Por Rangel Alves da Costa
Tanto avexame
que num sei não, viu! Um trabaio da molesta, um vem pra cá e vai pra lá que
deixa o cristão doidim, mai tudo agora na paz de Deus. Adespois da ferroada o
mé, cuma já dizia cumpade Virgulino. Aina farta arguma coisa, é verdade,
mai nada que faça cumê o juízo. Tudo foi cosido, costurado, arremendado e
alivanhado dum jeito, que agora mai parece um nó que num desatravanca mais.
Tudim em riba, graça a Deus, Ou, cuma dizia Zabelê, só farta botá na mesa.
E espaiá. Botá
na mesa e espaiá pra riba e pra baixo desse Poço Redondo a festança maior do
mundo. Coisa boa, cumpade. Nunca se viu nada iguá nas quadrança. Gente de num
acabar mais. Do Ceará a Paraíba, do Rio Grande do Norte a Pernambuco, das
Alagoas a Bahia, do Maranhão ao Piauí, tudim de gente que vem praqui.
Quem se
alembrar dos preá por todo lugar, saino dos mato e invadino a cidade, saino das
loca e pegano caminho, bem assim vai ser o meio mundo de gente tomano Poço
Redondo intero. Tem um tar de Mané Severo que dixe chegar trazeno mai que o bando
de Lampião, só junto dele, afora os outo que pra cá vai se bandear.
Verdade ou
não, meu cumpade Belarmino, mai vi dizer que vai ser mai gente em quatro dia
que no resto todim do ano. Gente das leitura, das escrita, das sabedoria e dos
ané. Mai tomem gente simple cuma a gente mermo, que vem só pelo gosto de
conhecer o que esse sertão tem pra mostrar. E cuma tem cumpade, e cuma tem!
Lá nos asfarto
num tem Maranduba não, munto meno tanta histora cuma tem a Estrada do Curralim.
Quem do lá longe tem um pessoa que nem Arcino? Eita cabra sabido era Arcino. Um
homi quase sem estudo mai que ensinou o sertão ao mundo todim. Histora do
cangaço, das botija, das coisa veia, tudim ele tanto contava cuma escrevia. E
sem falar no chorado da viola caipira que ele tanto gostava. Arcino, Arcino,
quanta farta vosmicê faz a esse sertão Arcino!
Faiz bem o
povo todo chegar aqui e pisar no chão que sua havaiana pisou e sentir de perto
o que vosmicê tanto amou como um fio. Faiz munto bem esse povão todim beber da
cacimba da gente e adespois querer vortá pra matar mais a sede. Faiz munto bem
esse povo todim cunhecê cuma nóis é e o que nóis tem pá adespois saber contar
direito a nossa histora.
Cuma diz o
cumpade Volta Grande, cabra aina hoje metido a cangacero e que diz trazer no
sangue um bando intero, nada mió do que avistar, merma sem vê, aina a
cangacerama, Lampião de valentia sem iguar e aquele povo cherando a suor e
prefume. Muntos deles daqui mermo, daqui do Poço Redondo. Quem num se lembra de
Adília, de Sila, de Cajazeira, de Enedina, de Zabelê e tantos outo?
Povo que tomem
vem sentir o sol do sertão. Pru todo lugar o clarão dum mundo de tanta luta e
tanto e sofrimento, mai tomem de valentia sem iguar pra vencer os tempo ruim. E
adespois aina sorrí orguioso de ser sertanejo. Eu tomem sô, e munto. Nada iguar
a essa terra que chameja no coração o fogo bom do renascimento.
Entonce é só
espera. E é já já. A festança já tá em riba e aqui só quero arrecordá um
escrito que um fio de Arcino escreveu, que ouvi dos outo e munto gostei. Mai
mudei um tiquim e nos meu veuso ficou ansim:
“Meu sertão
está em festa, só diz que é ruim quem num presta, apois vai ter Cariri Cangaço
que na histora tem seu laço, que traiz home de valor, estudioso e dotô, pra
conhecer o sertão que Arcino tinha no coração. Vai ter palestra da boa, vai ter
cantoria e loa, vai ter pife e xaxado, vai ter munto lugar visitado. Abra logo
a cancela, a porta e a janela, chame o povo pá entrar cuma se fosse do lugar. E
pode gritar e dizer que o que vai acontecer ninguém vai mai esquecer”.
Rangel Alves
da Costa, Escritor e Pesquisador
Conselheiro
Cariri Cangaço
Poço Redondo,
05 de junho de 2018
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