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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O EVANGELHO DO AMOR, SEGUNDO PAULO

Por Rangel Alves da Costa*

Comumente são conhecidos quatro evangelhos bíblicos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Existem outros evangelhos que não constam do livro sagrado, eis que escritos dispersamente e contendo doutrinas que vão além ou aquém da inspiração divina, segundo o entendimento da igreja. Evangelhos são, pois, a descrição dos fatos, palavras e ensinamentos de Jesus Cristo. Daí que nas liturgias o sacerdote sempre faz a leitura de uma passagem do evangelho segundo Mateus, Marcos, Lucas ou João.

Após a proclamação do evangelho vem o instante da explicação daquela passagem bíblica, ou homilia, e esta geralmente para sintetizar o amor de Deus sobre os homens. Contudo, há outra passagem bíblica - e esta vagamente utilizada na primeira leitura ou liturgia da palavra - que sintetiza toda a verdade sobre o amor, e não somente a Deus como aos homens. Está contida no livro denominado Primeira Epístola aos Coríntios, escrita pelo apóstolo Paulo, mais especificamente no capítulo 13, onde se lê:



“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor”.

Também a magistral Legião Urbana, através de Renato Russo, transformou tal hino ao amor na bela canção Monte Castelo, entremeada de versos camonianos: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria. É só o amor, é só o amor que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal, não sente inveja ou se envaidece. O amor é o fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria...”.

Eis a epístola como grandioso poema, e este dimensionado no amor, no mais puro e verdadeiro amor. Não há que duvidar de sua importância como norteamento humano, não há como não senti-lo senão como ensinamento aos que apenas sentem-no sem se aprofundar na sua nobreza. No sentido prático da existência e das relações, simplesmente mostrando que nada possui mais força que o amor, que o ato de amar, que a sua conservação e semeadura. Na verdade, como bem citado por Paulo, sem amor nada ganha vida ou significação.

É como sentença cravada na pedra: sem amor, todos os poderes são apenas posses inúteis, fragilizadas, algo como ter e nada ter, pela falta da essência maior do sentimento pelo que se tem; sem amor, não há que se falar em dons, em dádivas, em sabedorias, eis que o profeta maior é o próprio amor na sua capacidade de antever a graça de amanhã, eis que o mistério maior é o próprio amor, na sua habilidade de expressar pela ação todas as bondades do mundo e todas as grandezas da alma. E ainda: sem amor, toda fortuna é pobreza, toda sabedoria é mero conhecimento. Porque o amor é o que sustenta a fé, é o que alimenta o ser das glórias do mundo.

O apóstolo Paulo limita o amor entre o tudo e o nada. Mostra do que ele capaz dentro dos corações humanos, mas também aponta o vazio pela sua ausência. E bem se poderia dizer desse pássaro que livre e contente voa pelos horizontes azuis, dessa fonte de água doce e cristalina que sacia a quem nele crê, dessa janela aberta para as manhãs e os dias e em cujos horizontes o homem de bom coração não cansa de se encontrar. Assim o amor lá no cume da montanha mais alta, onde os olhos brilhosos em tudo avista a face de Deus.

Até no amor carnal se avista este evangelho maior do sentimento, pois quando se deseja, se deseja apenas como um simples querer, uma mera vontade, mas quando se ama, será no amor sentido que repousará a alegria em compartilhar.
  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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