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terça-feira, 14 de junho de 2016

LAMPIÃO E A CIDADE DO SOL

Por André Carneiro de Albuquerque*

Nos primeiros cinco anos como chefe de cangaceiros, entre os anos de 1922 e 1927, Virgulino Ferreira, o Lampião, tinha conquistado fama de sanguinário. Seu nome se fazia presente em inúmeros jornais, que denunciavam uma longa lista de ações criminosas. O cangaço em seu reinado pouco parecia com os seus antecessores e em todos os combates que participou provocou baixas significativas entre seus oponentes. 


O temido cangaceiro foi invencível neste período. O espantalho, como também ficou conhecido, entendia princípios básicos no campo da estratégica, que os elementos críticos na guerra são: rapidez, capacidade de adaptação, conhecimento do terreno e do inimigo. Porém, a sequência de intermináveis “vitórias”, os aplausos de seus comandados e a vaidade provocada pela notoriedade adquirida; pode ter provocado o esquecimento de que, toda tropa tem seus limites e que por maior que seja o ímpeto guerreiro ela só consegue levar o seu líder até certo ponto. Sendo assim, o comandante de qualquer grupamento armado é obrigado a ponderar e escolher com cuidado suas batalhas. Ignorar tal dinâmica levou Lampião ao seu maior equívoco estratégico. Sair do sertão pernambucano até a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, cooptar cangaceiros pertencentes a outros bandos, atuar em um cenário de operações desconhecido, foram erros agudos. Mossoró, possuía cerca de 20.000 habitantes, um centro comercial significativo, linha férrea, agencia bancária e um setor salineiro importante. Uma cidade em pleno desenvolvimento. Como se não bastasse, a população tomou conhecimento prévio da aproximação do bando. O cangaceiro, usou inúmeras táticas de intimidação: sequestro de pessoas para forçar pagamento de resgate, constantes deslocamentos de bandos menores e bilhetes exigindo dinheiro para deixar a região sem lutar. Ao esbarrar com o determinismo da população em não se curvar ao temido invasor, Lampião é duramente afrontado e muito provavelmente não considerou a possibilidade de recuar e deixar a região. Parte da cidade foi ocupada, por três grandes ondas de cangaceiros, sendo a terceira falange comandada pelo próprio Virgulino. Em alguns pontos o tiroteio foi acirrado, tendo os cangaceiros entrado em uma dinâmica de luta desconhecida, pois tiveram de confrontar citadinos bem abrigados nos telhados das casas, o que gerava uma significativa vantagem bélica. Os líderes da resistência perceberam que a melhor chance diante do experiente bando, era trocar espaço por tempo; manobra conhecida no meio militar como: estratégia do não compromisso, resistiram à tentação de combater em campo aberto, e permitiu ao cangaceiro aparentemente dominar a zona rural, enquanto ganhavam tempo para planejar e organizar a exitosa defesa. Graças a tal iniciativa foi possível retirar da cidade quase toda a população inapta para a luta, alertar autoridades vizinhas e pedir reforços. Perder homens e ser obrigado a deixar a cobiçada Mossoró após uma constrangedora derrota não foi a pior parte da malfadada campanha. Retornar para terras pernambucanas foi um verdadeiro flagelo. Acuado por inúmeras volantes, que foram alertadas de sua localização e possíveis rotas de retorno, abandonado por coiteiros aliados e enfrentando indisciplina entre os seus comandados, foi a primeira vez que Lampião sentiu na pele o peso do fracasso, aprendendo na prática que “cidade de duas torres não era lugar para cangaceiro”.

André Carneiro de Albuquerque*
Mestre em História Militar/ Autor do Livro –Capitães do fim do Mundo
a.c.albuquerque@hotmail.com/andre@historiasolidaria.com.br

Enviado pelo professor, escritor pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogodmendesemendes.blogspot.com    

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