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quinta-feira, 23 de agosto de 2018

SARGENTO DELUZ

Por Francisco Carlos Jorge de Oliveira

Alguém já ouviu falar no terrível Sargento Deluz? Sim! É esse mesmo, aquele que assassinou cruelmente queimado em uma fogueira, o ex-cangaceiro Juriti Manoel Pereira de Azevedo do Saldo do Melão BA. Contam os mais antigos retirantes nordestinos que na cidade Sergipana de Canindé Velho de Baixo, que tangenciava o Rio São Francisco; que o destacamento policial daquela urbe, era comandado pelo militar graduado Amâncio Ferreira da Silva, um pernambucano extremamente cruel e perverso conhecido como Sargento Deluz. Por ser um homem arrochado e de personalidade forte, ficou famoso por suas ações violentas e agressivas, seu nome era conhecido, temido e comentado por todos os ribeirinhos ao longo do Velho Chico. Deluz não tinha um convívio harmonioso com sua família, familiares e parentes, era uma pessoa fechada, bronco e de pouca prosa, pois nunca esboçava nenhum traço de alegria em seu semblante, sempre mostrava uma face execrável e medonha tais as carrancas das embarcações que navegavam pelo rio. Todos comentavam na cidade que o tal miliciano tinha parte com o Cão, e que nenhum metal de armas brancas ou chumbo das balas de armas de fogo não penetravam em seu couro, pois o seu corpo fora fechado por um velho místico, um beato curandeiro por nome de Santo Pai do Filho, cujos comentários este senhor morava só, na companhia de um cão, em um ranchinho simples à margem do Rio Curituba, e vivia de doações fornecidas pelos seus trabalhos realizados aos caboclos e outros sertanejos. 


Há relatos também de que foi necessário um trabalho bem feito para conseguirem quebrar o encanto e desfazer o feitiço para deixar o corpo do sargento Deluz vulnerável novamente, e assim contam que para isso foi consultado outro curandeiro, um preto velho e coxo, baiano lá das bandas de Cruz das Amas, o qual indicou um estranho ritual, uma verdadeira heresia, isto é; uma infâmia, uma ação anticristã que a princípio não foi aceita pelo próprio inquisidor da empreitada criminosa, mas como não tinha outra saída; o jeito foi aceitar a blasfêmia e cometer o tal pecado. Segundo ao feiticeiro, o atirador teria que “benzer uma bala” ah! Mas como fazer isso? Qual padre, vigário ou sacerdote teria a coragem de violar um preceito religioso e cometer tal pecado para tirar a vida de um ser humano? Isto seria um ato impossível de ser realizado. Mas isto é fácil disse o ancião místico, espere alguém lhe convidar ou se ofereça para ser padrinho de batismo de uma criança, e no dia do batizado leve no bolso a bala da arma que vai será usada no crime, e assim bem na hora da cerimônia quando o vigário for jogar a água com sal na cabeça do bebe, pegue a bala e sem ninguém a ver, segure-a debaixo das costas da criança, e assim quando terminar o batizado, a criança continuará sendo pagã e em seu lugar a “bala” estará batizada e pronta para ser usada para o qual foi predestinada. Olhando para o preto velho o homem perguntou: Mas é a situação da criança, como resolver? O místico deu uma baforada no cachimbo e respondeu: Quando a vitima da bala der o ultimo suspiro, a criança voltará a ser batizada novamente. E assim foi feito, o atirador usou um rifle do tipo Winchester “papo amarelo” no calibre 44 wc, e ainda relatam que o Sargento Deluz vinha tranquilo pitando um cigarro de palha em cima de seu cavalo cavalgando por uma vereda, ou melhor; um atalho por dentro da caatinga que encurtava o trajeto, quando na tocaia o seu algoz disparou o tiro certeiro e fatal, no qual o projétil benzido lhe atravessou o corpo, quebrando o feitiço e abrindo caminho para os demais disparos no qual todos que atingiram o seu corpo, transpassaram o infeliz miliciano que já tombou sem vida, e nem teve tempo de conhecer o rosto de seus assassinos. E assim morre o sargento Deluz, hoje as ruínas de uma pequena ermida entre mandacarus, xiquexiques, juremas e quipás é núncia naquele sertão, de mais um crime que se deve a terra.

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