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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Extraído do “O ESTADO DE S. PAULO”, edição de 11/01/1991

Por Antonio Corrêa Sobrinho

Extraí do “O ESTADO DE S. PAULO”, edição de 11/01/1991, esta crônica de Raquel de Queiroz, onde a notável escritora cearense, nas suas observações biográficas a respeito do famoso bandoleiro potiguar, Jesuíno Brilhante, faz comparações entre este e o cangaceiro propriamente dito, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. 


Na opinião do amigo, a análise da nossa grande escritora primou mais pela profundidade ou pela superficialidade na comparação feita dos pistoleiros? 

JÁ NÃO SE FAZEM MAIS BANDIDOS COMO ANTIGAMENTE
Por Raquel de Queiroz



Ando agora muito envolvida com pesquisa sobre o banditismo nordestino, na era de 60 e 70 do século passado. E a figura de outlaw que encheu essa década foi a de Jesuíno Alves de Melo, codinome Jesuíno Brilhante.

Foi ele o cangaceiro mais notório do século. Lampião só o excedeu em publicidade porque teve a lhe trombetear o nome e ajuda da mídia – imprensa, rádio, cinema. E Lampião era amoral, perverso, sem o sentimento de honra sertaneja, personificada por Jesuíno. Até mesmo Antônio Silvino, que completa o trio dos bandoleiros mais famosos do sertão, jamais se igualou ao Brilhante.

Se tivesse nascido nos EUA, há muito estaria no cinema, rivalizando com Billy The Kid. Tinha tudo para ser o caubói padrão de uma saga cinematográfica. Era bem nascido, pai fazendeiro, mãe Alencar, do Ceará. Branco, louro arruivado, bonito, musculoso e de Olhos Azuis! Satisfazendo o racismo latente do seu tempo, os biólogos só se referem à família dos Limões, adversaria dos Brilhante, como “os negros”, os “cabras”, os “pardos”. E os próprios Limões, filhos de escrava e pai forro, davam a um dos seus o apelido de “Negro Limão”. O nobre caubói, contudo, tinha os seus antecedentes criminais: seu tio José, o primeiro Brilhante, fora bandoleiro temido.

Assumindo o sobrenome digamos “histórico” do tio materno, Jesuíno dá mostra de que não se pejava das tropelias do parente, antes se considerava seu herdeiro e seguidor. Começou, aliás, sua carreira, com o chamado “motivo fútil”. O moleque José Limão (16 anos de idade) “respondeu mal” ao pai de Jesuíno, ao lhe fazer entrega de uma junta de boi que o velho Alves emprestara ao fazendeiro seu amo. Jesuíno castigou o atrevido com uma surra de relho. Os oito Limões tomaram vingança e surraram o caçula dos Alves; aí Jesuíno fez sua primeira morte, liquidando a faca o “cabra” Pedro Limão.

Os Limões se associaram à polícia e com isso perderam toda a simpatia da população. Principalmente porque as tropas de polícia se haviam tornado especialmente temidas e odiadas ao se empenharem na caça de recrutas para a guerra do Paraguai – os chamados “voluntários da corda”, pois que embarcavam amarrados. Um dos irmãos Brilhante foi apresado para a guerra (sob a chefia de um Limão, feito policial) e Jesuíno teve que o libertar, a mão armada. Como teve que libertar mais tarde o próprio pai, que fora preso na cadeia do Pombal, na Paraíba, em provocação ao filho. O velho jamais se envolvera nas guerras do Jesuíno. Mas o que lhe deu aureola de herói foi porque, durante a sua relativamente curta carreira, Jesuíno Brilhante jamais assaltou ou roubou. Apenas, durante a tremenda seca de 1877, que devastou o sertão por três anos, “requisitava” os comboios de gêneros mandados pelos governos aos seus prepostos (em cujas mãos grande parte dos socorros era desviada) e os distribuía às turbas de retirantes famintos que desciam pelas estradas. Era também o defensor das famílias: obrigava a casamento aos que se negavam a reparar a honra das donzelas, protegia senhoras sozinhas, viúvas, ou casadas com marido ausente.

De uma caverna inexpugnável na serra do Cajueiro, que fora o reduto do tio José Brilhante, Jesuíno fez a sua fortaleza. De lá saía para as correrias e batalhas campais com a tropa e os inimigos. E só morreu, numa emboscada policial, guiada pelo último dos limões (ele já mata os outros todos) porque estava fora da “Casa de pedra”, a gruta cavada entre os penedos.

Sua saga deu até romances, e deu intermináveis cantorias no folclore do Nordeste. Seu crânio, exumado por um estudioso, foi dado de presente ao alienista Juliano Moreira, no Rio, e inexplicavelmente se sumiu. Lá no sertão se acredita que foi o próprio Jesuíno que veio buscar a sua caveira.

As imagens ilustram a publicação.

Fonte: facebook


http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

Um comentário:

  1. Anônimo22:06:00

    A grande Raquel de Queiroz caro Mendes e seus belos escritos.
    Antonio Oliveira

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