Por José Mendes Pereira
O Caso
Carlinhos refere-se ao sequestro do
menino Carlos Ramires da Costa, ocorrido em 1973, no Rio de Janeiro, o qual permanece insolúvel[1].
O caso,
repleto de hipóteses, suspeitos e informações controversas, gerou grande
repercussão nacional. Carlinhos, uma criança de dez anos, era um dos sete
filhos da dona de casa Maria da Conceição Ramires da Costa
e do industrial João Mello da Costa, proprietário da indústria farmacêutica Unilabor,
em Duque de Caxias.
O menino foi
sequestrado em sua residência, invadida por um criminoso que deixou um bilhete,
no qual marcou data e local de pagamento do resgate. Com a publicação
do bilhete pelo jornal O Globo e grande repercussão subsequente, os
sequestradores não compareceram ao local combinado, e Carlinhos jamais foi
encontrado[2].
Desde então, diversas notícias sobre o paradeiro de Carlinhos surgiram[3][4], mas
nenhuma obteve confirmação nos testes de DNA[5].
Para o
jornalista Celso de Martin Serqueira, que foi a primeira pessoa a chegar ao
local do sequestro e que acompanhou o caso, a mãe de Carlinhos, que exibiu
comportamento extravagante no curso das investigações, era a principal suspeita
do crime na investigação efetuada pelo governo militar[2].
Em 26 de junho de 2003, o programa Linha
Direta, da TV Globo, exibiu reportagem especial sobre o caso,
expondo a versão da mãe de Carlinhos para os acontecimentos[6].
História/Sequestro.
Por volta das
20h35min da noite chuvosa da quinta-feira de 2 de
agosto de 1973, na residência nº 1.606 da Rua Alice, zona sul do Rio de Janeiro, Carlinhos, à
época com 10 anos, foi sequestrado[7]. No
momento do crime, vestia apenas uma bermuda azul-marinho e assistia a
novela Cavalo de Aço, na Rede Globo,
juntamente a sua mãe e 4 de seus 6 irmãos (Vera Lúcia, de 15 anos; Carmem, de
14; Eduardo, de 13; e João, de 11), quando a luz da casa foi cortada. O
sequestrador, um jovem negro vestindo uma blusa vermelha e com cabelo
estilo black power, invadiu a residência, pediu "a
criança menor que estava em casa"[8] e
trancou a mãe e os irmãos de Carlinhos no banheiro. O pai, que fazia uma
entrega em Copacabana, chegou ao local pouco depois, juntamente aos
outros dois irmãos de Carlinhos (Luciana, de 3 anos; e Roberto, de 8).
Antes da fuga,
o sequestrador deixou um bilhete, redigido com erros de português e em letra de forma num pedaço
de papel de caderno comum,
no qual pedia um resgate no valor de Cr$ 100
mil (equivalentes a R$ 368 mil em valores de 2017)[9], os
quais deveriam ser pagos até o dia 4 de agosto[10].
Juntamente a um de seus funcionários, Abel Alves da Silva, o pai de Carlinhos
teria perseguido o sequestrador, que entrara com o garoto em um matagal, após
pular um muro na Rua Alice. Ambos comunicaram o sequestro a policiais militares[11].
“Aviso a você que a criança esta em nosso poder e só entregaremos após ser pago o resgate de cem mil cruzeiros. Esta importância deverá cer (sic) em pequeno volume e metido dentro de uma bolsa e deverá cer (sic) depositado ensima (sic) de uma caixa de cimento que fica situada na Rua Alice cruzando com a Rua Dr. Júlio Otoni (sic), junto a duas placa (sic) no dia 4/8/1973 às 02:00 horas, digo duas horas do dia quatro, e lembre si (sic) de que qualquer reação a vítima será liquidada. OBS: Depois de ser feito este depósito deverão seguir em direção ao Rio Comprido e esta carta deverá ser devolvida no ato.”
A caixa de cimento a
que se referia o sequestrador em seu bilhete situava-se na esquina das ruas
Alice e Doutor Júlio Otoni, no cruzamento onde estavam duas placas do DER indicando os
itinerários para o Silvestre, Mirante
Dona Marta, Lagoinha, Belvedere e Cidade Nova.
Após tomar
conhecimento do caso, o Corpo de Bombeiros e a 9ª Delegacia da
Polícia Civil dirigiram-se para o local, por volta das 21 horas, e passaram a
realizar buscas no mato. Rádios, jornais e emissoras de televisão também seguiram para
a Rua Alice. As buscas prosseguiram até o início da madrugada, quando foram
suspensas, para recomeçarem de manhã cedo.
No dia
seguinte, o bilhete do sequestrador foi reproduzido na íntegra pela imprensa.
Na data estipulada pelos bandidos, o local do resgate foi tomado por policiais
civis disfarçados de vendedores de sorvete e pipoqueiros, além da presença de
vários repórteres. No trabalho conjunto em busca do paradeiro de Carlinhos,
foram mobilizados agentes do DOPS, da 9ª Delegacia, da
Delegacia de Vigilância Centro e da Delegacia de Roubos e Furtos. João Mello
depositou o pacote, que continha apenas algumas cédulas de cem cruzeiros por
cima de papéis picados, sobre as caixas de cimento. Nenhum suspeito compareceu
ao local.
