Por Verluce Ferraz
Um substituto
falso na memória do cangaceiro Lampião sempre foi largamente difundido entre os
pesquisadores do Cangaço como se fosse a maior verdade: a justificativa dada
por Virgolino Ferreira da Silva que afirmava haver entrado para o cangaço para
vingar a morte de seus genitores. Entretanto, a importância principal da afirmativa
não poderia ser aceita sem antes passar pelo crivo e embasamento das ciências,
como de fato foi feito, mas sem qualquer resposta convincente, do Instituto
Nina Rodrigues, em Salvador, Bahia, quando feitos estudos nos crânios dos
cangaceiros. É que, a época, acreditava-se que o tamanho, o formato, o peso de
um crânio pudessem ser elementos de indícios que levariam uma pessoa ao mundo
do crime.
Os crimes sempre foram alvo de diversas pesquisas, desde Platão, Aristóteles, Montesquieu, Russeau, chegando à Escola Italiana, dos cientistas e médicos Lombroso, Ferri, Garófalo, etc. cada um apresentando sua teoria. Nessa época ainda não se estudavam o caráter subjetivo como fez Jean Martin de Charcot, professor de Sigmund Freud. Esse último desenvolveu o método arqueológico para estudar as mentes humanas que resultou na Teoria de Complexo de Édipo, consagrando-o como Pai da Psicanálise. E é com base nesse método que fui procurar as origens dos cometimentos de tantos crimes em Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Freud considerou de grande importância verificar os conteúdos da mente de uma pessoa como declarou Signorelli, que falou das lembranças substitutivas (relatado na obra de Freud).
Virgulino Ferreira da Silva nasceu na casa de sua avó materna e foi criado
pela mesma. Jacosa Vieira do Nascimento, uma parteira. Imaginemos o trauma que
Virgulino não sofreu presenciado os momentos em que sua avó/mãe era convocada a
fazer partos? A magnífica tarefa de receber no mundo uma criança pode não ter
sido interpretada dessa forma. Um belo trabalho o de sua avó, mas uma tarefa
árdua e muitas vezes deprimente; por que não era raro uma mulher, ao parir,
sofrer um ataque de eclampsia chegando à morte. Entre gemidos, sangue e uma
criança chorando. Outras vezes, as superstições e crendices não eram incomuns.
Se precedesse a um parto um cantar de coruja rasga-mortalha, normalmente
haveria um enterro. Muitas mães saiam dentro de redes para serem sepultadas.
Crianças abortadas e enterradas no quintal. Cheiro de sangue e peças de roupas
queimadas, quando uma criança, ao nascer, não resistiam aos traumas de um parto
difícil e eram acometidas de ataques epilépticos. Não haviam os barbitúricos e
as penicilinas eram raras. E aquela que era o seu ’porto seguro’, a sua avó/mãe
Jacosa lá estava envolvida com tudo isso saindo, muitas vezes, de um quarto,
sem cama e sem portas, com as mãos cheias de sangue e uma expressão de
dor.
Ponho agora tudo isso para relacionar os mistérios da mente de Virgulino
Ferreira da Silva; com a certeza que vem daí o horror vivido pela criança para
o transformar em criminoso e cangaceiro. O matar sangrando,o uso de rezas sob
as vestes, o manter-se afastado das mulheres com a justificativa que elas
traziam azar, o associar do choro das crianças ao berrar dos cabritos, o gosto
pelos perfumes para libertar-se da lembranças olfativas do sangue de uma
parturiente; Virgulino absorveu na infância muita coisa que não conseguia
resolver sozinho e isso lhe causou sérios traumas. Mesmo quando não presenciava
um momento de um parto, por que não é necessário assistir presencialmente; mas
havia a percepção e interpretação de tudo pela criança. Assim, ao tornar-se
adulto, vai ocorrer o seu distanciamento das mulheres e a indecisão: ser mulher
não é bom e traz azar - a minha mãe/avó é mulher... Também qui não posso deixar
de colocar aqui que a figura feminina lhe traziam recordações ruins, de dor e
morte.
Momentos de angústia deve ter passado o menino Virgulino, sem saber discernir entre um trabalho de trazer à luz uma vida; noutros sair um enterro de uma pessoa cara...
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