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sábado, 26 de dezembro de 2015

PADRE FERREIRA

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

A história não é invenção sem pesquisa, fato e acontecimento.
Francisco de Paula Melo Aguiar

Quem é metido a historiador deve viver pesquisando os fatos que envolvem o lócus em sua historicidade, sempre que possível retratando a verdade até onde a mesma é possível sua comprovação por dedução racional e lógica dos fatos, inclusive por analogia dentro da tese da aproximação dos acontecimentos. Isso é o mínimo que um historiador pode oferecer aos seus leitores presentes e futuros. Assim sendo, o disse me disse em Santa Rita de que o Vigário Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, que aqui chegou em 1874 para tomar conta de nossa freguesia católica apostólica romana. Aquele que fundou a primeira escola de educação de adultos do sexo masculino, conforme transcrevemos que o jornal Gazeta da Parahyba, ano 1, editado na Parahyba do Norte, sexta feira, 21 de dezembro de 1888 – nº 187, folha diária, publicou na primeira página: “Club Amigos do A.B.C. Com este título acaba de fundar-se na povoação de Santa Rita uma associação, cujo fim é propagar a instrucção por meios de aulas nocturnas. Teve logar a primeira reunião no domingo ultimo, a que compareceram 43 sócios, sendo eleita a directoria que ficou composta dos Srs. : Vigário Manoel Gervasio Ferreira da Silva, presidente; Dr. Chrispim Antonio de Miranda Henriques, vice presidente; Amaro Gomes Ferraz, 1º secretario; Galdino Ignacio de Vasconcellos, 2º secretario. Mais louvaveis não podem ser os intituitos da nova associação a qual desejamos vida longa e que consiga o fim que tem em vista. No próximo domingo realisa-se a segunda reunião para discussão dos estatutos”(Transcrevemos com a ortografia da época do referido jornal). Esse acontecimento histórico municipal aconteceu em 21 de dezembro de 1888, portanto, há sete meses da libertação dos escravos nos termos da Lei Áurea assinada pela princesa Isabel em nome do Segundo Império Brasileiro. Santa Rita era apenas um povoado agregado ao município da capital da Paraíba do Norte. Isso é fato e contra fato não se tem argumento. Ressaltamos de que em 19 de março de 1890, através do Decreto nº 10, foi emancipado o município de Santa Rita, sendo Antônio Gomes Cordeiro de Mello, empossado Presidente do Conselho Municipal de Intendência com a instalação do município em 29 de março de 1890. Tudo bem. Depois o disse me disse, sem comprovação histórica fala de que no período de janeiro de 1893 a setembro de 1897, o Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, se elegeu deputado estadual de Santa Rita, sic, e influenciou a restauração da emancipação política de Santa Rita, graças ao presidente Antônio da Gama e Mello. A restauração da autonomia municipal aconteceu realmente em 1897, porém, o nome do Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, como deputado estadual eleito em 1896, sic, não consta em nenhuma legislatura da Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, inclusive na “3ª LEGISLATURA - 1896-1899”, pois na época eram os seguintes deputados estaduais: “Abdon Odilon da Nóbrega; Adelgício Cabral de Albuquerque Vasconcelos; Antônio Tomás de Araújo Aquino – faleceu; Apolinário da Trindade Meira Henriques; Apolônio Zenaide Peregrino de Albuquerque – renunciou; Ascendino Cândido das Neves; Augusto Alfredo de Lima Botelho; Augusto Gomes e Silva; Cláudio César Freire; Francisco Antônio da Silva Araújo Pereira;  Francisco Claudino de Lima e Moura; Francisco de Gouveia Nóbrega - eleição complementar; Francisco de Paula Pessoa da Costa – faleceu; Francisco Targino Pereira da Costa; Graciliano Fontino Lordão; Gustavo Mariano Soares de Pinho; Higino Gonçalves Sobreira Rolim; Inácio Evaristo Monteiro Sobrinho; João Leite Ferreira Primo; João Lourenço Porto; João Pereira de Castro Pinto - eleição complementar;  José Alves Cavalcanti de Albuquerque; José Bezerra Cavalcanti de Albuquerque; José Campelo de Albuquerque Galvão; José Fernandes de Carvalho; José Francisco de Moura; José Francisco de Paula Cavalcanti (Coronel Cazuza Trombone); Manoel Dantas Correia de Góis; Manoel Joaquim de Sousa Lemos; Manoel Soares Sarmento; Waldevino Lobo Ferreira Maia; Walfredo dos Santos Leal - eleição complementar; Wenceslau Lopes da Silva”, conforme pesquisa¹. Portanto, cai por terra o argumento de que Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, foi deputado estadual por Santa Rita na terceira legislatura de 1896 a 1899 da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba. Isso não é verdade. Ressaltamos de que a Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro - 1891 a 1940 - PR_SOR_00165_313394, publicou em 1901 os Estados da República, inclusive cita textualmente as páginas 1346, 1347 e 1348², onde consta: “Governo do Estado – Presidente: José Peregrino de Araújo, Desembargador; 1º Vice Presidente: Affonso Lopes Machado, Dr.; 2º Vice Presidente: Manoel Gervasio Ferreira da Silva, Padre” (p. 1346). Por outro lado, é importante também afirmar de que o Padre Ferreira, apesar de ser um homem influente com vigário, chefe político e vice Presidente do Estado da Paraíba no período de 22 de outubro de 1900 a 22 de outubro de 1904, não assumiu o cargo de governador interino estadual por um grau de segundo, tendo em vista o que consta das mensagens e ou relatórios administrativos anuais enviados pelo presidente José Peregrino de Araújo nos anos de 1901³, 19024, 19035 e 19046. Mesmo assim, o padre coronel na religiosidade e na gestão pública santaritense, foi um dos idealistas ao lado de Antônio Gomes Cordeiro de Mello, dentre outros para fazer Santa Rita livre do domínio político e administrativo da capital do Estado da Paraíba.  A política circulava em suas veias como o sangue a procura da oxigenação, exerceu por diversas vezes funções públicas eletivas, dentre as quais a de Presidente do Conselho Municipal, órgão equivalente a atual Câmara Municipal no período de 1907 a 1910, tendo como vice presidente o Capitão Clementino Augusto de Oliveira e como secretário Terêncio Ferreira.  Neste período o prefeito era o coronel Francisco Alves de Souza Carvalho e o vice prefeito era Olynto Gil de Freitas. O cargo de juiz de paz era preenchido por eleição em Santa Rita e no resto do Brasil naquele tempo.