Investigação
No dia 4 de
agosto de 1973, os policiais deram início a investigação, interrogando
diretores da clínica médica Dr. Filizzola, localizada ao
lado da casa de Carlinhos, pois um deles, Mário Filizzola, oferecera Cr$ 60 mil
para comprar o imóvel, o que foi encarado pela polícia como um possível motivo
para o crime. O primeiro suspeito preso, Kleber Ramos, trabalhava como marceneiro na
clínica e teria sido contratado para o crime a fim de forçar a venda do imóvel
pelo preço estipulado[13]. Sua
prisão foi baseada nos relatos de Vera Lúcia, a irmã mais velha de Carlinhos,
que recebeu o bilhete das mãos do sequestrador. Como álibi, Kleber alegou ter
saído da clínica por volta das 20 horas, em companhia de 3 mulheres, em direção
à Praça Mauá, de onde tomou um ônibus com
destino a sua casa, no bairro do Éden. Esta versão foi confirmada à
polícia por uma das mulheres. Kleber foi libertado após 3 dias de detenção, por
um habeas corpus expedido pelo juiz Santiago
Dantas, da 14ª Vara Criminal.
Um outro
suspeito, o mecânico José da Silva, apresentou-se
na 9ª Delegacia no mesmo dia. José, que frequentava a casa da Rua Alice, teria
tempos antes complicado a situação financeira de João Mello ao deixar de pagar
as letras de uma televisão avalizada pelo industrial. A mãe de
Carlinhos também esteve no local, porém não o reconheceu como sequestrador. O
terceiro suspeito foi apontado por Maria da Conceição, que havia fornecido
apenas o primeiro nome à polícia, mas logo fora por esta identificado como
Raimundo Pereira Lulu, o qual teria realizado uma tentativa frustrada de seduzir
Maria.
No dia 6, o
comerciante Celso Vasconcellos de Passos, então com 34 anos, e seu cunhado,
Francisco de Almeida, foram detidos. Celso teria uma dívida de cerca de Cr$ 15
mil com João Mello, que, para não ficar no prejuízo, tomou de Celso a sua Variant amarela.
No mesmo dia, um funcionário aposentado da Petrobrás,
Hildebrando Martins de Castro, de 43 anos, compareceu à residência de Carlinhos
para fazer uma proposta. Hildebrando ofereceu um ou dois de seus filhos aos
pais de Carlinhos para substituir o menino sequestrado[14].
Os exames
do perito Carlos Éboli revelaram que o bilhete do
sequestrador fora escrito 3 dias antes e que os erros gramaticais foram
propositais, com o objetivo de confundir os pais dos garotos e as autoridades.
As suspeitas recaíram sobre os integrantes da família. Chamou a atenção da
polícia o estranho comportamento da mãe, que deixou de ir à sessão espírita que
costumava frequentar exatamente na quinta-feira do dia do sequestro. Quando a
polícia chegou ao local do crime, Maria da Conceição assistia televisão calmamente. No dia
seguinte, chamada para depor na delegacia,
pôs sua melhor peruca e pintou os olhos. A polícia foi
informada de que a mãe de Carlinhos era pouco cuidadosa com os filhos, gastava
o dinheiro que recebia em bilhetes de loteria e roupas para si.
O pai também entrou na lista de suspeitos, pois encontrava-se em sérias
dificuldades financeiras e teria montado o falso sequestro para arrecadar
dinheiro.
Nos dias
seguintes, a Delegacia de Roubos e Furtos, coordenadora das investigações,
recebeu diversas informações falsas por telefone. Uma
ligação anônima, porém, indicou a casa de número 1908 da Rua Barão de
Petrópolis como sendo o primeiro local para onde Carlinhos teria sido levado
após o sequestro. A pessoa que telefonou afirmou ter visto um homem subindo em
direção ao casebre no dia do sequestro, em companhia de um menino. A placa do veículo em que
ambos chegaram ao local fora anotada pelo informante: TA0206, um táxi Opala.
A polícia encontrou a casa vazia, sem nenhum móvel,
apenas com um pacote de velas.
Uma semana
depois do sequestro, a polícia prendeu Ademar Augusto de Fraga Filho,
vulgo Capoeira, ex-agente da Polícia Judiciária, e um estelionatário como
novos suspeitos. O motivo do crime teria sido vingança por parte de um grupo
de contrabandistas que
teriam sido lesados pelo pai de Carlinhos. De acordo com a polícia, Ademar
usaria o dinheiro do resgate para fugir do país, já que era procurado, acusado
de pertencer ao Esquadrão da Morte. Também foram
ouvidos o contrabandista José Pereira de Brito e Júlio de Carvalho, que havia
realizado o sequestro de um menino em 1966 e fora
convocado pela polícia para fazer um exame grafotécnico.
