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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O MERCADO DO DERBY...

Coronel Delmiro Gouveia

Em 1897, Delmiro Gouveia projetou a construção de um mercado público em Recife com características inovadoras, manifestamente inspirado no centro comercial da Exposição Universal de Chicago (1893), que visitara na sua segunda viagem aos EUA. 

O empreendimento começou a ganhar forma em março de 1897, quando Delmiro adquiriu os terrenos da extinta Sociedade Hípica Derby Club, numa área abandonada fora do centro da cidade. Em fevereiro de 1898, o empresário firmou acordo com o prefeito Coelho Cintra, assegurando para si o direito de construir e explorar o mercado com isenção de impostos municipais por 25 anos. Em seguida, firmou parceria com Napoleão Duarte para levar adiante o empreendimento, constituindo a empresa Gouveia & Cia. Além do mercado, Delmiro também decidiu empregar seus capitais no negócio do açúcar, adquirindo os bens e instalações da refinaria e destilaria Beltrão, em sociedade com José Maria Carneiro da Cunha. 

Mercado do Derby com os seus 129 metros de comprimento - Fonte da imagem: http://blogs.diariodepernambuco.com.br/esportes/2014/01/21/antes-do-futebol-o-mercado-do-derby/ 

O mercado do Derby, também conhecido como mercado Coelho Cintra, foi inaugurado parcialmente em maio de 1899 e de forma definitiva em setembro do mesmo ano. Foi um dos primeiros estabelecimentos da cidade a dispor de iluminação elétrica, marcando época, apesar de sua breve existência. Instalado num prédio com 18 portões, o mercado contava com 264 boxes para venda de gêneros alimentícios, tecidos, calçados, louças e até mesmo artigos de luxo. Perto do prédio principal, Delmiro construiu um hotel, um cassino, um velódromo e um parque de diversões. O empreendimento logo foi aclamado como símbolo do progresso e modernização de Recife, despertando a admiração até mesmo de observadores estrangeiros. 

O êxito do Derby não impediu a formação de uma tempestade nas relações de Delmiro com as autoridades municipais e estaduais. Os desentendimentos começaram antes da inauguração do mercado, quando o novo prefeito da capital, Esmeraldino Torres Bandeira (empossado em dezembro de 1898), exigiu a drenagem dos terrenos fronteiros ao estabelecimento para evitar alagamentos. Delmiro demorou a cumprir a exigência, argumentando que a responsabilidade da obra era da prefeitura, e chegou a impedir pessoalmente, de revólver em punho, a abertura de um canal na rua principal de acesso ao Derby. 

Meses depois, o prefeito proibiu a venda de carne no Derby e determinou a apreensão de um carregamento de farinha, alegando que deveriam ser vendidos no mercado São José, de propriedade municipal. Em junho de 1899, Delmiro viajou ao Rio de Janeiro para entender-se pessoalmente com Rosa e Silva. Após um primeiro encontro com o senador, teria tomado conhecimento de um plano para assassiná-lo. Resolveu interpelar Rosa e Silva, agredindo-o a bengaladas em plena rua do Ouvidor. O episódio intensificou a troca de acusações, pela imprensa, entre Delmiro e seus adversários. Acusado de enriquecimento ilícito e de praticar violências contra concorrentes, o empresário contra-atacou, contestando abertamente o o poder de Rosa e Silva em entrevistas e artigos de jornal. 

http://lampiaoaceso.blogspot.com

Na madrugada de 2 de janeiro de 1900, o mercado do Derby sofreu um incêndio criminoso, provavelmente provocado pelos adversários de Delmiro. No mesmo dia, o empresário e seu sócio Napoleão Duarte foram presos no Recife para averiguações, por ordem do governador Segismundo Antônio Gonçalves. Jornais situacionistas, notadamente o Jornal do Recife, de propriedade de Segismundo Gonçalves, afirmaram que Delmiro estava à beira da falência e que ele próprio teria ordenado o incêndio para receber um valioso seguro. Advogados e amigos do empresário logo conseguiram sua soltura. Em 5 de janeiro, em carta publicada no jornal A Província, Delmiro responsabilizou o governador Segismundo Gonçalves pelo incêndio do Derby, denunciando-o como “político falido de senso moral e de escrúpulo”.

http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/GOUVEIA,%20Delmiro.pdf

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