Por Robson Rodrigues
Numa de suas passagens pelo
sertão da Bahia, Lampião e seu bando, vindo da região de Santa Rosa de Lima,
dirigiram-se ao arraial de São Paulo, chamado de São Paulinho. O alvo era
Manoel José Cardoso, um homem ativo no comércio de itens diversos pela microrregião.
Conhecido inicialmente como José do Sítio do Félix, logo ficou famoso como José
Félix. Era casado com Joana Epiphania dos Santos, que após o matrimônio passou
a se chamar Joana Epiphania Cardoso. Aos 23 anos, por vezes também chamada de
Ana Epifania, ela residia com o marido na Fazenda Flores, município de Uauá
Bahia, e já tinha dois filhos pequenos, Maria Lucila e Isaías José.
Naquele abril de 1931, Joana
estava grávida de oito meses daquela que viria a ser sua filha Anália. Seu
marido, Manoel, tinha os movimentos limitados após um corte num dos pés. Por
isso, depois de quinze dias, alguns itens de consumo estavam em falta, especialmente
o sal. Além disso, um compadre do casal, João Vieira, encontrava-se doente, e
entenderam ambos que deviam visitá-lo. Deslocaram-se, então, compartilhando um
único cavalo, até o arraial da Fazenda São Paulo, um povoado de cerca de 15
casas e 70 pessoas, situado a 30 km ao sul de Uauá.
Entre 7 e 8 horas da manhã do dia
11 de abril, Joana conversava com a comadre quando avistou um tropel a galope e
percebeu a agitação geral. Era o bando de Lampião assaltando o arraial. Elas
tentaram escapar pela porta dos fundos, mas foram vistas pelos cangaceiros.
Detidas e intimidadas, foram levadas para o centro da povoação.
Lampião, de posse de uma chibata,
encarou as pessoas sentadas no chão. No espaço central, bateu em quase todas.
Gritou furioso, afirmando querer saber quem dali avisara a polícia de Uauá, em
outra ocasião, sobre a sua presença nas proximidades. "Ou dizem quem
avisou, ou eu tôco fogo em tudo isso e mato todo mundo!", ameaçou.
A verdade é que, após a passagem
anterior do bando, Manoel Cardoso, efetivamente inquirido pelo segundo tenente
Manoel Campos de Menezes, contara o que vira. Aos ouvidos do rei do cangaço,
chegou que ele teria ido à localidade especificamente para esse fim. Sabendo
ser a causa do problema, Manoel levantou-se. Joana levantou-se também, foi ao
seu lado segurando seu braço e apresentou-se ao cangaceiro.
"Então é você, seu
Manoel...?", perguntou Lampião.
"Eu mesmo, capitão",
respondeu ele, sem encarar o bandoleiro, baixando os olhos para o chão.
"Ah, temos velhas contas a
ajustar. De outra feita você foi avisar os macacos da minha presença aqui. Vai
ver agora como ninguém pode lhe valer, viu? Essa 'zinha' é sua mulher?"
Sem esperar resposta, Lampião
virou-se para seus comandados: "Tira as roupas do traidor que eu vou
ensinar os deveres!" Manoel e Joana tiveram as vestes rasgadas e
arrancadas, enquanto levavam bofetadas e chutes. Em seguida, foram amarrados
com cordas no pescoço e nos braços, e assentados na garupa das montarias de
dois cangaceiros. Assim, desfilaram pela Vila, enquanto os bandoleiros
espancavam e roubavam outros moradores.
O bando seguiu até a capelinha
local, levando o casal. A eles juntou-se o Coronel José Antônio Cardoso.
Lampião então determinou a seus cabras que chamassem todos os moradores para
"assistir uma coisa bonita". Começaram a chegar homens, mulheres e
crianças, todos conduzidos sob gritos, empurrões e coices de armas.
Lampião dirigiu-se ao casal,
portando uma espingarda de caça. Disse que não gastaria boa munição com coisa
tão ruim, fez pontaria e atirou em Manoel José Cardoso na altura do ouvido. O
homem caiu, agonizando, e recebeu mais um disparo na boca. Percebendo que a
vítima ainda estava viva, o chefe bandoleiro desembainhou seu punhal e enterrou
os 75 cm de lâmina no corpo de Manoel até o cabo. Enquanto isso, as testemunhas
forçadas soltavam gritos de horror.
"Morreu o bate-pau de
macaco?", perguntou Lampião.
Quando se preparava para matar a
mulher, o outro prisioneiro, o Coronel José Antônio Cardoso, pediu clemência.
Alegou que ela não tinha ligação com os atos do marido, estava grávida e tinha
dois filhos pequenos. O chefe cangaceiro aceitou poupar-lhe a vida, mas veio a
contraposição: "Deixa a mulher do José Félix sofrer mais um bocado, pra
ver se é bom denunciar um homem de bem como o capitão!"
Irritado, Lampião agarrou Joana
por um braço, forçando-a a ajoelhar. Sacou o facão afiado, cortou-lhe o cabelo
e os pelos pubianos. Fez uso feroz da chibata. No início, ela gritou; depois,
sangrando, sofreu em silêncio, tomada por um súbito tremor e perdendo o
controle da bexiga. Lampião, afinal, empurrou-a com o pé e a derrubou no chão.
Assim, Lampião se vingou, mas
insaciado, mandou retirar a cela de um burro e obrigou Joana a montar, cobrindo
sua nudez apenas com o próprio sangue. Ela seguiu com imensa dificuldade,
tentando manter-se sobre a montaria. Após quase 6 km, Lampião ordenou que
descesse e retornasse a São Paulo, nua e a pé.
Após um tempo, Joana percebeu a
aproximação de um cavaleiro e escondeu-se na mata, mas foi vista. Era o Coronel
José Antônio Cardoso, que seguira o rastro do bando na esperança de ajudá-la.
Ele a chamou, tirou o paletó e a envolveu com ele. Montaram no cavalo e
retornaram ao povoado de São Paulinho.
Joana Epiphania Cardoso foi, em
11 de abril de 1931, vítima de algumas das piores violências. Apelidada pela
população de "Joana Facão", carregou as marcas da brutalidade pelo
resto da vida. Teve sua filha, Anália, e cometeu viver muito, falecendo em 15
de julho de 1996.
Por Robson Rodrigues
Fonte Foto Adelsomota
Mota
Em 10 de outubro de 2025.
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