Por Francisco
Carlos Jorge de Oliveira
Alguém já
ouviu falar no terrível Sargento Deluz? Sim! É esse mesmo, aquele que
assassinou cruelmente queimado em uma fogueira, o ex-cangaceiro Juriti Manoel
Pereira de Azevedo do Saldo do Melão BA. Contam os mais antigos retirantes
nordestinos que na cidade Sergipana de Canindé Velho de Baixo, que tangenciava
o Rio São Francisco; que o destacamento policial daquela urbe, era comandado
pelo militar graduado Amâncio Ferreira da Silva, um pernambucano extremamente
cruel e perverso conhecido como Sargento Deluz. Por ser um homem arrochado e de
personalidade forte, ficou famoso por suas ações violentas e agressivas, seu
nome era conhecido, temido e comentado por todos os ribeirinhos ao longo do
Velho Chico. Deluz não tinha um convívio harmonioso com sua família, familiares
e parentes, era uma pessoa fechada, bronco e de pouca prosa, pois nunca
esboçava nenhum traço de alegria em seu semblante, sempre mostrava uma face
execrável e medonha tais as carrancas das embarcações que navegavam pelo rio.
Todos comentavam na cidade que o tal miliciano tinha parte com o Cão, e que
nenhum metal de armas brancas ou chumbo das balas de armas de fogo não
penetravam em seu couro, pois o seu corpo fora fechado por um velho místico, um
beato curandeiro por nome de Santo Pai do Filho, cujos comentários este senhor
morava só, na companhia de um cão, em um ranchinho simples à margem do Rio
Curituba, e vivia de doações fornecidas pelos seus trabalhos realizados aos
caboclos e outros sertanejos.
Há relatos também de que foi necessário um trabalho bem feito para conseguirem
quebrar o encanto e desfazer o feitiço para deixar o corpo do sargento Deluz
vulnerável novamente, e assim contam que para isso foi consultado outro
curandeiro, um preto velho e coxo, baiano lá das bandas de Cruz das Amas, o
qual indicou um estranho ritual, uma verdadeira heresia, isto é; uma infâmia,
uma ação anticristã que a princípio não foi aceita pelo próprio inquisidor da
empreitada criminosa, mas como não tinha outra saída; o jeito foi aceitar a
blasfêmia e cometer o tal pecado. Segundo ao feiticeiro, o atirador teria que
“benzer uma bala” ah! Mas como fazer isso? Qual padre, vigário ou sacerdote
teria a coragem de violar um preceito religioso e cometer tal pecado para tirar
a vida de um ser humano? Isto seria um ato impossível de ser realizado. Mas
isto é fácil disse o ancião místico, espere alguém lhe convidar ou se ofereça
para ser padrinho de batismo de uma criança, e no dia do batizado leve no bolso
a bala da arma que vai será usada no crime, e assim bem na hora da cerimônia
quando o vigário for jogar a água com sal na cabeça do bebe, pegue a bala e sem
ninguém a ver, segure-a debaixo das costas da criança, e assim quando terminar
o batizado, a criança continuará sendo pagã e em seu lugar a “bala” estará
batizada e pronta para ser usada para o qual foi predestinada. Olhando para o
preto velho o homem perguntou: Mas é a situação da criança, como resolver? O
místico deu uma baforada no cachimbo e respondeu: Quando a vitima da bala der o
ultimo suspiro, a criança voltará a ser batizada novamente. E assim foi feito,
o atirador usou um rifle do tipo Winchester “papo amarelo” no calibre 44 wc, e
ainda relatam que o Sargento Deluz vinha tranquilo pitando um cigarro de palha
em cima de seu cavalo cavalgando por uma vereda, ou melhor; um atalho por
dentro da caatinga que encurtava o trajeto, quando na tocaia o seu algoz
disparou o tiro certeiro e fatal, no qual o projétil benzido lhe atravessou o
corpo, quebrando o feitiço e abrindo caminho para os demais disparos no qual todos
que atingiram o seu corpo, transpassaram o infeliz miliciano que já tombou sem
vida, e nem teve tempo de conhecer o rosto de seus assassinos. E assim morre o
sargento Deluz, hoje as ruínas de uma pequena ermida entre mandacarus,
xiquexiques, juremas e quipás é núncia naquele sertão, de mais um crime que se
deve a terra.
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