Por Antonio Corrêa Sobrinho
COITEIRO
É HOMEM QUE NÃO MORRE, DIZ EUFRÁZIO, 82 ANOS, COITEIRO DE LAMPIÃO
“Acoitar”, na linguagem sertaneja, significa “proteger participando”. Não é só
calar a boca, fechar os olhos à passagem de algum bandido ou dar pistas falsas
à polícia. O coiteiro também servia de moleque de recados e era ele quem
abastecia de roupas e alimentos os grupos de cangaceiros.
Mas talvez a melhor definição de coiteiro tenha sido dada por um deles,
Eufrázio Carlos do Amazonas, 82 anos, homem que nunca levou um empurrão, nem da
polícia nem de cangaceiro.
- Coiteiro – diz ele rindo – é um homem como eu, que não morre.
Eufrázio, que nem apelido recebeu durante a primeira fase do cangaço, a mais
violenta, de 1914 a 1928, quando Lampião se mudou para a Bahia, orgulha-se de
sua intimidade com Virgulino Ferreira, com todos os fazendeiros do Pajéu e se
diz amigo íntimo dos mais famosos caçadores de cangaceiros da primeira fase: os
tenentes Mané Neto e Higino.
Um homem virava coiteiro, naquela época, por cinco razões básicas: medo de
morrer; vingança (usar o cangaceiro para vingar algum parente morto pela
polícia); gratidão (recebia favores e dinheiro dos cabras, e tinha de pagar);
interesse comercial (cangaceiro não dava muito valor a dinheiro) ou polícia
(como enviado especial de algum fazendeiro ou chefe político esperto).
O negro Eufrázio, gordo, risonho, deve ter usado todas essas razões. Segundo
ele, nunca viu ninguém morrer.
- E eu vou dar gosto de ver coisa feia?
Antonio Corrêa Sobrinho é pesquisador do cangaço.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Parabéns ao pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho pelo texto informativo e ao MENDES pela postagem. Assim conhecemos um ex-coiteiro que assim se declara. Um coiteiro que não se esconde.
ResponderExcluirAbraços,
Antonio Oliveira - Bela Vista - Serrinha