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sexta-feira, 20 de junho de 2014

Documentarista brasiliense investiga a trajetória da cabeça de Lampião

Por Marina Severino

Em 28 de julho de 1938, um pequeno casebre instalado a 550 metros das margens do Rio São Francisco, na divisa de Sergipe com Alagoas, recebeu a tropa volante comandada por João Bezerra da Silva. A visita tirou a vida de Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros no conhecido Massacre da Grota de Angico. O momento se tornou parte da identidade brasileira. O destino dos restos mortais, entretanto, segue fora dos livros de história. Por onde esteve a cabeça do cangaceiro, que só em 2003 foi entregue à família? 

O tema serviu de inspiração para o documentário do professor e sociólogo Norlan Silva, que desde o início de 2009 pesquisa e entrevista especialistas e testemunhas. “Na época, era comum usar a cabeça dos inimigos do Estado como troféu. A tropa percorreu as cidades exibindo os restos do bando em conserva rústica. Era a representação do fim do cangaço na figura de Lampião morto”, explica o cineasta, que acredita ver na história a sintetização do comportamento de uma geração.

Soteropolitano radicado em Brasília, Norlan Silva tem 15 anos de formação em sociologia e o cangaço o fascina desde a juventude. Cinéfilo, ex-dono de vídeo locadora e desde 2007 matriculado no curso de cinema do IESB, o cineasta é novo na profissão, mas levantou uma documentação diversa e aprofundada sobre os 64 anos de afastamento dos restos de Lampião de sua família. Usando verba própria, ele esteve em sete cidades à procura de laudos, registros e especialistas no assunto. Em uma aventura cinematográfica, Norlan viajou sozinho com câmera e um microfone de lapela, disposto a se hospedar em pequenas pensões ou onde oferecessem pouso.

Cabeça de Lampião começa exatamente na Grota de Angico, em Poço Redondo (SE), onde Norlan usou a prática em pesquisas de antropologia para chegar a Silvano Félix Cruz, membro de uma família de coiteiros – seu pai e seu irmão eram conhecidos de Virgulino Ferreira e protegiam os cangaceiros. Em um casebre montado na grota, o bando se hospedou por sete dias, tempo excessivo para os costumes de Lampião, e foram traídos por um dos moradores da cidade. “Silvano me contou o que ouviu que aquela traição resultou da briga de dois coiteiros por uma moça. Um deles denunciou o outro para a volante como conhecedor do paradeiro dos cangaceiros. O outro rapaz foi torturado e delatou”, detalha Norlan.

Aventura

O roteiro segue trajetória levantada pelo cineasta a partir de livros sobre o assunto e das histórias contadas pelos habitantes de Poço Redondo. Da cidade, Norlan seguiu para Piranhas (AL), Santana do Ipanema (AL), Salvador, Rio de Janeiro e Maceió, locais por onde o denominado “desfile macabro” passou. “Em Maceió, a tropa foi condecorada e as cabeças exibidas na Praça Floriano Peixoto, mas no Rio há controvérsias até sobre a chegada da cabeça. Supõe-se que apenas Getúlio Vargas e parte da elite tenham visto o troféu”, afirma.

Do Nordeste ao Rio, a viagem levava, na época, cerca de um mês. Apenas em 1939 aparecem novos registros da passagem da cabeça, agora por Salvador, que chega à cidade a pedido de Estácio de Lima, professor emérito de medicina e direito da Universidade Federal da Bahia, para ser estudada sob luz da teoria lombrosiana(1). Lamartini Lima e Maria Thereza Pacheco, médicos legistas da época ainda vivos e integrantes da equipe de Estádio de Lima, estão entre personagens chave de Na trilha de Lampião.

Uma das pérolas do documentário, ainda em fase de finalização, está o depoimento do coveiro José Barbosa, do Cemitério Público da Quinta dos Lázaros, em Salvador, onde foram enterradas personalidades do cangaço como Corisco, Lampião e Maria Bonita e o guerrilheiro Carlos Lamarca. Em 1969, a ossada foi enterrada pela primeira vez por José Barbosa. “Houve um deslizamento depois, em 1993, e ele era o único capaz de reconhecer a localização e distinguir cabeças dos reis do cangaço entre outras do bando, como Zabelê, canjica e Azulão”, recorda Norlan Silva.

Pensado originalmente como filme didático para escolas e universidades, já são desejados saltos maiores. O curta Na trilha de Lampião, finalizado a partir de depoimentos de Silvano Félix Cruz, está pronto para festivais. Há previsão ainda de versões de 50 minutos para TV e, talvez, uma estendida para disputar espaço nas telonas.
1 – Discriminação científica

Cesare Lombroso, cientista italiano, publicou em 1876 sua teoria, que seria base para estudos positivistas na época. Segundo ele, certos homens nasciam criminosos e essa característica seria consequência de fatores biológicos. Os sinais seriam comprováveis por meio dos estudos anatômicos.

Fonte: Correio Braziliense, por Marina Severino.

http://www.marinamara.com.br/2009/12/21/documentarista-brasiliense-investiga-a-trajetoria-da-cabeca-de-lampiao/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo15:11:00

    Se não estou enganado Mendes, a tese lombrosiana caiu logo por terra. NINGUÉM NASCE CRIMINOSO, COM DEMONSTRAÇÃO BIOLÓGICA.
    Antonio Oliveira

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