Para se ter uma noção geral da historicidade de Santa Rita no período de 1907 a 1910,  fim da primeira década do século XX, passaremos a transcreve, inclusive com a ortografia da época o que diz o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (1891 a 1940), a respeito de Santa Rita-Paraíba7 em 1909,

“ESTADO DA PARAHYBA DO NORTE
Santa Rita
Município pertencente á comarca da capital. Comprehende os districtos  da cidade e Livramento. Por decreto de 14 de junho de 1890 foi creado comarca. E em janeiro de 1903 foi supprimida a comarca e o município. Por lei 79 de 24 de setembro de 1897 foi restabelecido o município. O transporte é feito por via ferrea, estradas de rodagem em animaes e automoveis.
Possue 868 casas cobertas de telhas e 2936 de palha. Sua população é de 17:643 almas, sendo 8086 homens e 9557 mulheres (1909).
Administração municipal:
Prefeito: Francisco Alves de Souza Carvalho, cor.
Sub-prefeito: Olynto Gil de Freitas”.

                   O Conselho Municipal Legislativo estava assim constituído:

“Presidente do conselho: Manoel Gervário Ferreira da Costa, pad. (em vez da Costa, da Silva, correção nossa).
Vice – presidente: Clementino Augusto de Oliveira, cap.
Secretario: Terencio Ferreira.
Procurador thesoureiro: E. Ferreira do Monte Falco.
Conselheiros:
Ernesto Rodolpho Cavalcanti de Albuquerque.
Joaquim P. Ferraz de Carvalho.
Manoel Justino de Andrade”.

