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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Os Cangaceiros de Verdade.


Esta pequena entrevista com o capitão Lampião não indica o autor, apenas a fonte:


Em outro número desse mesmo periódico datado de 28 de dezembro de 1928, encontramos sob a manchete “Lampeão fazendo um raid automobilístico – suas declarações em Tucano” uma raríssima entrevista com Virgulino Ferreira, o Lampeão, tratado como “capitão”, na qual ele tenta explicar e até justificar a causa de sua marginalidade. 

Acompanhemos alguns trechos.

– Que idade tem o capitão?
- Tenho 28 anos de idade.

- Há quantos anos vive em luta?
- Há 14 anos.

- Quais os motivos que levaram o capitão a abraçar essa vida acidentada e perigosa?
- Questões de família e sobretudo o assassinato de meu pai. Meu pai não sabia manejar uma arma.
Possuía um criatório regular e isso despertou a cobiça de um vizinho nosso que não nos olhava com bons olhos. De uma feita quando meu pai reunia o gado foi atacado traiçoeiramente por esse vizinho. Assassinado meu pai fui para a companhia de um tio, que abandonei quando atingi a idade de 14 anos" - (não está de acordo com a literatura lampiônica), para executar meu plano de vingança e de lá para cá não abandonei mais a vida do cangaço.”

Como ele mesmo nos informa, da direita para a esquerda estão
o cangaceiro Ezequiel e marcado com uma cruz Lampião.

Em outro trecho lhe é perguntado o porquê de haver se retirado de Pernambuco, ao que ele responde:

“- Eu lhe conto. Em Pernambuco até as folhas das árvores são minhas inimigas. Lá, quando eu dormia ou descansava embaixo de uma árvore, sempre trazia uma bala na agulha de minha carabina receando que caísse sobre mim alguma “folha inimiga”. (...) Eu sei que esta vida não é lá muito boa, mas se tenho sofrido, em compensação, tenho gozado bastante. E o que é a vida? Sofrer e gozar.”

O município de Tucano é vizinho ao de Serrinha, terra dos Carneiro Ribeiro e dos Nogueira, conhecidos por sua retidão, valentia e destemor. Talvez por essa razão a última pergunta feita pelo repórter ao capitão Virgulino.
    
“- O capitão não receia que uma força lhe ataque inesperadamente nesta vila?
- Qual nada, em Serrinha o destacamento conta 9 praças e eles não virão até cá.”

Por alguma razão Virgulino, mesmo com seu bando em maior número, evitou entrar em Serrinha. Dando por encerrada a entrevista resta ao jornalista observar a retirada do bando e seu líder acomodados na carroceria de um caminhão que haviam “requisitado rodando pelas ruas desta vila entoando canções despreocupados, felizes, inteiramente alheios aos comentários da população que assistia a esse quadro inétido, como se fora um sonho irrealizável.” Palavras no repórter.

Uma outra entrevista julho de 1928 no jornal “O Povo”, trazia a seguinte manchete e chamada de primeira página: “A palavra de Lampeão – O monarca selvagem dos sertões” e complementava com a frase do chamado “jaguar bravio do nordeste” 

 “- Não sou cangaceiro por maldade minha, mas pela maldade dos outros...” 

O Governo da Bahia na tentativa de conseguir conter Lampeão, chegou a publicar e distribuir anúncio de recompensa por sua captura, tal qual se fazia no velho oeste americano.

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