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quarta-feira, 19 de abril de 2017

CONTROVÉRSIAS LAMPIÔNICAS I - O ENCONTRO DE LAMPIÃO COM PADRE CÍCERO

Por Geziel Moura

Eu sempre penso o cangaço, como acontecimento histórico, que foi produzido e produziu na/pela cultura do Nordeste, dessa forma, sua historiografia foi/é formatada, a partir de diversos olhares: Escritores, Pesquisadores, Leitores, Jornais, Revistas, Livros, Documentos, Imagens, Filmes, Depoimentos e outros agentes, cada um com sua perspectiva, verdade e juízo de valor.

Entretanto, alguns termos, há muito, deixei de utilizar, tais como: Verdade, Aproximações da Verdade, Fontes Fidedignas e não Fidedignas, pois para afirmar que algo é verdadeiro, fiel e certo, precisamos que nosso referencial esteja acima de qualquer suspeita, e qual deles podem assumir esta condição?

Para ilustrar este pensamento, lembrei do famoso acontecimento, ocorrido em 04 ou 06 de março de 1926 (A discordância começa logo na data do episódio), que foi o encontro, pela primeira e provavelmente a única vez, entre o cangaceiro Lampião e o, então, prefeito e líder religioso de Juazeiro (CE), Padre Cícero Romão Batista.

Nessa direção, duas perguntas simples, reverberam até nossos dias cujas respostas são diversas, dependendo em qual "verdade" se queira adotar. Antes de citá-las vou contextualizar na história, a motivação oficial, para a presença de Lampião e seus cabras em terras do Cariri cearense, mais precisamente em Juazeiro.

O levante militar ocorrido na década de 1920, chamado de "Tenentismo" produziram quatro movimentos de rebelião no seio do exército brasileiro: Revolta do Forte de Copacabana (1922), Revolução de 1924 (O cangaceiro Corisco participou desta"), Comuna de Manaus (1924) e a Coluna Costa - Prestes (1925), sendo nesta o destaque que ora faço.


O principal movimento da Coluna Costa - Preste foi a trajetória que os militares revoltosos fizeram, desde a cidade de Alegrete (RS) atravessando parte do nordeste brasileiro e dissipando-se na Bolívia. Na ocasião do episódio, o então, presidente da república, Arthur Bernardes, se viu numa enrascada, para combater os revoltosos.


Segundo, o escritor Daniel Walker, em sua obra Padre Cícero, Lampião e Coronéis, o ministro do exército General Setembrino de Carvalho, lembrou do sucesso de Padre Cícero e de Floro Bartolomeu da Costa, durante a Sedição do Juazeiro, em 1914, á frente de exército formado por jagunços, romeiros e cangaceiros, e que resultou na queda de Franco Rabelo.

Assim, o governo federal, pediu a Floro Bartolomeu, na época deputado federal, que arregimentasse grupo parecido, ao utilizado na Sedição, e receberia o nome de Batalhão Patriótico, cuja função seria combater os revoltosos, quando estes passassem, na região.


Em sua obra, "Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão" Lira Neto diz que no dia 09 de Janeiro de 1926, a tropa paramilitar, do Batalhão Patriótico estava formado com cerca de mil voluntários, todos uniformizados, armados e municiados com o que se tinha de melhor na época, isto é, fuzis Mauser modelo 1908. Floro Bartolomeu foi promovido a General de Brigada do Exército, e o comando da tropa foi entregue ao coronel Pedro Silvino de Alencar, que estivera com ele no tempo da Sedição.


Ora construído um razoável panorama histórico, da formação do Batalhão Patriótico em Juazeiro, emergem duas perguntas: Quem convidou Lampião e seu bando para compor, tal grupo paramilitar? Quem chancelou a patente de capitão a Virgolino? Vamos à literatura.


Para Lira Neto, o convite partiu de Floro Bartolomeu e chancelado por Cícero, por meio de bilhete, em que prometia, dinheiro, patente e anistia de seus crimes. Inclusive o comunicado foi testemunhado pelo Coronel Né da Carnaúba, coiteiro famoso de Lampião em Pernambuco. Este entendimento é confirmado por Frederico Pernambucano no livro Benjamin Abrahão ; Entre anjos e cangaceiros.


Segundo, o escritor Daniel Walker a vinda de Lampião a Juazeiro foi "acidental", somente Floro Bartolomeu sabia, portanto, Padre Cícero era inocente.

Otávio Aires, em sua obra O Joaseiro antigo, afirma que a história que Padre Cícero chamou Lampião é deturpada.

O jornalista Pedro Coutinho na obra Padre Cícero, pessoas, fotos e fatos de Walter Barbosa, declara que Floro Bartolomeu utilizou o nome de Padre Cícero, ao fazer o convite a Lampião. Temos, portanto, pelo menos cinco versões sobre a primeira pergunta.

Vamos a segunda pergunta: Afinal quem outorgou a patente de capitão a Lampião?


Lira Neto diz, que Lampião cobrou de Cícero o prometido, dinheiro, armas e patente e que não sairia de Juazeiro antes disto. Assim, o padre arquitetou um embuste, mandou chamar, o único funcionário público federal, que trabalhava como inspetor agrícola em Juazeiro, o agrônomo Pedro de Albuquerque Uchôa, e pediu que este, lavrasse o documento da patente de capitão do Batalhão Patriótico, a Lampião, e assim foi feito. Nesta mesma pisada, concorda Frederico Pernambucano de Mello.


Sobre a patente de capitão, a escritora Fátima Menezes diz que Cícero estranhou o pedido, e de que nada sabia sobre a promessa da patente, e que o embuste foi organizado por Benjamin Abrahão, e ratificado por Pedro Uchôa.

Ainda, segundo Senhorzinho Ribeiro, em seu livro, Juazeiro em corpo e alma, e que esteve no momento da visita de Lampião, declara que a patente foi assinada apenas por Pedro Albuquerque Uchôa, logo, nem padre Cícero nem Floro Bartolomeu, pode ser responsabilizado pela autorização desta.


Finalmente, fica o dito pelo não dito, sobre Lampião e Padre Cícero as verdades estão lançadas, cada um se apropriem da forma que melhor lhe aprouver.

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