Por Valdir
José Nogueira - pesquisador/escritor
Daqui
partiu em maio de 1838 Simplício Pereira para se juntar a seus irmãos Manoel,
Alexandre e Cipriano e destruir o arraial sebastianista do Reino Encantado.
Ao sopé da Serra do Reino, no meio da caatinga, na zona rural, paralela a
estrada velha do Carmo adormece um pedaço da história de São José do Belmonte.
Entre marmeleiros e canafístulas frondosas ergue-se um paredão e o esqueleto de
pedra de uma casa. Estima-se que a famosa Casa de Pedra, bastante referenciada
em documentos antigos, tenha sido construída no ocaso do século XVIII.
Pertenceu ao Coronel Simplício Pereira da Silva. Foi ele quem deixou a
propriedade de herança para sua neta Antônia Pereira da Silva (falecida a
17/05/1907 aos 53 anos de idade), casada com o coronel José Sebastião Pereira
da Silva (Cazuzinha da Cachoeira), 1º Prefeito de São José do Belmonte e
segundo dono da fazenda. Sede patriarcal, construção em alvenaria de pedra e
barro, essa casa foi edificada por escravos e vaqueiros. Fazenda sede das mais
antigas da região, localizada no latifúndio da Fazenda Coroas, e uma das 7
fazendas que originou o município de São José do Belmonte, a fazenda Cachoeira
no princípio, foi propriedade dos Viscondes da Casa da Torre de Garcia D’Ávila
da Bahia, e onde também se fixou um dos principais núcleos da família Pereira
do Sertão do Pajeú.
A
Casa de Pedra da Fazenda Cachoeira por várias vezes acolheu Sinhô Pereira e
Luiz Padre durante as suas incursões pelo cangaço. Em volta dela, contam-se que
tempos depois foram desenterradas várias botijas.
Grande vulto da história sertaneja, Simplício Pereira da Silva nasceu em 1784 e
faleceu na fazenda Cachoeira a 10 de janeiro de 1859, este senhor tornou-se uma
lenda em sua época, os seus feitos são extensos, participou ativamente no
sertão de várias convulsões políticas que se sucederam após a abdicação de D.
Pedro I, tendo recebido a aprovação a tenente-coronel da "Guarda
Nacional" no dia 19 de novembro de 1842, quando prendeu os implicados na
"Revolta de Exu" que denominamos de "Pré-Praieira".
Do
local onde existiu a Casa de Pedra da Cachoeira, tem-se uma espetacular visão
da Serra do Reino, onde se ergue majestosa a lendária Pedra do Reino, hoje
símbolo do município de São José do Belmonte.
Ao contrário do que se pode imaginar, a vida na fazenda Cachoeira em tempos
idos estava longe de ser tranqüila, principalmente nos períodos de seca.
Algumas tribos indígenas da nação Cariri, que viviam na região da Serra do
Catolé, julgando de sua propriedade tudo que a terra produzisse ou sobre ela
vivesse, atacaram inúmeras vezes a fazenda Cachoeira, matando vaqueiros, gados,
escravos e até incendiando-a. Durante décadas foram travadas diversas guerras
pela região, em que os indígenas, incapazes de fazerem frente ao poderio bélico
dos fazendeiros, eram severamente perseguidos.
Onde
hoje é um curral, no passado era o velho cemitério da Fazenda Cachoeira. Nesse
local foram sepultados muitos escravos.
Até ser devorada pela ação do tempo, os últimos moradores da Casa de Pedra foram os filhos do coronel Cazuzinha da Cachoeira: Sebastião (Baiãozinho), solteiro; Simplício, solteiro; Generosa (Sinhazinha), solteira; Arcôncio, casado com Januária filha de Lúcio Pereira e Francisca Pereira, e Antônio (Toinho da Cachoeira), solteiro, morto no dia 22 de outubro de 1922, durante o assalto à casa do coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz .
Machado de Assis deu o nome de Relíquias da Casa Velha a um livro de contos,
mas bom seria que tivesse escrito um belo conto com esse nome, pois as casas
velhas, e até as ruínas de uma casa velha como as ruínas da Casa de Pedra da
Fazenda Cachoeira guardam histórias, lembranças, segredos, tristezas, alegrias
e às vezes tragédias.
No passado, a Fazenda Cachoeira foi marcada por histórias de gerações da
família Pereira, fundamental para a memória de São José do Belmonte.
Valdir José Nogueira de Moura
Valdir José Nogueira de Moura
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