Material do acervo do Edvaldo Morais escrito por Potiguar Notícias
Demorei para
escrever sobre este encontro porque queria encontrar tanto o enfoque certo para
o texto como o jornal com a entrevista, tipo "a prova do crime", que
é essa que ilustra este texto.
Em dezembro de 1992 eu, mal saído da adolescência, dava meus primeiros passos no jornalismo na brava Gazeta do Oeste, me tornando um dos "meninos de Canindé Queiroz", como os jornalistas de lá eram conhecidos. Trabalhava na editoria de Cidades, fazendo matérias diárias sobre postes com lâmpadas queimadas e acúmulos de lixo em terrenos baldios. E dava meus pulos na parte de Cultura, onde era uma espécie de editor informal.
E eis na quinta-feira 17 de dezembro daquele ano, o editor-chefe César Santos (hoje comandante-em-chefe do Jornal de Fato) me chama à sala dele e comunica minha missão naquela tarde: entrevistar o cantor e compositor Belchior, que estaria na cidade para o show do dia seguinte. Sem me valer de Google, celular, nada disso, tudo inexistente na época, tive de me valer da memória para lembrar as músicas do homem e algo sobre a vida dele, e lá fomos eu, o precocemente falecido fotógrafo Raimundo Nunes e o motorista Chagas para o Hotel Ouro Negro, quase na entrada da cidade,à época um dos melhores de Mossoró.
Após espera de meia hora, desce para a recepção aquele homem de expressão simpática e bonachona, magro, com um sorriso no canto da boca. Se estava cansado da viagem e do ritmo de shows não parecia. Apresentamo-nos todos e fomos para a área externa do hotel, onde liguei o gravador. Fiz as perguntas que pude e ele não apenas as respondeu com calma e detalhadamente como proporcionou "ganchos" para que eu fizesse tantas outras, construindo uma entrevista rica, de respostas longas e elaboradas, nada das respostas rápidas para satisfazer a imprensa e subir para o quarto, como já me aconteceu outras vezes.
Desligado o gravador, para as fotos de Raimundo Nunes ele sacou do cachimbo e começou a fumar, quase ritualmente. Como eu havia citado literatura sul-americana durante a entrevista, ele perguntou o que eu estava lendo "era "Sobre amor e tumbas", de Sábato), me indicou livros, recomendou que eu lesse Borges (o que fiz) e falou por alto dos filmes que gostava. Antes de nos despedirmos ele perguntou quando saía a reportagem e se eu poderia mandar um exemplar do jornal para ele. Respondi que sim, claro, e ele me anotou um endereço em São Paulo, bairro Pinheiros, não sabia se dele, parente ou gravadora. "Você vai mandar mesmo o jornal? Jornalista sempre diz que manda e não o faz", sorriu. Prometi que o faria. No dia seguinte assisti o show dele, no finado Cine Teatro Cid. Show sensacional, como haveria de ser. E na segunda 21, coloquei no correio dois exemplares da Gazeta do Oeste com a página inteira de entrevista com Belchior.
Em dezembro de 1992 eu, mal saído da adolescência, dava meus primeiros passos no jornalismo na brava Gazeta do Oeste, me tornando um dos "meninos de Canindé Queiroz", como os jornalistas de lá eram conhecidos. Trabalhava na editoria de Cidades, fazendo matérias diárias sobre postes com lâmpadas queimadas e acúmulos de lixo em terrenos baldios. E dava meus pulos na parte de Cultura, onde era uma espécie de editor informal.
E eis na quinta-feira 17 de dezembro daquele ano, o editor-chefe César Santos (hoje comandante-em-chefe do Jornal de Fato) me chama à sala dele e comunica minha missão naquela tarde: entrevistar o cantor e compositor Belchior, que estaria na cidade para o show do dia seguinte. Sem me valer de Google, celular, nada disso, tudo inexistente na época, tive de me valer da memória para lembrar as músicas do homem e algo sobre a vida dele, e lá fomos eu, o precocemente falecido fotógrafo Raimundo Nunes e o motorista Chagas para o Hotel Ouro Negro, quase na entrada da cidade,à época um dos melhores de Mossoró.
Após espera de meia hora, desce para a recepção aquele homem de expressão simpática e bonachona, magro, com um sorriso no canto da boca. Se estava cansado da viagem e do ritmo de shows não parecia. Apresentamo-nos todos e fomos para a área externa do hotel, onde liguei o gravador. Fiz as perguntas que pude e ele não apenas as respondeu com calma e detalhadamente como proporcionou "ganchos" para que eu fizesse tantas outras, construindo uma entrevista rica, de respostas longas e elaboradas, nada das respostas rápidas para satisfazer a imprensa e subir para o quarto, como já me aconteceu outras vezes.
Desligado o gravador, para as fotos de Raimundo Nunes ele sacou do cachimbo e começou a fumar, quase ritualmente. Como eu havia citado literatura sul-americana durante a entrevista, ele perguntou o que eu estava lendo "era "Sobre amor e tumbas", de Sábato), me indicou livros, recomendou que eu lesse Borges (o que fiz) e falou por alto dos filmes que gostava. Antes de nos despedirmos ele perguntou quando saía a reportagem e se eu poderia mandar um exemplar do jornal para ele. Respondi que sim, claro, e ele me anotou um endereço em São Paulo, bairro Pinheiros, não sabia se dele, parente ou gravadora. "Você vai mandar mesmo o jornal? Jornalista sempre diz que manda e não o faz", sorriu. Prometi que o faria. No dia seguinte assisti o show dele, no finado Cine Teatro Cid. Show sensacional, como haveria de ser. E na segunda 21, coloquei no correio dois exemplares da Gazeta do Oeste com a página inteira de entrevista com Belchior.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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