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sábado, 4 de novembro de 2017

ANTONIO SILVINO.

Por Medeiros Braga

"Antonio Silvino falava
Como a defender os filhos,
E um dia a engenheiros
Mostrou alguns empecilhos:
Se não pagar por seus usos
Vou quebrar seus parafusos
Vou arrancar os seus trilhos.

Esteve com o coronel
De nome Francisco Sá
Disse a ele o que pensava
E chegou mesmo a cobrar
Dos ingleses tão cruéis
Uns trinta contos de réis
Para poder transitar.

Disse mais ao coronel
Que trilhos arrancaria
Se não fosse pago a conta
Desses contos que exigia,
O coronel vendo exposta
Garantiu que a proposta
Aos ingleses levaria."
************************* 
Este é o 2º Cordel que componho nos últimos 30 dias, sendo "A Guerra dos Bodopitás" e Antonio Silvino com 96 estrofes. Eis, algumas. Espero que gostem.

ANTONIO SILVINO
Agitavam-se as matas
Existentes no sertão
Com o vento, a chuva, raios,
E relâmpagos e trovão.
Corre a onça para toca,
Os coelhos vão à loca,
Voa à mata o gavião.

Com a vinda da justiça
Que tantos erros causou
Surgiu, preciso, o cangaço
Que bom tempo perdurou.
Voltava a ser agitada
Toda mata, a passarada
Que de tiro se assustou.

Por falhas judiciárias,
Nas quebradas do sertão
Passavam bandos fazendo
Justiça com a própria mão,
Como então fez Jesuíno,
Logo mais Antonio Silvino
E bem depois, Lampião.

Não poderia esquecer
Do crime macabro, horrendo,
Contra o senhor João Pereira
Com a justiça cedendo;
Com seu filho “Chico”, então,
Que jurou “Vingança, Não!”
Ao seu pai ali morrendo.

Até o ataque de Souza
Nasceu de uma injustiça.
Um camponês foi surrado
E vendo a justiça omissa
Recorreu a Lampião
Que cedeu à invasão
Aos irmãos nessa premissa.

Também nesse bando havia,
Rancoroso, um cangaceiro,
Que foi preso, injustamente,
Como sendo um bandoleiro;
Nessa moeda de horror
O juiz e o surrador
Não pagaram barateiro.

O valente surrador
Fugiu para bem distante,
E o pobre do juiz
No seu cargo confiante
Muita humilhação sofreu
Bem como quase morreu
Em momento agonizante.

Não fora Chico Pereira
Que bem na hora surgia
Suspendendo aquele ato
De morte que se daria...
Atrasasse ele um segundo,
Jamais o juiz ao mundo
Essa história contaria.

Foi assim, pois, a justiça
Responsável pelos atos
De violência, estímulo
A muitos assassinatos;
Por conta das omissões
Forçaram insurreições
A muitos homens pacatos.

De Virgulino eu já disse
Bem coberto de razão:
Se ao criminoso do pai
Fosse imposta a punição
Repito no bom sentido:
Jamais teria existido
Esse tal de Lampião.

Assim foi imposto o mesmo
Peso a Antonio Silvino,
Um pequeno agricultor
Que queria por destino
Ter uma casa e mobília,
Uma modesta família
Mulher, menina e menino.
******************** 
******************** 
CONCLUSÃO
****************** 
O alferes bem armado
Inquiriu um cidadão,
Sob o pavor da tortura
Arrancou a confissão,
O informante, sem tino,
Disse que Antonio Silvino
Se achava em diversão.

Ele jogava baralho
Quando a volante cercou
Era já cinco da tarde
E a luta ali começou,
Com uma hora de pino
O audaz Antonio Silvino
Um soldado o alvejou.

Mas pôde romper o cerco
Com um tiro no pulmão,
Chegou em Manoel Clemente
Mas, mesmo com proteção
Pedia para avisar
À Polícia Militar
Que se rendia à prisão.

Foi levado Antonio Silvino
Para a cadeia local,
Recebeu o tratamento
Da área medicinal,
Dois dias após, então,
Tendo já a condição
Foi levado à capital.

Primeiro a Caruaru
Em uma rede estirado,
Mais de 40 quilômetros
Sem carro foi carregado,
Dali, daquela Estação,
Na Casa de Detenção
Foi, em recife, internado.

Vinte e sete de agosto
Foi a data da prisão,
Com três dias chegaria
Na Casa de Detenção...
Chegava ao fim um reinado
Que em um trio de Estado
Se estendeu pelo sertão.

No presídio por Recife
Era sempre visitado,
Excluindo jornalista
Havia muito afamado:
Zé Américo, sem segredo,
Também, José Lins do Rego
Com marcas do seu passado.

Nos tribunais condenado
Pelo poder dominante
Foi mais de duzentos anos
Uma pena extravagante,
Mas estava consciente
Do julgamento excrescente
E o que teria adiante.

Além desses personagens
Que ele sempre recebia
Fez ali ele amizade
Que lhe passava alegria:
O comunista Gregório
Bezerra, com repertório
Que muito satisfazia.

Tinha já vinte e três anos
De prisão... confinamento,
Mas devido a avaliação
Por seu bom comportamento
Solicitou seu indulto
E Getúlio pôs-se culto
Por seu favorecimento.

Assim, em mil novecentos
E trinta e sete, a saber,
Antonio Silvino livre
Pôde as ruas percorrer,
Sessenta e dois anos tinha
E planejando já vinha
Em muitos outros viver.

Ao deixar esse presídio
Entre saudade e alegria,
Pelo seu trabalho tinha
Uma certa economia,
Ali dentro onde ficou
Ele sempre trabalhou
O couro, a bijuteria.

Depois de andar bastante 
E de rever seus amigos
Foi para Campina Grande
Onde esteve em dois abrigos,
Um da sua irmã amada,
Após “A Última Morada”
Um dos hotéis mais antigos.

Morreu em quarenta e quatro
Aos sessenta e nove anos,
Viveu nos tempos difíceis,
Enfrentou muitos tiranos.
Sem justiça e sem razão
Teve com a própria mão
Que fazer valer seus planos.

Antonio Silvino é outro
Que deve ser estudado,
Discutir razões e causas
Pelas quais foi transformado.
A verdade não me enguiça:
Foi a injusta justiça
Quem criou todo esses estado.




Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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