                     Os serviços de fiscalização, portaria e de guardas municipais estavam constituídos assim:

“Fiscal: Henrique da Silva e Albuquerque.         
Porteiro: Antônio F. da Nobrega.
Guardas:
Joaquim Teixeira de Vasconcellos.
Manoel de Sousa Maciel”.

                    Os serviços processuais municipais estavam assim organizados, segundo a legislação pertinente em vigor:


“Administração judiciária:
1º districto: Santa Rita.
Supplentes do juiz substituto seccional:
1º Clementino Augusto de Oliveira.
2º Olinto Gil de Freitas.
Ajudante do procurador da República:
Terencio Ferreira”.

                   E através de eleições livres a população habilitada  escolhiam os,

“Juizes de paz:
1º Dr. Thomaz Gomes da Silva.
2º Antônio Gomes Cordeiro de Mello.
3º José Gonçalves do Nascimento.
4º Pedro Serapião de Araujo.
Supplentes:
Chrysanto Ribeiro P. de Lacerda.
Elias Gomes da Silveira.
Genuino Thomaz de Mello.
Pedro Teixeira de Vasconcellos.
Official de registro civil e escrivão de paz: Duval Gonçalves do Nascimento”.

                       Tanto a sede Santa Rita, quanto o Distrito de Nossa Senhora do Livramento tinha seus juízes de paz:
      
“2º districto: Livramento.
Juizes de paz:
1º Hypolito de Sousa Falcão;
2º José Emilio P. de Carvalho.
3º Belino Alves de Vasconcellos Duarte.
4º Joaquim da Silva P. Ferreira.
Supplentes:
Eduardo Marques Guimarães.
José da Costa e Silva.
Losé Moreira dos Santos (Losé em vez de José).
Paulo Canuto da Paz”.

                         A segurança pública também se fazia presente assim:

“Administração policial:
Delegacia:
Delegado: Alexandre Benicio de Carvalho.
Supplentes:
1º Terencio Ferreira.
2º Marcelino Cavalcanti de Albuquerque.
3º Feliz de Mello Azedo.
1ª Sub-delegacia:
Joaquim Gomes da Silveira.
Supplentes:
1º João Ferreira de Deus.
2º Constantino José de Medeiros Correia.
3º Olynto Gil de Freitas.
2ª Sub-delegacia:
Sub-delegado: João Braz Ferreira.
Supplente: João B. de Vasconcellos Maia.
Districto do Livramento, 3ª Sub-delegacia:
Sub-delegado: Henrique Chrisostomo de Carvalho.
Supplentes:
1º Anthero Lopes de Mendonça.
2º Ulysses Toscano de Brito.
3º Elysio Lopes de Mendonça.
4ª Sub-delegacia:
Sub-delegado: Carlos Hilario de Carvalho.
Supplentes:
1º Manoel Chaves de Carvalho.
2º Francisco da Cosa Guarim.
3º Manoel Valerio de Carvalho”.

                         No período de 1907 a 1910, Santa Rita tinha duas grandes educadoras,

“Instrucção publica e particular:
Professores minicipaes:
D. Joanna Gomes da Silveira.
D. Maria Vita Ferraz de Carvalho”.

                        A mesa de renda estadual também já existia entre nós,

“COLLECTORIAS:
Collector estadoal: Francisco Moniz de Medeiros.
Escrivão: Manoel Valerio de Carvalho”.

                        Os serviços dos correios e telégrafos também já estavam implantados,

“Correio:
Dona Ana Carolina Cordeiro de Mello.
Telegrapho:
Chefe: Mnaoel Moniz de Medeiros”.

                         A Igreja Católica Apostólica Romana ainda era a única instituição religiosa existente no âmbito municipal em funcionamento, haja vista que durante o período imperial a mesma era a igreja oficial,

“Religião:
Vigário collado: Manoel Gervasio Ferreira da Silva”.

                       Os serviços religiosos eram divulgados e propagados na comunidade através das

“Irmandades:
Conceição.
Dores.
Coração de Jesus.
Rosario.
Santo Antonio”.

