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sábado, 15 de março de 2014

“JORNAL DA TARDE” (Do “O Estado de S. Paulo”) – 31/07/1973

Por Antonio Corrêa Sobrinho


COITEIRO É HOMEM QUE NÃO MORRE, DIZ EUFRÁZIO, 82 ANOS, COITEIRO DE LAMPIÃO 

“Acoitar”, na linguagem sertaneja, significa “proteger participando”. Não é só calar a boca, fechar os olhos à passagem de algum bandido ou dar pistas falsas à polícia. O coiteiro também servia de moleque de recados e era ele quem abastecia de roupas e alimentos os grupos de cangaceiros. 

Mas talvez a melhor definição de coiteiro tenha sido dada por um deles, Eufrázio Carlos do Amazonas, 82 anos, homem que nunca levou um empurrão, nem da polícia nem de cangaceiro.

- Coiteiro – diz ele rindo – é um homem como eu, que não morre.

Eufrázio, que nem apelido recebeu durante a primeira fase do cangaço, a mais violenta, de 1914 a 1928, quando Lampião se mudou para a Bahia, orgulha-se de sua intimidade com Virgulino Ferreira, com todos os fazendeiros do Pajéu e se diz amigo íntimo dos mais famosos caçadores de cangaceiros da primeira fase: os tenentes Mané Neto e Higino.

Um homem virava coiteiro, naquela época, por cinco razões básicas: medo de morrer; vingança (usar o cangaceiro para vingar algum parente morto pela polícia); gratidão (recebia favores e dinheiro dos cabras, e tinha de pagar); interesse comercial (cangaceiro não dava muito valor a dinheiro) ou polícia (como enviado especial de algum fazendeiro ou chefe político esperto).

O negro Eufrázio, gordo, risonho, deve ter usado todas essas razões. Segundo ele, nunca viu ninguém morrer.

- E eu vou dar gosto de ver coisa feia?

Antonio Corrêa Sobrinho é pesquisador do cangaço. 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo22:25:00

    Parabéns ao pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho pelo texto informativo e ao MENDES pela postagem. Assim conhecemos um ex-coiteiro que assim se declara. Um coiteiro que não se esconde.
    Abraços,
    Antonio Oliveira - Bela Vista - Serrinha

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