Autor: José Di Rosa Maria
01
Ontem pela madrugada
Depois da morte do sono,
Busquei a inspiração
No baú de Deus é dono,
Pra compor uma canção
Falando de Fabião,
Poeta que não destrono.
02
E afoguei os meus olhos
No mar da biografia
Do poeta que tocava
Rabeca, porque sabia
Que cedo ou tarde cantando
Terminaria pagando
O preço da alforria.
03
A biografia diz
Que em mil e oitocentos
E quarenta e oito, nasce
Ele, sem conhecimentos
Mas com o dom evidente
De encantar sua gente
Cantando seus sentimentos.
04
E em Lagoa de Velhos
Seu torrão, sua cidade
Lá na fazenda Queimadas,
Com dez anos de idade,
Fabião já trabalhava,
Já cantava e já sonhava
Com a luz da liberdade.
05
Ao fazer catorze anos
O seu primeiro instrumento,
Foi comprado com o saldo
Do seu próprio sofrimento
Na sua pacífica guerra
Tentando extrair da terra
O seu suado sustento.
06
Mas foi cantando bonito
Que Fabião encantou
O coronel Zé Ferreira
Que encantado passou
A dar incentivo a ele
Porque dava pra ver nele
A luz do dom que ganhou.
07
Com permissão do seu dono
O poeta instrumentista,
Rabequeiro e cantador
Ganhou fama de artista
E passou o romanceiro
A cantar pra fazendeiro
Preludiando a conquista.
08
Consta também na história
Que foi guardando quantias
Que Fabião conseguiu
Pagar pelas alforrias
Da mãe querida, que tinha
E também duma sobrinha
Com quem casou noutros dias.
09
A mãe custou 100 mil reis
E o poeta pagou.
E quatrocentos mil reis
A sobrinha lhe custou;
Três liberdades compradas...
Três pessoas libertadas,
O trio que mais se amou.
10
E mesmo sem saber ler
Bilhete nem telegrama,
Quem cresceu lavrando a terra
Sentindo cheiro de rama,
Depois fazendo sarau
Com O BOI DA MÃO DE PAU
Conseguiu respeito e fama.
11
Esse romance foi lido
Por Luiz da Câmara Cascudo
E publicado num livro
Para servir de estudo
Pra muita gente formada
Saber que quem não lê nada
Compõe para quem lê tudo.
12
Está no famoso livro
Vaqueiros e Cantadores
Do maior dos folcloristas,
Também dos pesquisadores
Que nossa Pátria conhece
Então, Fabião merece
Méritos pelos seus valores.
13
Ariano Suassuna
Recriou a sua obra
Sem sombra de dúvida alguma
Com competência de sobra
E pelo talento dele
Mais homenagens a ele
Lagoa de Velhos, cobra.
14
A besta de Joana Gomes
Foi um romance vistoso,
A vaca lisa vermelha
E o cavalo fogoso,
Que o povo ainda aprecia
Também são da autoria
Do romanceiro famoso.
15
Fabião por levar cartas
Ao povo da região,
Recebeu o cognome
De carteiro do sertão
Por ter sido tão coeso
Mais um destaque de peso
Na vida de Fabião.
16
A grandeza do poeta
Me deixou admirado,
Porque sem televisão,
Rádio e jornal, no passado
Ele de alma dileta
Conseguiu como poeta
Tornar-se famigerado.
17
Sem formação acadêmica,
Sem diploma, sem dinheiro,
Apenas com seu talento
De cantador Rabequeiro
Querido e solicitado,
Deixou um grande legado
De poeta romanceiro.
18
Fabião Hermenegildo
Ferreira da Rocha, fez
Essas obras e mais outras
Antes de chegar a vez
De para sempre partir
Pra cantar pra Deus ouvir
No reino da sensatez.
José Di Rosa Maria
Enviado pelo o autor.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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