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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A LUA DE CAROL

*Rangel Alves da Costa

Conheço uma menina que já está moça feita e nunca avistou a lua. Conheço uma moça feita que ainda é menina e que nunca viu o sol brilhando. Conheço uma menina-moça, tão encantadora como a própria natureza jamais avistada por ela, que tem o sonho maior de um dia amanhecer e abrir a janela para avistar os horizontes e além. Essa moça e menina que conheço se chama Anne Caroline Santana Guimarães, ou simplesmente a doce e meiga Carol.

Carol Guimarães é filha do radialista Barroso Guimarães, e com o pai é sempre avistada sorridente pelas ruas da cidade. Também radialista, palestrante e entusiasta da vida, Carol dialoga com todo mundo que a reconhece como se estivesse perante uma grande amizade. De belas palavras e sorriso bonito, estão nos seus olhos, contudo, uma triste realidade que a torna em superação por outras formas de ser. Verdadeiramente um contrastante que um grave problema de visão a predisponha tanto a viver, a sorrir, a ter esperanças. Mas assim ela age precisamente porque a qualquer momento pode tirar os óculos escuros e avistar todas as formas e cores da vida.

E foi também sobre a lua o meu último diálogo com Carol. Pelo centro da cidade, eis que avisto Barroso Guimarães e sua filha, passando de braços dados, como sempre caminham. Cumprimentei o radialista já conhecido de outros idos, e saudei com especial reverência a bela Carol. Nos caminhos das palavras, principalmente acerca da esperança em resolver aquele problema com a mais moderna técnica de tratamento no Hospital de Olhos da Universidade de Miami (Bascom Palmer Eye Institute), nos Estados Unidos, também os relatos acerca das dificuldades financeiras para tão custoso tratamento. E principalmente a falta de apoio dos órgãos públicos e governamentais.

Quando, num gesto carinhoso, perguntei-lhe como será avistar a lua após a eficácia do tratamento, ela esboçou um sorriso e disse que, na sua esperança, nunca deixou de avistá-la com todo o brilho que ouve dizer que tem. Uma coisa tão bela que somente presenciando para descrever, mas que já a tem no olhar porque jamais abdicou da certeza de que seus olhos alcançarão a luz sobre todas as coisas. Quando Deus disse faça-se a luz, não estava esquecido dos olhos dos cegos. Aquele que se eterniza na cegueira possui uma luz interior muito mais fulgurante que os demais, e aqueles que, com o tempo, enfim conhecem a luz do mundo, passam a avistar a vida não pelo olhar, mas pelo coração.


Carol quer avistar a lua, a luz do mundo e da vida. Avistar a lua e sua luz possui um significado especial a muitos. Perante as realidades assustadoras e as dolorosas paisagens cotidianas, os pequenos instantâneos que surgem ao olhar se afeiçoam a um conforto necessário à alma, ao espírito, à existência. Daí a importância da lua fulgurando na noite, do sol se pondo com seus matizes afogueados, do céu estrelado, de uma janela aberta para os sinais do alvorecer. Tais cenários, por serem inversos aos duros retratos do dia a dia, sempre comovem e encantam, sempre sensibilizam e inspiram. Mas tem gente que enxerga e não quer avistar, enquanto tantos outros olhares sonham em um dia poder avistar uma lua, uma estrela, uma flor.

Carol, além das cores da vida, também deseja muito poder avistar sua face no espelho.  Então me vem à memória a história de um menino cego que, para espanto da mãe, de repente dela se aproximou e perguntou quais as cores do arco-íris. Cego de nascença, sem jamais avistar qualquer luz senão a escuridão, a mãe ficou instigada em saber por que o menino queria saber as cores do arco-íris. Vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta, respondeu ela. Então o filho perguntou: E a cor que eu enxergo é vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil ou violeta? Ou será que a cor que enxergo não está no arco-íris? Coitada da mãe. Já propensa a chorar, esforçava-se ao máximo para que o filho não sentisse seu estado de aflição. Mas respondeu: Sim, meu filho, todas as cores possuem essa mesma cor que você enxerga. Tenha certeza que o arco-íris que eu avisto possui as mesmas cores que aparecem diante de seus olhos, porque o arco-íris não é o que a gente enxerga, mas o que a gente sente. Então o filho disse, por fim: E o meu é tão bonito que até quando fecho os olhos ele aparece com as mesmas cores.

Apenas uma história. Mas a história de Carol é tão real quanto os seus olhos sem luz. Então ajudem Carol a avistar sua lua. Deposite sua ajuda para o tratamento: Caixa Econômica Federal, Conta 170543-1, Agência 1733, Operação 013. Banese, Conta Corrente 8522-7, Agência 055, Conta tipo 01. Banco do Brasil, Conta Poupança 121916, Agência 27294, Variação 51.
Por enquanto, digo-te apenas, Carol: a lua é linda!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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