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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

NO DIA EM QUE JAGUNÇOS DE MISSÃO VELHA ASSASSINARAM DOIS MILITARES NA ANTIGA RUA DO TRILHO

Por José Cícero

Corria o ano de 1928 e a pequena vila de Missão Velha no Cariri cearense ainda nem havia se recuperada dos marcantes e violentos acontecimentos ocorridos três anos antes. Quando o coronel Isaías Arruda de Figueiredo defenestrara do poder por meio das balas, o então intendente municipal, o cel. Sinhô Dantas. Que, diga-se de passagem; só não foi pior devido a pronta intervenção do vigário local, o padre HorácioTeixeira, cuja residência paroquial ficava próxima ao Paço municipal onde tudo aconteceu. De tal modo que, com a meteórica ascensão do cel. Arruda há quem diga ainda agora que Missão Velha teria virado de fato, um antro de brutalidade e mandonismo sob a força de jagunços e cangaceiros. Algo que já vinha ocorrendo há tempo pela vizinhança como pelos sertões nordestinos. Capangas e pistoleiros da pior espécie. Dispostos a fazer o diabo em nome dos seus chefes. E em MV não era diferente. Tudo sobre a proteção financiada do coronel, cuja influência cangaceira se estendia até Aurora sua terra natal onde aliás montara um verdadeiro quartel general na fazenda Ipueiras de sua propriedade sob os cuidados do seu primo José Cardoso. Lá muitas vezes recebera Lampião e outros bandoleiros da região. Assim como o cel. Santana da Serra do Mato da Goianinha, foi também Arruda, grande coiteiro de Vigulino. Inclusive, tendo sido o principal patrocinador da invasão à Mossoró um ano antes. Toda ela tramada na sua Ipueiras d'Aurora. 


Também para sua proteção criou seu próprio bando sob o comando do seu empregado de confiança e hábil vaqueiro José Gonçalves de Lucena. Assim, rapidamente ganhou fama. Ficando conhecido do Cariri à capital do Estado onde se fizera aliado de primeira monta do próprio governador Moreira da Rocha. Que, inclusive, dizem que o apoiou quando da tomada do poder em Missão Velha. Também se fez um promissor comerciante de algodão. Ficou rico. Ganhou poder e dinheiro na mesma proporção com que fazia inimigos. Foram inúmeras as suas estripulias no mais das veze, não muito condizentes com a lei. Era um nato, ousado e inteligente empreendedor. O que se notara também na maneira como governou à prefeitura e os destinos da terra de São José. 


Um dia a pedido do então deputado Floro Bartolomeu montou um grupo de jagunços para tomar parte dos Batalhões patrióticos em combate à coluna Prestes. Ocasião em que recebeu muitas armas e munições do próprio governo Federal. Desde a tomada da prefeitura que vinha travando uma rixa medonha contra os irmãos Paulinos, sobretudo após a morte do chefão no sítio Serrote em Aurora. Contudo, no dia 15 de março de 1928 um fato iria marcar para sempre e de forma trágica a história de Missão Velha. Quer seja, o tenebroso assassinato de dois militares da força policial do Ceará; desafetos do coronel. O tenente Fernando Porto de 35 anos e o sargento José Pereira Nascimento de 25. O crime aconteceu na antiga rua do Trilho de Ferro, hoje nas proximidades da nova estação ferroviária à margem da linha do trem, quase na esquina da então rua da Castanhola, atual São Francisco. Até os anos 80 ainda existiam no local duas cruzes em memória das vitimas ali trucidadas. O que se sabe sobre a ocorrência do fato criminoso é o seguinte: O sargento Nascimento dias antes havia agredido Raimundo Pereira que era irmão de José Pereira, ambos primos de Isaías. Este, ao avistar o militar resolveu tomar satisfação sobre a referida agressão. Logo teve início uma acalorada discussão. 

O sargento deu-lhe voz de prisão e ele reagiu. O policial sacou da sua pistola, porém a mesma "quebrou catolé" ou seja, falhou duas vezes. Quando em seguida recebeu dois balanços praticamente à queima roupa da arma tipo revólver de José Pereira. E mais outro tiro pelas costas disparado por Raimundo Bernadino. Vendo a briga o tenente Porto ao tentar se aproximar foi seguro pelas costas pelo Indivíduo Ferrugem, parente de Zé Gonçalves sendo o tenente também ali mesmo covardemente abatido. Ambos morreram no local. Os dkis militares foram sepultados no dia seguinte no antigo cemitério da cidade onde hoje existe a capela de São Francisco na antiga rua da Estrada; atual cel. Jose Dantas no centro da cidade. 

 Quatro dias depois chegava a MV no trem de Fortaleza o delegado Alfredo Weine para apurar o ocorrido. Denunciando em seu inquérito as seguintes pessoas envolvidas no crime: José Pereira de Figueiredo(primo de Isaias), Júnior Arruda(irmão de Isaías), Manoel Francisco de Lucena Sobrinho - o Ferrugem (primo de José Gonçalves), Raimundo Nonato Bezerra, Doca chofer, Zé Pedro, Paulo Gomes, Manoel Florentino de Brito (Manoel Salgueiro), Raimundo Bernadino, Meia Onça, Raimundo Gomes, João Serra e Agripino. Todos os envolvidos foram absolvidos no julgamento ocorrido em MV. Após o crime Manoel Salgueiro e Ferrugem ficaram homiziados em Brejo Danto. Sendo que nos primeiros meses de 1928 foram preso em Juazeiro do Norte pelo tenente Jose Bezerra: Manoel Salgueiro e Pedro de Rita e logo em seguida enviados de trem para a prisão em Fortaleza. Um acusado das mortes dos militares, o outro pelo assalto à Apodi no RN um ano antes. 

Ainda, no dia 9 de agosto de 1928 o tribunal de justiça marcou um novo júri. Foi assim que se deu mais uma história do banditismo coronelista do Cariri. Apenas mais um dos dramáticos e violentos episódios em que esteve supostamente envolvido o famoso coronel Isaías Arruda de Figueiredo. ...

José Cícero Com informes do antigo jornal O Ceará.

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