No dia 10,
mais 7 pessoas (6 homens e 1 mulher), funcionários das clínicas Dr.
Filizzola e Instituto Fleming, ambas vizinhas à casa de Carlinhos,
foram presas para serem interrogadas. Dois dias depois, Maria Margarida da
Silva, secretária da empresa de João Mello e filha da mulher presa, confessou
ser a autora intelectual do sequestro de Carlinhos. Margarida teria fornecido o
bloco de papel utilizado para o bilhete dos sequestradores. Sua justificativa
para o sequestro seria a de usar o dinheiro para cobrir o desfalque que dera na
empresa farmacêutica onde trabalha. A versão foi desmentida pelas autoridades
encarregadas das investigações.
O possível
sequestrador ligou para o número à disposição da população e marcou um novo
local: o Portão 18 do estádio do Maracanã,
numa área próxima à estátua de Bellini. Um forte esquema policial foi
montado, porém ninguém apareceu. Os sequestradores não entraram mais em
contato, o que levou a conclusão da polícia de que o sequestro não foi
praticado por motivo de dinheiro.
A ausência de
pistas concretas levou os policiais civis à paranoia. Teodorico Murta,
comissário da 9ª Delegacia, foi fotografado por jornalistas vestindo roupas de
mulher, afirmando que iria investigar alguns suspeitos. Tal iniciativa resultou
na suspensão de suas funções por 90 dias. Mesmo punido, continuou suas
investigações por conta própria, porém foi assassinado anos
mais tarde.
Na ânsia de
solucionar o caso, um grupo de policiais torturou e
prendeu a lavadeira Ranulfa da Silva. Os policiais queriam que ela denunciasse
Antônio Costa da Silva (vulgo Pitoco), seu ex-amante e que
trabalhou com ela na casa de Carlinhos havia dois anos, como autor do
sequestro. Antônio e Ranulfa haviam discutido e sido demitidos por João Mello,
além de haver a hipótese de se tratar de crime
passional (a polícia levantou a possibilidade de João Mello também ser
amante de Ranulfa). Posteriormente, Antônio foi capturado e apresentado à imprensa como
um dos sequestradores.
Em janeiro
de 1974, o
assaltante Adilson Cândido da Silva entregou-se à polícia, alegando ser o
sequestrador de Carlinhos e ter jogado o corpo do menino ao mar, a pedido de João
Mello da Costa[15]. Seis
meses depois do crime, uma ossada encontrada na praia da Engenhoca, Ilha do Governador, levantou a suspeita de que
pudesse se tratar de Carlinhos. A ossada, resgatada por um pescador português em
local citado por Adílson em seu depoimento, estava enrolada em arames amarrados
juntamente a um mourão de concreto de aproximadamente um metro de comprimento[16].
Comprovou-se posteriormente que a ossada não era de Carlinhos[17].
Inquérito
policial
O inquérito policial para apurar o sequestro
de Carlinhos só foi aberto oficialmente em 26 de
março de 1977,
três anos e meio depois de o fato ter ocorrido. Antes disso, só existia um
procedimento investigatório. Os delegados Jorge Gomes Sobrinho e Rogério Marchezini,
da Delegacia de Roubos e Furtos, foram designados para o cargo. Os policiais
ouviram todos os suspeitos, além de João Mello e seus ex-funcionários. A
conclusão do inquérito foi divulgada em 25
de novembro de 1977.
Quatro anos
após o sequestro, Vera Lúcia relatou à polícia que reconheceu Sílvio Azevedo
Pereira, funcionário do laboratório do pai, como sequestrador. No dia do crime,
Vera Lúcia afirma ter sentido um cheiro forte, semelhante ao dos produtos
farmacêuticos manipulados no laboratório de João Mello. Sílvio chegou a ser
condenado na 17ª Vara Criminal a 13 anos de prisão,
em 30 de dezembro de 1985, mas seus
advogados recorreram da sentença e
ele foi absolto.
Indícios
A pessoa seria
conhecida da família, pois os 3 cães, Negrinho,
Claise, e Suzi, não tiveram nenhuma reação ao invasor. Também conhecia o local
onde estava situada a caixa de luz da casa. O portão lateral
da casa, que normalmente ficava fechado, estava aberto e foi por onde o
sequestrador teria entrado.
A residência
escolhida não possuía telefone para o contato com sequestradores e, de fato,
não houve contato após o crime. Os pais de Carlinhos estavam praticamente
separados na época do crime.
Contradições
Abel Alves da
Silva declarou ter visto Carlinhos e o sequestrador entrarem em um táxi Volkswagen vermelho,
de 4 portas, parado próximo à casa do menino. O veículo teria partido em
seguida. Contou também que, pouco antes, havia visto um desconhecido descer do
táxi e entrar no matagal, o homem supostamente perseguido pelo patrão. João
Mello, a mulher e os filhos negaram ter visto um táxi perto de casa quando o
sequestrador saiu com o menino. Além disso, ao avisar os policiais sobre o
caso, Abel apresentou-se como vizinho de João Mello, quando, na verdade,
residia em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.
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