                         A cidade também tinha  “Sociedade Musical Carlos Gomes”, que com o passar foi extinta por seus fundadores.
                         O comércio local já era próspero e tinha diversos estabelecimentos comerciais, dentre os quais,

“Commercio:
Fazendas, seccos, molhados, ferragens, etc.
Antonio Thomaz Gomes da Silva.
Clementino Augusto de Oliveira.
Ernesto Rodolpho C. de Albuquerque.
Genuino Thomaz de Mello
Horacio de Mendonça Furtado.
José Kurth.
Luiz Correia”.

                   A história do Brasil registra que na Paraíba, o primeiro engenho de fabricação de açúcar foi o Engenho Tibiri, desde o período do Brasil Colonial, o solo santaritense foi logo ocupado com a construção de diversos engenhos de cana de açúcar, não ficou apenas no sonho realizado pela primeira fábrica do gênero, porém, Santa Rita também recebeu da iniciativa privada a primeira fábrica de tecidos do Estado da Paraíba em 1892, a “Companhia de Tecidos Tibery Parahybana”, bem como registramos em 1909 a existência de,

“Engenhos:
Angelo Custodio Correia, Santiago e Torrinha.
Antonio C. de Carvalho, Joburu (joburu não, Jaburu).
Antonio Cordeiro de Mello, Capellinha.
Antonio Furtado, Santo André.
Antonio Lyra, cor, Cumb..         
Antonio da Silva Mello Filho, Unna.
Caetano Gomes de Almeida, cor., Gargaú, Pau Dases e Clara Netto.
Companhia Commercio (sede Rio de Janeiro), Central S. João.
Guilherme Gomes da Silveira, S.Guilherme.
Francisco Alves de Sousa Carvalho, cor., Rio Preto, Coiongo, Pureza e Pameza.
Francisco Marques da Fonseca, Santo Amaro.
Dr. Francisco Barbosa Aranha Monteiro da França, S. Francisco e Medo.
Dr. Lindolpho de Assumpção , Tibery.
D. Maria Pedrosa, Engenho Velho.
Fabrica de álcool e assucar: João Augusto Moreira”.
             
                     Entre os proprietários rurais também em 1909, encontramos em Santa Rita,

“Agricultores e lavradores:
Alypio Gomes da Silveira.
Antonio da Silva Mello Filho.
Cypriano Gonçalves do Nascimento.
Francisco Alves de Sousa Carvalho, cor.
Dr. Francisco Barbosa A. Monteiro da Fonseca.
João Victorino Raposo.
Terencio Ferreira”.

                   Como não poderia faltar a presença dos principais,

“Criadores:
Caetano Gomes de Almeida.
Francisco Alves de Sousa Carvalho, cor. (coronel).
João Victorino Raposo.
Dr. Lindolpho de Assumpção Santiago.
D. Maria Pedrosa”.

                    E por fim o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (1891 a 1940), que menciona em suas páginas a existência de figuras importantes no mundo econômico e financeiro,
 “Capitalistas:   
Dr. Agostinho Netto.
Antonio Furtado da Motta.
Caetano Gomes de Almeida.
João Victorino Raposo”.

                    Enfim, essa é a Santa Rita até 1910 do Padre Manoel Gervásio Ferreira da Silva, falecido em 1916, que passou por morte o comando supremo da chefia política municipal ao coronel Francisco Alves de Souza Carvalho.

¹ Cf.: José Ozildo dos Santos. Deputados Estaduais por legislaturas. In.:
² Cf.: Edição digitalizada A00058, fls., 1169, 1170 e 1171. In.:
³ Cf.: Paraíba. Mensagem de 1901. In.:<  http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u534/index.html > . Acessado em, 03/04/2015.
4 Cf.: Paraíba. Mensagem de 1902. In.: <  http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u535/index.html > . Acessado em, 03/04/2015.
5 Cf.: Paraíba. Mensagem de 1903. In.:  <  http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u535/index.html  > . Acessado em, 03/04/2015.
6 Cf.: Paraíba. Mensagem de 1904. In.: < http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u537/index.html > . Acesado em, 03/04/2015.
7 Cf.: Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro - 1891 a 1940 - PR_SOR_00165_313394. Acessível in.:


Enviado pelo poeta e escritor Francisco de Paula Melo Aguiar

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