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quarta-feira, 25 de março de 2020

OS MISTÉRIOS DE LAMPIÃO


Por Antônio Neto

A vida de Virgolino, vulgo Lampião, sempre foi misteriosa, desde a sua data de nascimento, de seu sobrenome, da alcunha Lampião e de sua morte em 1938, na localidade de Angico no município sergipano de Poço Redondo.

No Brasil, antes do Regulamento nº 18.542, de 24.12.1928, não havia exigência legal de complementos para a palavra que designava a pessoa, tampouco obrigatoriedade do nome completo e por extenso, isto é, de nome e sobrenome. Bastava registrar em um Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais o nome individual, tal como, José, Pedro, Virgolino ou Antônio. Desse modo estava tudo certo, desde que constasse no assento de nascimento o nome completo dos pais, dos avós maternos, paternos e das testemunhas.



O escritor Ranulfo Prata em sua obra “Lampião documentário”, publicada em 1934, registrou na página 22 que Virgolino havia nascido em 12 de fevereiro de 1900. Optato Gueiros em seu livro “Lampião Memórias de um Oficial Ex-comandante de Forças Volantes”, 3ª edição, página 19, confirma essa data. Se bem que, no livro do registro civil de Virgolino, consta que o mesmo foi registrado civilmente, em 12 de agosto de 1900, apenas com o nome individual, ou seja, sem o sobrenome, tendo nascido em 7 de julho de 1897, exatamente como está escrito no assento civil do nascimento de Virgolino grafado no livro nº 2, folhas 8 e 9, do registro de nascimento do Cartório Civil de Tauapiranga, na época 3º distrito de Vila Bela, hoje Serra Talhada no estado de Pernambuco.

O Padre Frederico Bezerra Maciel ao escrever a biografia do Rei do Cangaço, intitulada “Lampião Seu Tempo e Seu Reinado”, 3ª ed. Pág.79, registrou que o mesmo teria nascido em 4 de junho de 1898, portanto condizente com o assento de batismo da Paróquia Bom Jesus dos Aflitos na freguesia de Floresta no sertão pernambucano, tal qual se encontra escrito no livro nº 13 – Batizados de 1895 a 1900, pág. 146, sequencial de registro nº 463, ficando evidente que a data em questão corresponde ao dia, mês e ano da natividade de Virgolino, uma vez que, o mencionado registro de batismo foi efetivado de modo cronológico e sequencial, à medida que se processavam os batizados, não havendo, sequer, a mínima possibilidade de erros ou enganos. Por tanto, o menino Virgolino foi de fato batizado em 3 de setembro de 1898, simplesmente três meses após o seu nascimento. O ato batismal ocorreu em presença de seus pais José Ferreira dos Santos e Maria Sulena da Purificação; dos avós maternos Manoel Pedro Lopes e Jacoza Vieira da Solidade; dos avós paternos Antônio Ferreira de Barros e Maria Francisca da Chaga, tendo como padrinhos Manoel Pedro Lopes e Maria José da Solidade. Consonante com o respectivo assento de batismo, podemos afirmar, categoricamente, que 4 de junho de 1898 é a data certa em que veio ao mundo o Rei do Cangaço.


Entre os diferentes nomes de famílias acrescentados ao nome de batismo de “Virgolino” inscritos em registros cartoriais de fé pública, arquivos da justiça de Pernambuco e em livros de renomados escritores são encontrados para este os sobrenomes: Ferreira, Ferreira da Silva, Ferreira de Lima, Ferreira de Souza, Lopes de Souza e Lopes de Oliveira. Levando em conta que o nome José Ferreira dos Santos figurado na certidão civil do nascimento de Virgolino como pai do mesmo e sendo expedida pelo Cartório que o registrou civilmente, este, deveria chamar-se legalmente de Virgolino Ferreira dos Santos e não Virgolino Fereira da Silva, Virgolino Lopes de Oliveira ou outro nome completo qualquer. Legalmente, Virgolino não possui sobrenome. É um fato, talvez inédito ou que não se tenha noticia, na historiografia brasileira. Em razão disso, até hoje continua uma incógnita a identidade verdadeira do bandoleiro mais famoso do Brasil.


Até a origem da alcunha “Lampião” é um enigma. Há mais de dez versões sobre esse título e não se sabe dizer corretamente qual a verdadeira nem como surgiu esse epíteto. Um outro fato enigmático na história do célebre cangaceiro foi a sua morte em 28 de julho de 1938, na gruta de Angico no município de Poço Redondo no estado de Sergipe. A maioria dos estudiosos do cangaço acreditam, piamente, que Lampião foi realmente assassinado na tão propalada gruta daquele municipio sergipano e outros tantos discordam dessa proposição. Pela visão enigmatista não há dúvida tratar-se de um grifo, isto é, coisa difícil de entender ou compreender como Virgolino um grande estrategista que venceu várias batalhas contra a Força Pública e, sendo ele, um magistral guerrilheiro das caatingas tenha sido abatido, facilmente, sem disparar um só tiro? Por que não existe atestado ou registro de óbito de Virgolino e nem processo do massacre de Angico, no fatídico dia de 28 de julho de 1938? Essas questões devem ser respondidas com provas documentais e não só com explicações verbalizadas. A meu ver o atestado de óbito do Rei do Cangaço emitido naquela época, esclareceria de uma vez por todas, esse mistério.

Fontes:

Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais. 6ª distrito de Tauapiranga – Serra Talhada-PE. Certidão de Nasciemnto de Virgolino.
Assento de registro civil de Virgolino no Cartório de Tauapiranga- Serra Talhada-PE.
Assento de Batismo de Virgolino na Capela de São Francisca, registro no livro nº 13 da Paróquia Bom Jesus dos Aflitos na cidade de Floresta-PE.
Lampião, Seu Tempo e Seu Reinado. Vol. 1. 2ª ed. Padre Frederico Bezerra Maciel.
“Lampião”. Memórias de um oficial ex-comandante de forças volantes. 3ª ed. Optato Gueiros.

Anexos:

Assento de nascimento de Virgolino no Cartório Civil de Tauapiranga – Serra Talhada/PE.
Assento de batismo de Virgolino na Paróquia Bom Jesus dos Aflitos em Floresta/PE.
Certidão de Nascimento de Virgolino expedida pelo Cartório Civil de Tauapiranga- Serra Talhada/PE.
Antonio Neto é pesquisador, biógrafo, dicionarista, escritor e poeta. Membro da Academia Serra-Talhadense de Letras, da Academia Recifense de Letras e da UBE.



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