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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

DA MEMÓRIA DE POÇO REDONDO:


Abdias, o tão conhecido Abdias de Poço Redondo, morador de fazendas e meio do mato, mas principalmente da Rua dos Vaqueiros ou Rua de Baixo (atual Av. Alcino Alves Costa), onde por muito tempo criou seus filhos com a esposa Cecília, e por ali conviveu ao lado de amigos como Liberato, Messias de Zé Vicente, Tião de Sinhá, Mané Cante, Neguinho, Ulisses, Ireno, Né Cirilo, Galego do Alto, Mané Vito, Chico de Celina e tantos outros. Vaqueiro maior dos sertões poço-redondenses, amigo fiel e cabra de confiança do famoso Zé de Julião, Abdias teve participação fundamental no famoso roubo das urnas nas eleições de 1958. Homem alto, esguio, sempre de chapéu de couro, a humildade em pessoa, amigueiro e bom de proseado. Era também famoso por ser irmão dos ex-cangaceiros Sila, Mergulhão, Novo Tempo e Marinheiro, e também primo dos irmãos ex-cangaceiros Adília e Delicado. Mas também irmão de homens da galhardia de João Paulo do Alto e Humberto Braz. 


Sobre o famoso roubo das urnas, certa vez escrevi: “A eleição de 1958 era a segunda disputada pelo ex-cangaceiro. Na primeira, após enfrentar perseguições políticas pela sua condição de ex-cangaceiro, experimentar contra si a máquina do poder estadual e todos os tipos de reveses, saiu da eleição derrotado por Artur Moreira de Sá. Depois de votos de Zé de Julião serem lançados ao chão e escondidos por cima de botas, o pleito, ardilosa e premeditadamente, foi dado como empata: 134 a 134, mas Artur acabou vencendo pelo critério da idade. E a segunda eleição seria ainda mais terrível para Zé de Julião. Dessa vez, além de as perseguições se redobrarem e as arrumações para a vitória do candidato Eliezer Santana serem ainda mais vergonhosas, os títulos dos eleitores do ex-cangaceiro não foram entregues. Revoltado ao extremo, profundamente indignado com tanta injustiça contra si praticada, e sabendo que já estava derrotado, o candidato da terra resolveu tomar uma atitude extremada, invadir as seções eleitorais e roubar as urnas. E assim fez. No dia do pleito, mais de cem cavaleiros amigos se juntaram nos arredores e entraram em audacioso tropel pelas ruazinhas da cidade. À frente seguia Zé de Julião e seu fiel escudeiro Abdias. Na primeira seção que encontrou, o ultrajado candidato desceu do cavalo e entrou calmamente no local de votação. Não demonstrou qualquer brutalidade nem arrogância com as pessoas do local. Mas ao olhar de lado e avistar a urna de votação numa cadeira, abrasou o semblante e, num acesso de cólera, puxou-a com violência. O passo seguinte foi arremessá-la pela janela. E do outro lado estava Abdias para recebê-la. Em seguida Zé de Julião montou no cavalo e o tropel seguiu em disparada para fazer a catação em outros locais. E essa história continua com cenas realmente cinematográficas, mas absolutamente verdadeiras naqueles idos sertanejos”. A presença de Abdias em tais fatos já demonstra sua importância ímpar na história sertaneja. Dentre seus filhos estão Mazé de Abdias, Zefinha, Soninha, Reginaldo (Preguinho), Regival e Gilaene.

Escritor
Membro da Academia de Letras de Aracaju
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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