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domingo, 20 de abril de 2014

O BOTE DA SERPENTE

Por Rangel Alves da Costa*

Não seria de percurso glorioso o destino da serpente sobre a terra. Está escrito no Gênesis 3:4: Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. Eis que havia açulado o cometimento do pecado no Éden.

A partir daí a serpente passou a ter a inglória sina na existência. E sobre a terra tornou-se símbolo da traição, da maldade, do pecado, da mentira, da astúcia, da morte vil e pérfida. Enquanto animal rastejante possui a insígnia da malícia e da perversidade, do ataque ardiloso e mortal. E enquanto analogia do homem não é diferente, vez que o ser humano, mesmo sem rastejar sobre a terra, possui as mesmas artimanhas da víbora. E muitas vezes agindo com maior perversidade.

Os maldosos aguçam as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios. E o seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras, como dito no Deuteronômio 32:33. Assim também no cálice do homem, no seu vinho envenenado pela maldade, mentira e falsidade. E principalmente na frieza do bote que dá, sem permitir qualquer defesa para, muitas vezes, o amigo de instantes atrás.

Mas, sacudindo a víbora no fogo, talvez não sofra nenhum mal, como predito em Atos 28:25. Contudo, tarefa mais que difícil é fugir da víbora, se esquivar da cobra, cortar caminhos para não encontrar a serpente. Como dito, ela é esquiva, traiçoeira, silenciosamente má, longamente esperando sua vítima para o bote certeiro. Por mais que os precavidos procurem proteger seus pés e calcanhares, por mais que muitos fujam dos caminhos perigosos, de repente se vê fisgado pelas agulhas surgidas do nada.


Da língua bifurcada da cobra, tão reconhecível e temida, desprende-se um sopro silencioso e letal. Não há voz dizendo do ataque fatal ou grito que anteceda o bote. Nada disso, apenas o faro da presa adiante. A vítima já foi avistada, já pode ser alcançada, só resta esperar o momento apropriado, que é exatamente aquele que a presa menos espera. Tudo acontece tão rapidamente, tão instantaneamente voraz, que nada parece acontecido. Mas no instante seguinte e o veneno já começa a agir.

Há muita diferença com a língua também bifurcada de muitos seres humanos? A serpente age por instinto, porque vivendo para cumprir sua sina de ferir calcares ou o que alcançar seus dentes agulhados. Mas o homem veio ao mundo com o destino da víbora, da serpente, da cobra mais peçonhenta? Não, mas assim se transforma pela raiz da maldade que deixa brotar e alimenta dentro de si. E age mais covardemente que a cobra porque transmuda sua natureza humana num serpentário de falsidades, aleivosias e traições.

Em muitos aspectos o homem é comparável à serpente. De sua boca sai o mesmo veneno, esconde-se e espera para atacar, não precisa que o ferimento dê logo sinal de perigo mortal. O veneno da cobra vai fazendo efeito aos poucos, bem assim a peçonha saída da boca humana. A pessoa falsamente atacada nem percebe o bote, mas pelos arredores todos já sabem da mentira espalhada como verdade.

A cobra de vez em quando muda de pele, e o homem vive trocando de feição. Na presença é sempre a flor, pelas costas o espinho. Igualmente à cobra que se morde toda e vai secando até morrer acaso o calcanhar desejado não mais apareça na beira da estrada, o ser humano também deveria se envenenar com a própria maldade caso a sua falsidade não conseguisse produzir o efeito desejado. Mas nem precisa que seja assim. Mais cedo ou mais tarde bebe do próprio veneno e definha feito cascavel doentio.

As serpentes continuam por aí sondando a presença dos descuidados nos beirais das estradas, nas frestas escuras, nos lugares menos impensados. E não é difícil imaginar quantas víboras humanas, línguas peçonhentas e olhares corrompidos se escondem por trás das portas e janelas, nos becos da vida e até nos encontros afáveis do dia a dia. E todos prontos para dar o bote.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

2 comentários:

  1. Anônimo13:14:00

    Quando acabar nossa vida terrestre teremos a verdadeira vida na outra dimensão,não com guerras,violência e crimes,mais com o amor de nosso senhor Jesus Cristo eternamente! Feliz pascoa amigo Mendes. Danilo Ferreira-Itapetim-pe

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    1. Igualmente amigo Daniel Ferreira de Itapetim, no Estado de Pernambuco. Felicidade e paz para você e para os seus parentes e amigos. Que Deus esteja sempre presente em suas vidas.

      José Mendes Pereira
      Mossoró, terra de Santa Luzia
      Rio Grande do Norte

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