consolidar em e-book as quase cinco mil crônicas, por mim catalogadas e digitalizadas, do jornalista ZOZIMO LIMA, publicadas em jornais sergipanos, pois, ao revisar o artigo que trago a seguir postado, onde o notável cronista conta, no seu jeito rápido de discorrer, uma experiência sua vivida com o conhecidíssimo, na história do Cangaço, o médico, militar e político sergipano de Canhoba, o ex-interventor e governador de Sergipe, ERONIDES FERREIRA DE CARVALHO, vi-me prazerosamente obrigado a trazê-lo ao "LAMPIÃO, CANGAÇO E NORDESTE".

Lembro que este ZOZIMO LIMA é o mesmíssimo telegrafista que, em 25 de novembro de 1929, na condição de chefe dos Correios e Telégrafos, esteve por horas à mercê do maioral dos cangaceiros, Virgulino "Lampião", na sua canavieira Capela, de Sergipe; para, três dias depois, fazer publicada, neste extinto jornal, a mais importante reportagem sobre a presença de Lampião em Sergipe, e uma das mais valorosas da historiografia cangaceira.

COISAS DA POLÍTICA

Zozimo Lima

Um desses sujeitos abelhudos, como há muitos, perguntou-me há dias se era grande o número de inimigos que tenho conquistado com os meus irreverentes comentários.

Dei qualquer resposta que não sei bem se satisfez à curiosidade do meu interpelante.

O que posso afirmar é que não tenho inimigos. Isto eu já hei dito e escrito várias vezes. Pode ser que alguns, cheios de recalques e suscetibilidades, guardam contra mim rancor oculto. O que posso asseverar é que as minhas blagues não ferem a honra dos meus adversários ou inimigos circunstanciais.

Eu vou lhes contar um caso ocorrido com o degas no setor político, que bem define o meu desprezo ao ódio e aos propósitos de vingança. Fui, pouca gente o sabe, diretor da Imprensa Oficial no governo Eronides de Carvalho. Quando se deu o rompimento do meu partido com aquele ilustre homem público, eu, como me cumpria, fiquei fiel ao meu chefe Leandro Maciel. O Dr. Eronides insistiu que eu ficasse no cargo, alegando a nossa velha amizade desde Capela, que ele muito frequentava, até o seu movimentado curso acadêmico, em Salvador. Afirmei-lhe a minha irredutibilidade, declarando-lhe, ainda, que comigo sairia um filho que na Imprensa exercia a função de diarista-revisor de provas.

O Dr. Eronides, então, patético, dramático, com a máscara amargurada do grande trágico Zaccone na Morte Civil, abraçando-me, apertando-me fortemente contra o peito, declarou-me: — “Sai o Zozimo porque quer, por disciplina partidária. Fica, porém, na Imprensa, o seu filho, que passará a ser considerado também meu!!!”. E estreitou-me, ainda mais, quase chorando!

No outro dia era meu filho dispensado!!!! Cortei, era natural, as nossas relações, porque sou homem que não vai com deslealdades.

Fatos mais ou menos idênticos ocorreram com o então capitão Miguel Pereira (Miguelzinho). O então capitão Miguel, reformado, lutou bravamente pela candidatura do Dr. Eronides de Carvalho. Revolucionou Macambira e Campo do Brito, até que subiu ao poder o ilustre médico do Exército. Pois bem. Tempos depois era o capitão Miguelzinho terrivelmente perseguido pela tropa do Dr. Governador. Até volante andou no seu encalço. Anos depois, em Itabaiana, Eronides procura o agora negociante capitão Miguel para pleitear-lhe os votos que dispunha em Macambira. O Miguelzinho, homem de lealdade canina e franqueza de estarrecer, deu-lhe o contra.

Preciso dizer que vai para uns dois anos, se não me engano (eu ando com a memória a exigir Tonofosfan com Vitamina B1), achava-me no aeroporto para receber eminente homem público quando sinto que me apertam pelas costas. Volto-me, sôfrego. Era o Dr. Eronides de Carvalho. — “Deixe de ser besta, velho. Você sabe que eu sempre lhe quis bem” — diz-me o ilustre ex-militar, notável cirurgião e atual notário público no Rio. Abraçamo-nos com afeto, quase amor!

No ano transato, amigos, sem me consultarem, andaram pleiteando para mim uma comissão junto ao gabinete do Dr. Ademar de Barros. Julgavam eles que esse eminente político influiria na consecução da causa disputada. O Dr. Eronides, que se achava presente, bateu-se furiosamente pelo cancelamento imediato do meu nome para aquele fim.

Eu não sei se se pode considerar o Dr. Eronides amigo-da-onça. Posso afirmar que apesar das ocorrências relatadas considero o ex-Governador um excelente camarada. Gosto muito dele. Sou capaz até de dar-lhe o voto, se ele me pedir.

Como vêem os meus leitores, sou homem sem prevenções e ódios. Apenas gosto de me divertir.

Correio de Aracaju (SE) – 23/09/52

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